Aliança Planalto-Pacheco mostra que Lira não pode tudo - mas ainda pode muito

"O troco de Lira começa com a tentativa de formar outro bloco, ainda maior, com PP, União, PSDB, Cidadania, PSB e PDT", diz Helena Chagas

Luiz Inácio Lula da Silva, Rodrigo Pacheco e Arthur Lira
Luiz Inácio Lula da Silva, Rodrigo Pacheco e Arthur Lira (Foto: Reuters)


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Arthur Lira percebeu que o governo está comendo seu mingau pelas beiradas e está armando o troco. Ele não gostou da recente aproximação entre Lula e Rodrigo Pacheco, em meio à guerra em torno das MPs, e viu o dedo do Planalto na formação do bloco MDB- PSD-Republicanos-Podemos que rachou o Centrão.

Com 142 deputados, o bloco não é oficialmente governista, mas divide a legião até agora comandado por Lira. A principal motivação do Republicanos para sair da órbita do presidente da Câmara foi, segundo deputados, o açodamento de Lira nas articulações para sua sucessão, em 2025. Trabalha por Elmar Nascimento (União), o que escanteia antecipadamente outro postulante, o presidente dos Republicanos, Marcos Pereira.

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Mas a formação desse bloco, com os governistas PSD e MDB, acabou sendo um presente para o Planalto, porque ajuda a viabilizar o apoio da maioria da Casa. Lira sabe que houve incentivo do governo ao movimento depois que a disputa em torno das MPs passou a ameaçar a governabilidade, paralisando o Congresso. Entraram em cena então caciques ligados ao governo, como o próprio Pacheco (PSD), com quem Lira está se batendo, e seu arqui-inimigo Renan Calheiros, do MDB, junto com os dirigentes desses partidos, Gilberto Kassab e Baleia Rossi.

O troco de Lira começa com a tentativa de formar outro bloco, ainda maior, com PP, União, PSDB, Cidadania, PSB e PDT — 164 deputados, que seriam a principal força na Câmara para escolha de relatorias, comissões, etc. Difícil apostar, porém, que, com PDT e PSB, que indicaram ministros de Lula, sua atuação venha a ser oposicionista.

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Mesmo enfraquecido com a aliança entre o Planalto e seus adversários — Pacheco, avalia-se, jamais teria coragem de peitá-lo na questão das MPs sem apoio do Executivo — Lira quer mostrar que mantém poder de fogo bastante para atrapalhar a vida do governo. Preparou uma torta de climão, deixando no ar a sugestão de que a hora de degustá-la poderá ser a votação do arcabouço fiscal e dos projetos para aumentar a arrecadação que a Fazenda vai mandar ao Congresso. Medidas para acabar com desonerações, que já sofrem normalmente oposição no parlamento, não serão aprovadas sem o apoio do presidente da Câmara.

A possível escolha do deputado Claudio Cajado (BA) como relator da âncora fiscal seria outra sinalização de Lira. O deputado não é da ala do PP  simpática ao Planalto, mas sim um ex- vice líder de Bolsonaro, e sua designação foi discutida com o ex-ministro Ciro Nogueira, que faz oposição cerrada a Lula. Comenta-se ainda,  na bancada, que os deputados estariam com ideias de mudar a proposta do governo. Discutem, por exemplo, impor sanções ao presidente da República e ao ministro da Fazenda quando não cumprirem a meta de superávit.

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No resumo da ópera, os movimentos das últimas semanas mostraram a Arthur Lira que, talvez diferentemente do que pensava, ele não pode tudo. E deram ao Planalto coragem para tentar esvaziá-lo — parcialmente e com muita  cautela, porque todo mundo sabe que ele ainda pode muito.

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