América do Sul vira espaço de disputa imperialista entre EUA e China-Rússia
As tensões entre potências adversárias têm tudo para criar, por aqui, novo Oriente Médio, palco de guerras de guerrilha, com ampla participação de exércitos mercenários, na luta pela riqueza do petróleo sul-americano
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Donald Trump manda seu secretário de estado Rex Tillerson dar o novo recado de Washington à América Latina: América do Sul tem que continuar sendo quintal de Tio Sam e não área de caça de investimentos dos chineses e russos, como está ocorrendo nesse início de século 21, especialmente, no Brasil, diante do sucateamento econômico neoliberal. China/Rússia e Estados Unidos tencionam suas relações no continente sul-americano, rico em petróleo, minerais, água, biodiversidade, agricultura com até três safras anuais etc. As tensões entre potências adversárias têm tudo para criar, por aqui, novo Oriente Médio, palco de guerras de guerrilha, com ampla participação de exércitos mercenários, na luta pela riqueza do petróleo sul-americano.
Giro imperial
Tillerson inicia giro latino-americano, começando por México, Colômbia e Jamaica. Sua predisposição é botar prá quebrar. Disse que a China é inimiga dos EUA, na exploração comercial, em terras sul-americanas. Alerta que, com os russos, os chineses ampliam sua influência na América do Sul, especialmente, na Venezuela, detentora das maiores reservas de petróleo do mundo. Tillerson revela sua impaciência com o governo de Nicolás Maduro, pregando, abertamente, sua derrubada. No país sul-americano onde se registrou maior número de eleições democráticas nos últimos vinte anos, o secretário norte-americano denuncia ditadura. Quer até que a Venezuela seja proibida de vender seu próprio petróleo. Claramente, os americanos querem o petróleo venezuelano para eles. Sairia a PDVSA, petroleira estatal venezuelana, e entraria, certamente, a Esso, a Shell etc em seu lugar, como começa acontecer, no Brasil, com exploração das reservas do pré sal. Essa estratégia de Tio Sam busca atrapalhar os planos de Maduro, de criar, com apoio da China e Rússia, nova moeda nacional, o Petro, tendo o petróleo como lastro. A cotação do Petro, pelo que informa Caracas, seria dada pelo valor do barril de petróleo ao preço diário. Como a Venezuela possui reservas fantásticas de ouro negro, o lastro da nova moeda venezuelana seria poderoso. Impedir que a Venezuela venda seu petróleo, significa que os Estados Unidos tentam matar, de saída, a moeda nacional bolivariana. Guerra política, econômica e monetária. Eis a nova face do imperialismo norte-americano para a América do Sul.
Dólar balança
No Brasil, certamente, a estratégia de privatização acelerada da Petrobrás visa idêntico objetivo: impedir que o Brasil tenha também moeda soberana lastreada na sua maior riqueza, o ouro negro do pré sal. A pressa de Trump-Tillerson em desnacionalizar o petróleo sul-americano tem por trás de si o receio de o dólar começar a perder importância internacional, de forma acelerada, quanto mais se firmarem moedas lastreadas em riquezas nacionais tangíveis. O lastro do dólar é intangível. Ele deixou de ter lastro real, desde que os Estados Unidos, em 1974, descolaram ele do ouro. Os déficits orçamentários americanos oriundos da guerra fria, guerra do Vietnan, expansão das bases americanas pelo mundo afora etc, abalaram, nos anos 1970, a solidez da moeda de Tio Sam. O descolamento do dólar do ouro levou os Estados Unidos à onda de desregulamentação geral dos mercados financeiros internacionais. A liquidez em dólar inundou o mundo a juro barato, a partir de 1974. Em 1979, Tio Sam, com medo de calotes, puxou a taxa de juro americana de 5% para 20%. Quebradeira geral dos tomadores de dólares. Os Estados Unidos impuseram arrochos fiscais e monetários sobre devedores, obrigando-os privatizarem seus ativos, vender seus bancos, sobrevalorizarem moedas periféricas, para ampliarem exportações, a fim de pagarem dívidas etc. Essa instabilidade, produzida pela desregulamentação e especulação financeira levaria o mundo ao crash de 2008. Dólares e derivativos de dólares sem lastro produziram recorrentes bolhas financeiras. A estratégia americana pós crash de ampliar ainda mais a base monetária dolarizada jogou taxas de juros no chão, para garantir sobrevivência dos empresários, das famílias e governo americano endividados. Tudo para salvar a banca especuladora. Por outro lado, aumentou desconfiança internacional relativamente ao dólar sem lastro seguro. Os ricos em petróleo, lastro real para moedas nacionais, como Rússia, Oriente Médio, América do Sul viraram os alvos preferenciais de Tio Sam, cujas reservas petrolíferas são insuficientes para sustentar o parque industrial norte-americano.
Neo imperialismo
A agressividade verbal explícita do secretário de estado americano no seu giro latino-americano dá o tom da nova política imperialista de Tio Sam. O Brasil, claro, ficou de fora do roteiro de Tillerson, porque o governo Temer, golpista, virou sujeira. Ficar perto dele provoca críticas e repúdios internos nos países em geral. Mas, o fato é que os Estados Unidos desejam, para a América do Sul, o status quo neoliberal conservador que se instalou no Brasil, embora seja democraticamente repulsivo. Eis a grande contradição. Os americanos pregam a democracia como valor universal a ser seguido pelos aliados, mas seu apoio aos governos neoliberais inviabiliza democracia, pois somente ficam em pé mediantes golpes. A resistência a Lula diz tudo. Democracia americana só vale, desde que não sejam eleitos os que Tio Sam chama de populistas: Lula, Maduro, Evo Morales, Cristina Kirchner, Rafael Correa não são democratas, mas populistas patrimonialistas. É a forma de os americanos ideologizarem a luta política considerando não o fato concreto da desigualdade social como maior problema da América do Sul, mas os populistas, eleitos democraticamente, por adotarem políticas de combate a essas desigualdades. Tillerson, na América Latina, sinaliza a negação democrática da pregação imperial americana.
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