Antihaddadismo é doença infantil do petismo

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem dado provas reiteradas de fidelidade a princípios caros ao presidente Lula, escreve Costa Pinto

Lula e Fernando Haddad
Lula e Fernando Haddad (Foto: Ricardo Stuckert)


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O episódio da reoneração tributária do preço dos combustíveis, instituindo uma diferença percentual entre combustíveis fósseis (gasolina, diesel) e aqueles extraídos de fontes renováveis (etanol), privilegiando os não-fósseis e conservando os compromissos ambientais do novo governo brasileiro, realçou o estilo Fernando Haddad de fazer política e influenciar a pauta brasileira. O ministro da Fazenda, uma vez mais, foi capaz de descalçar as meias sem tirar os sapatos. Algo semelhante já havia ocorrido quando da correta criação de tensão no debate em torno da inexplicavelmente alta taxa de juros básicos imposta pelo Banco Central e a composição – em busca de uma solução – arbitrada por ele entre o que deseja o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a tosca condução do BC por parte do bolsonarista Roberto Campos Neto.

Uma parte da militância do Partido dos Trabalhadores, alguns parlamentares da legenda, colegas de ministério de Haddad egressos da sigla ou de denominações partidárias mais à esquerda e até mesmo alguns analistas de canais da mídia digital independente se deixaram sequestrar por uma falsa divergência existente dentro da equipe do presidente Lula. Houve opinionista e polemista da mídia tradicional que chegou a antever até mesmo a saída de Fernando Haddad do Ministério da Fazenda porque seria contrariado “mais uma vez” (e, daí, contavam que já o fora em dois episódios... sem jamais explicar exatamente quais seriam). Na última sexta-feira o mercado financeiro e seus formadores de índices que fazem a Bolsa de Valores oscilar para cima ou para baixo, permitindo ganhos e perdas milionárias, foram dormir tisnados pelo suspense da volta da cobrança de impostos sobre os combustíveis. E foi daquela forma que começaram a semana, bamboleando qual linha de eletrocardiograma por toda a segunda-feira e impactando até mesmo a cotação de moedas estrangeiras como o dólar e o euro.

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Ao fim do dia, verificou-se que não havia nada na caixa de surpresas vendida pelos camelôs de opinião, a soldo do mercado financeiro. Dela não pulou nem uma cobra, de quem se esperaria uma mordida mortal nas cidadãs e cidadãos, nem escorpiões com suas caudas venenosas destinadas a trair até mesmo quem lhes estava a fazer o bem. O que emergiu, revelado pela fala compassada e técnica do ministro da Fazenda, foi o óbvio: o governo do presidente Lula tem um compromisso de instituir uma nova política de preços para os combustíveis no Brasil, pondo fim à paridade com os preços internacionais criada no período de Michel Temer e durante a vigência da cleptocracia golpista que se instalou no País na esteira do golpe de 2016, mas, isso não pode ser feito de uma vez e com menos de 60 dias de mandato. Ressalte-se: menos de dois meses de um governo que já venceu um golpe de Estado e viu serem consumidos duas semanas de gestão nas operações de debelar incêndios institucionais e restaurar a ordem democrática.

Além de reafirmar a determinação do chefe de Governo e chefe de Estado eleito em outubro passado, a solução dada pelo ministro da Fazenda ao tema “preço dos combustíveis” institucionalizou na Esplanada a agenda que já se confunde com a desse terceiro mandato de Lula: a irretratável busca de saídas que privilegiam e ressaltam a busca de saídas para o planeta a fim de mitigar a tragédia ambiental que o prognóstico trágico para o futuro. Fernando Haddad, advogado, economista e filósofo, tem um perfil muito acima da média dos antecessores que sentaram na cadeira onde hoje despacha o ministro da Fazenda. Ele está lá porque Lula, o chefe e líder que o escolheu, soube há mais de 20 anos identificar paulatinamente as qualidades de homem público com compromissos que Haddad insiste em exibir ao País a partir dos cargos públicos que já ocupou – sobretudo nas últimas semanas e enquanto se ambienta no cargo atual ao mesmo tempo em que desvia dos petardos saídos da Faria Lima, dos bunkers do bolsonarismo, de trincheiras aliadas e até mesmo de dentro do próprio PT.

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O ministro da Fazenda pôs duas mulheres para presidir os dois maiores bancos públicos de varejo. Tarciana Medeiros, do Banco do Brasil, e Rita Serrano, da Caixa Econômica Federal, representam o que há de melhor e mais representativo nas carreiras profissionais das duas instituições. Não estão lá por serem mulheres – mas, por terem sido competentes ao longo da biografia que construíram nas instituições financeiras. Dentro da equipe de Governo, convive com uma personalidade oposta à sua, a do ex-senador e presidente do BNDES, Aloízio Mercadante, que tem ideias próprias – e algumas muito boas! – para a economia brasileira. Houve quem traçasse um mapa do caminho para que os dois trombassem ainda durante a fase de transição, o que não ocorreu dado o alto grau de maturidade de ambos. Tendo Lula por elo, e o respeito que ele inspira tanto em Fernando Haddad quanto em Aloízio Mercadante, o convívio tem se revelado proveitoso para o Governo, descontadas as divergências (que, aliás, sempre tornam maior o resultado das ideias quando elas são convertidas em ações).

É insano ler, escutar ou entrar em debates à esquerda com pessoas que não enxergam a armadilha montada para Lula, para o governo dele e para Fernando Haddad a partir dos relatos de falsas trombadas épicas entre o ministro da Fazenda, o PT e parte da Esplanada dos Ministérios. Quem está arando este terreno, plantando as sementes da discórdia e regando os veios com desinformação e fofocas são os mesmos que, derrotados em 2002, 2006, 2010 e 2014, buscaram um atalho para voltar ao poder e à linha de frente da economia brasileira: os golpistas, açulados pelo mercado e ecoados por seus porta-vozes na mídia tradicional. Depois de tudo o que passou, depois de resistir às tentativas de devastação montadas em 2005 com a Ação Penal 470, do impeachment sem crime de responsabilidade em 2016, da eleição roubada (posto que distorcida por atos de Sérgio Moro e omissões do Poder Judiciário) de 2018 e dos quatro anos trágicos e incendiários de Bolsonaro no poder, nenhum petista deveria ser ingênuo a ponto de cair nesta doença infantil cujo vírus foi inoculado em Brasília, a do antihaddadismo.

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