Alianças em 2022 precisam estar além dos partidos

Nós, petistas, devemos ter a grandeza de deixar o Lula operar a política. Ele, mais do que ninguém, sabe como fazer isso

Alckmin e Lula
Alckmin e Lula (Foto: Stuckert)


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Tenho acompanhado com muita atenção a discussão sobre a possível candidatura do Geraldo Alckmin a vice do ex-presidente Lula na eleição deste ano. Creio que o momento político que estamos vivendo é muito parecido com o da virada da década de 70 para 80, quando, para derrotar a ditadura, fizemos as grandes greves do ABC. Nossa luta para superar o militarismo autoritário nos uniu a Ulysses Guimarães, Tancredo Neves, Mário Covas, Franco Montoro, Leonel Brizola e muitos intelectuais, religiosos e artistas. Todo mundo ficou junto porque sabíamos que derrotar a ditadura era fundamental. E que era preciso reconstruir a democracia no Brasil, a partir de todos que tivessem esse compromisso.

Foram essas forças unidas que conquistaram um sistema razoavelmente democrático no Brasil. Hoje, a situação é ainda mais grave, porque nossa luta é para derrotar o militarismo tosco, o total desmantelamento do Estado e um pré-fascismo terrível, que se expressa agora em algo que eu nunca tinha visto, que é a ação de grupos neonazistas se armando para fazer um enfrentamento violento no país. Isso não é pouca coisa.

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Até financiados por células estrangeiras, esses grupos estão sendo infiltrados nas polícias e em outros segmentos, trazendo à tona uma ameaça terrível. Além da destruição de todo o arcabouço que tivemos desde a década de 30, passando pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) na década de 40, pelos direitos conquistados nas lutas dos anos 80 e 90, estamos vendo tudo ser desmontado, reduzindo o direito dos trabalhadores a quase nada. 

Num processo de reconstrução, você só tem sucesso se tiver capacidade de unir todos que tenham compromisso com o estado democrático de direito. Fazemos aliança com pessoas que podem ter divergências, mas que tenham o mesmo objetivo que temos de derrotar o retrocesso.

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O momento, portanto, é de grandeza estratégica e tática. A possibilidade de  Geraldo Alckmin compor a chapa liderada por Lula expressa simbolicamente esse entendimento. Lula, que sempre valorizou o PT, está acima do partido e o Alckmin estará acima do partido ao qual venha a se filiar. Eles são lideranças suprapartidárias, que expressam perfeitamente esse momento de reconstrução. Se essa aliança vier a se confirmar, o caminho do diálogo democrático está pavimentado.

Eu fico triste quando vejo pessoas com responsabilidade, que teriam o dever de conhecer a realidade desse país, adotando gestos pequenos, dizendo que são contra uma aliança maior. Será que essas pessoas não percebem tudo o que foi feito nos últimos anos? Não viram que capturaram, sequestraram o poder nesse país e o entregaram para políticos da mais baixa estatura moral?  

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O poder está nas mãos de políticos como Ciro Nogueira, que até outro dia dizia-se “seguidor de Lula” e que ganhou votos para ser senador nas costas do Lula. Agora, ele pega o Orçamento da União, que é do povo, e usa para usufruto apenas do seu grupo. Para isso, volta-se contra Lula e ataca o Partido dos Trabalhadores. São gestos como esse que me deixam com mais certeza ainda da importância de firmarmos essa aliança.

Esse é o momento. Vai ser duro, vamos pegar o país destruído, temos de ter consciência disso. E o processo de reconstrução é muito mais doloroso do que a construção. Quer ver um exemplo? Você constrói uma casinha pequena num terreno vazio e todo mundo vê. Você faz uma reforma, uma obra bem maior, numa casa velha e quase ninguém vê. É mais ou menos o que acontece no Brasil: uma casa velha destruída que vai precisar ser reformada em todos os seus cômodos. 

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É importante que todos tenham a compreensão dessa reforma que precisa ser feita no Brasil. Passa pelo aceno feito pelo Lula aos trabalhadores sobre a necessidade de se revogar a reforma trabalhista. Mais que isso, precisamos explicar às pessoas que a reforma trabalhista, a reforma previdenciária ou qualquer outra só sofrerá alterações se o Congresso Nacional tiver deputados eleitos este ano que sejam comprometidos com os trabalhadores. Votar no Lula é importante, mas tão importante é escolher os parceiros do Lula no Congresso Nacional, os que vão ajudá-lo. 

Estou convicto de que o Brasil tem jeito. A solução, mais uma vez, é o Lula. Mas nós, petistas, devemos ter a grandeza de deixar o Lula operar a política. Ele, mais do que ninguém, sabe como fazer isso. Lembro ainda que quando fizemos aliança com o José Alencar para ser vice do Lula em 2002, na direção do partido ganhamos por um único voto essa aliança. E o Lula provou que estava certo por querer se unir ao Alencar. Pois bem: a situação hoje é mais dramática e mais grave do que a de 2002. E a aliança de hoje, com Alckmin, é mais importante também!

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