América Latina hoje

A América Latina vive, neste século, o período mais importante da sua história

(Foto: Governo de SP)


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Lula estreou a política externa do seu terceiro mandato com a tradicional viagem à Argentina dos presidentes do PT. Reencontrou seu grande amigo Alberto Fernández e pôde encontrar-se com vários presidentes latino-americanos. Pôde ter uma certa ideia da América Latina com que seu mandato atual vai conviver.

A América Latina vive, neste século, o período mais importante da sua história. O século XX tinha sido o século mais importante da história latino-americana, especialmente sua segunda metade, que incluiu a Revolução Cubana, os movimentos guerrilheiros, os governos de Salvador Allende no Chile, o governo sandinista na Nicarágua - entre seus acontecimentos mais destacados.

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Desde a reação à recessão de 1929, o continente tinha vivido seu período econômico e politicamente mais importante, com a industrialização substitutiva de importações, a afirmação de Estados nacionais, de líderes nacionalistas – de que o Peron e o Getúlio foram suas expressões mais importantes.

A morte do Che e o golpe no Chile foram momentos de virada para retrocessos importantes. A primeira marcou o esgotamento dos projetos guerrilheiros. O segundo, o término dos projetos de reformas anti-capitalistas.

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A última década do século XX foi marcada pela chegada do neoliberalismo ao continente, que se estendeu por praticamente todos os países da região – à exceção de Cuba. Mas mesmo Cuba sofreu com a grande virada no mundo, com o fim da URSS e do campo socialista, deixando isolada a primeira revolução socialista na América Latina e no Ocidente. A derrota do sandinismo complementou esse quadro de esgotamento dos movimentos guerrilheiros e dos governos que ele tinha produzido.

A era neoliberal enfraqueceu os Estados nacionais, os movimentos nacionalistas e social-democratas. Alguns deles, na Argentina, no México, no Chile, na Venezuela, no Brasil, entre outros países, aderiram ao neoliberalismo, seguindo a social democracia europeia – inicialmente na França e na Espanha. 

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O período mais importante da história latino-americana se iniciou com a eleição do governo de Hugo Chávez na Venezuela, ainda no final do século passado, como primeiro governo de resistência ao neoliberalismo. Que teve sua continuação nas eleições do Lula, do Nestor Kirchner, do Tabaré Vázquez, do Evo Morales e do Rafael Correa. 

No seu conjunto, representou o movimento mais importante, em escala mundial, de resistência ao neoliberalismo. Um movimento caracterizado pela prioridade das políticas socais, ao invés da centralidade dos ajustes fiscais, típica do neoliberalismo. Pelo resgate do papel ativo do Estado, ao invés da centralidade do mercado. Pela integração regional e os intercâmbios Sul-Sul, ao invés dos Tratados de Livre Comércio com os Estados Unidos.

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Essa luta fez surgir o mais importante grupo de líderes populares latino-americanos, que se tornaram, também, os principais líderes da esquerda no mundo no século XXI.

Essa fase inicial dos governos antineoliberais ocupou a primeira década do século e parte da segunda. As derrotas eleitorais na Argentina, no Equador e no Uruguai, os golpes no Brasil e na Bolívia, marcaram o fim dessa primeira fase. 

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A segunda está marcada pelas eleições no México, em Honduras, no Chile e na Colômbia, que expandem o grupo de países antineoliberais. A eles se soma o retorno de governos com essas características na Bolívia, na Argentina e no Brasil. No mapa político do continente, a direita se concentra no Equador, no Uruguai e no Paraguai. 

Esta fase tem, na liderança do Lula, do Petro, do Lopez Obrador, uma de suas características mais marcantes. A proposta de criação de uma moeda comum sul-americana estende o processo de integração da esfera política à econômica.

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Porém, alguns países do continente vivem grandes dificuldades, mesmo com governos antineoliberais. A Argentina e o Chile são alguns deles. A situação econômica da Argentina é muito grave A inflação sem controle, a poucos meses das eleições e a posição de favoritismo das candidaturas de direita e de extrema direita, além da divisão peronismo projeta uma perspectiva possivel, hoje, de vitória da direita.

O governo de Boric está desgastado, antes mesmo de cumprir o primeiro ano de governo. Perdeu a consulta sobre a nova constituição, o que fez se esgotar o movimento nascido em 2019, que tinha desembocado na Assembleia Constituinte.

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Além deles, o Equador e o Uruguai têm dificuldades para retomar governos antineoliberais. 

As eleições presidenciais deste ano na Argentina, nesse marco, são decisivas para o futuro da América Latina. Se houver continuidade nos governos antineoliberais, o Brasil e a Argentina seguirão como líderes dos processos de integração latino-americana. Poderão avançar no processo de criação de uma moeda comum.

Senão, se abre uma situação nova na região e em todo o continente, em que a Argentina e o Brasil seguirão caminhos distintos. Uma situação nova, ainda não vivida pelo continente. A experiência de uma moeda comum também deixará de prosperar. 

 

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