América Latina: Golpismo e retomada democrática
"Ao lado do golpismo no Peru e Equador, o continente acompanha a escalada autoritária e ultraliberal dos governos de Bolsonaro no Brasil, na Colômbia de Duque, no Chile e Paraguai", escreve o colunista Milton Alves. "Ao mesmo tempo, na Argentina, no Uruguai e na Bolívia, o cenário é favorável para as forças democráticas e de esquerda"
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Nesta semana o velho fantasma do golpismo revisitou o continente: O presidente do Peru, Martín Vizcarra, dissolveu na última segunda-feira (30) o Congresso, dominado pela oposição, e apelou para o apoio das Forças Armadas. O país atravessa uma longa crise instititucional, que já teve como saldo a prisão de três ex-presidentes e o suícídio de um, o do ex-presidente Alan Garcia. A versão peruana da Lava Jato contribuiu para a desestabilização das instituições políticas do país.
No Equador, o governo de Lenin Moreno decretou um aumento de 100% nos preços dos combustíveis, o que causou a explosão do descontentamento popular, após quatro décadas da vigência de tarifas controladas, elevando os preços do galão americano de diesel (de US$ 1,03 a US$ 2,30) e da gasolina comum (de US$ 1,85 a US$ 2,40).
O presidente Lenin Moreno adotou a medida impopular no acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) para obter empréstimos devido ao colapso de sua economia dolarizada.
As manifestações populares continuam e na capital, Quito, o transporte público funciona precariamente, taxis e centros de ensino estão paralisados. A oposição pede a destituição de Moreno e a convocação de eleições gerais para pacificar o país.
Ao lado do golpismo no Peru e Equador, o continente acompanha a escalada autoritária e ultraliberal dos governos de Bolsonaro no Brasil, na Colômbia de Duque, no Chile e Paraguai. Governos que em graus variados apelam para adoção de medidas de restrições democráticas e antissociais. No caso da Colômbia, o governo de direita desmonta o acordo de paz formalizado com a antiga guerrilha das FARC, ameaçando o processo de pacificação iniciado pelo governo anterior.
Ao mesmo tempo, durante o mês de outubro ocorrerão eleições na Argentina, Uruguai, ambas em 27 de outubro, e na Bolívia. Nos três países, o cenário é favorável para as forças democráticas e de esquerda.
A fórmula peronista Alberto Fernández e Cristina Kirchner na Argentina aparece com amplo favoritismo eleitoral, depois do desastre da gestão neoliberal de Macri, com a explosão da pobreza, desemprego massivo, a queda do produto interno bruto, recessão econômica e a volta do controle da agenda fiscal pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
No Uruguai, a Frente Ampla (FA), coalizão de partidos de esquerda e centro-esquerda, lidera as diversas pesquisas que assinalam que a FA tem 39% por das preferências eleitorais, seguido de seu principal rival o Partido Nacional, com 26%.
O presidente da FA, Javier Miranda, considera que neste processo eleitoral estão em jogo dois projetos políticos: um conservador, neoliberal e reacionário encabeçado pela direita reacionária e a proposta progressista de desenvolvimento com igualdade e de solidariedade tendo como valor central a solidariedade e não o déficit fiscal – representada pela candidatura de Daniel Martínez da Frente Ampla.
Na Bolívia, as eleições gerais serão no dia 20 de outubro para a escolha do presidente e vice-presidente do Estado Plurinacional, 130 deputados e 36 senadores para o período governamental 2020-2025 e as preferências eleitorais apontam à reeleição de Evo Morales.
Uma enquete da empresa Viaciencia situa Morales na primeira posição com 43,2 por cento dos votos, diante de Carlos Mesa, de Comunidade Cidadã, na segunda posição com 21,3 por cento e do candidato da Bolívia Dice No (Diz Não), Oscar Ortiz, na terceira posição com 11,7 por cento.
Os 13 anos de governo Evo Morales (do Movimento ao Socialismo) garantiram uma ampla melhoria nas condições de vida dos bolivianos, com inclusão social, aumento da renda dos trabalhadores, crescimento econômico e inflação baixa. Um “case” de sucesso.
Já na Venezuela, o governo de Nicolás Maduro assegurou diálogo com um setor da oposição, isolando mais ainda líder golpista Juan Guaidó. Apesar do cerco político e do bloqueio econômico conduzido por Donald Trump, o governo bolivariano retomou a iniciativa política e tenta enfrentar a crise econômica, que castiga as massas venezuelanas. Maduro também fechou sólidas alianças políticas com a China e a Rússia.
A situção de Donald Trump, envolto em um processo de impeachment que ganha força, é também um fator com desdobramentos na disputa dos rumos políticos da America Latina.
Portanto, o mês de outubro pode confirmar o quadro de dualidade política ou apontar para o início de uma retomada democrática neste pedaço do mundo.
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