Alguns fios da teia recente

Sérgio Moro
Sérgio Moro (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

Em 11 de abril de 2018 o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP) demonstrou muita pressa para aparecer na grande imprensa brasileira a fim de manifestar a sentença oficial dos golpistas de 2016, do qual foi um dos mentores e articuladores, para quem “a justiça se cumpriu” com a prisão do presidente Lula. FHC completou ainda sua apressada exposição afirmando não considerar o presidente Lula um preso político porque “a Justiça do Brasil é livre e todos os formalismos foram cumpridos”. Ou seja, hipocritamente, defensor do formalismo condenatório punitivista em detrimento da análise do conteúdo substantivo do processo e do amplo direito de defesa, numa típica atitude política de “lawfare”.

FHC jamais imaginaria que passados meses dessa sua declaração vaidosa, movida pela inveja contra o presidente Lula, o site Intercept iria realizar um magnífico trabalho jornalístico investigativo sobre a podridão da dita operação Lava Jato, investigação da qual a imprensa oficial brasileira covardemente se esquivou de fazer, divulgando os bastidores nefastos das articulações e conluios que levaram à prisão política e criminosa do presidente Lula, além de expor as relações dos projetos de poder de Moro, mais conhecido nos submundo jurídico como Russo.

continua após o anúncio

Vale recordar, em 13 de dezembro de 1995 a Folha de São Paulo publicava que Fernando Henrique Cardoso, então presidente da República, havia cobrado um desfecho rápido para a crise deflagrada pelo vazamento da “Pasta cor-de-rosa” que continha registros de doações ilegais do Banco Econômico para políticos da base de sustentação do governo FHC. O caso ficou famoso pelo nome PASTA ROSA.Outro fato de altíssima gravidade do governo FHC foi a assim chamada FARRA DO PROER (Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Sistema Financeiro Nacional). Imaginemos que sete dos maiores bancos privados do País estão literalmente quebrados. Diante disso, FHC decide injetar dinheiro público – muito dinheiro público – nessas instituições financeiras para evitar suas falências. Ao mesmo tempo em que coloca o dinheiro público nos bancos privados, o governo de FHC toma o controle dessas instituições para si e as divide em duas partes. A parte boa, com ativos, é colocada à venda para outros bancos. A parte ruim é absolvida pelo povo brasileiro. Este foi o PROER de FHC, o maior presente já dado a banqueiros por um presidente brasileiro por meio do dinheiro público. Um dos socorridos foi o Banco Nacional, da família golpista de 1964, Magalhães Pinto, a qual tinha como agregado um dos filhos de FHC. Para economistas da Cepal, os gastos chegaram a 12,3% do PIB brasileiro, cerca de R$112 bilhões, em valores da época.Para finalizar, ficando apenas em três casos de indícios de ilícitos, houve o Caso Sivam. No início do governo FHC surgiram fortes denúncias de tráfico de influência e corrupção no contrato de execução do Sistema de Vigilância e Proteção da Amazônia (Sivam/Sipam). Na época FHC bloqueou a realização de CPI sobre o assunto. Esses como muitos outros casos fizeram com que um dos assessores mais próximos de FHC chegasse a expressar que eles estavam “no limite da irresponsabilidade”.Por fim, recorde-se que para a sua indecorosa reeleição, FHC rejeitou a proposta de plebiscito, afirmando que seria algo antidemocrático, quem teria que resolver era o Parlamento. Na Suíça, por exemplo, já foram realizadas cerca de 450 consultas populares nos últimos 130 anos, e nem por isso a Suíça é acusada de ser antidemocrática. A eleição de 1998 foi a primeira eleição em que um presidente no cargo se candidatava a sua própria reeleição, numa mudança constitucional que deveria ter sido válida apenas para o mandato seguinte e não para usufruto de FHC. Anote-se que uma das ações fundamentais de Fernando Henrique para garantir a reeleição foi trabalhar arduamente para Michel Temer (MDB) ser o presidente da Câmara Federal. Por que será? Indícios mostraram que a reeleição foi comprada “a preço de muito ouro”.Quando iniciaram as primeiras revelações trazidas pelo jornalismo investigativo de Glenn Greenwald, FHC foi o primeiro a manifestar-se publicamente dizendo que era “tempestade em copo d’água”. Estaria com medo? Depois, novas reportagens foram publicadas as quais comprometem a pessoa de FHC. Nesse momento, Sérgio Moro advertiu Dallagnol sobre se era “conveniente” investigar FHC  no âmbito da Lava Jato. Disse Moro: “Tem alguma coisa mesmo séria do FHC? O que vi na TV pareceu muito fraco?”. O procurador argumentou que investigar a todos reforçaria a ideia da imparcialidade da força-tarefa. Então Moro retrucou: “Ah, não sei. Acho questionável, pois melindra alguém cujo apoio é importante”.FHC se pronunciou mais uma vez: “Mesmo que Moro tenha se excedido, não creio que o Supremo anule por causa disso”. Para FHC, quando é para consolidar o Golpe mentalizado por ele e seus comparsas não vale a prática da justiça – “In dubio pro reo”  – mas a determinação de ferir de forma tirânica até o fim o seu opositor. É assim que se comportam os invejosos. Como lembra o poeta latino Ovídio, “a inveja habita no fundo de um vale onde jamais se vê o sol”.  Não há ódio mais implacável do que a inveja. O invejoso chora mais o bem alheio do que o próprio dano. Ou como certa vez arrematou o compositor Tom Jobim, “sucesso no Brasil é ofensa pessoal”.

Contudo, à época, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), já havia se manifestado que a FRAUDE cometida por Moro levaria à anulação do processo contra Lula. E foi o que ocorreu, o Supremo julgou e declarou Moro como um juiz suspeito e parcial – corrupto – demonstrando cabalmente que os processos e as condenações contra o presidente Lula faziam parte do script do Golpe, cuja Operação Lava Jato, santificada pelas publicações da Rede Globo e comandada por Moro, conforme ele mesmo declarou em recente entrevista, foi nada mais nada menos do que o braço jurídico-midiático da realização da tática golpista, viabilizando a chega de Bolsonaro ao poder.

continua após o anúncio

No dia 28/01, o Brasil tomou conhecimento de mais um dos fios que tecem essa teia oculta das relações golpistas. Documentos do Tribunal de Contas da União (TCU), em posse do ministro Bruno Dantas, revelam que o escritório estadunidense Alvarez & Marsal recebeu R$65 milhões de empresas investigadas na operação Lava Jato, comandada por Sérgio Moro. Este montante milionário representam 77,6% dos recebimentos do escritório no Brasil.Por que estes dados são importantes? Porque Moro, depois de ser ministro da Justiça de Bolsonaro, ao demitir-se, foi trabalhar, como diretor, justamente na Alvarez & Marsal, que atua na recuperação judicial de empresas penalizadas na operação Lava Jato, coincidentemente comandada por Moro quando era juiz em Curitiba – PR. Nesta função, Moro declarou ter recebido o salário mensal de R$241.900,00 (duzentos e quarenta e um mil e novecentos reais), além de um bônus de US$150 mil (cento e cinquenta mil dólares) que representam R$806 mil reais (oitocentos e seis mil reais), pela sua contratação. No total, portanto, Moro embolsou a quantia milionária de R$3.500.000,00 (três milhões e quinhentos mil reais), no breve tempo enquanto esteve como diretor.Tais evidências apontam para a prática de “revolving door”, ou seja, porta giratória, quando um servidor público migra para o setor privado, na mesma área onde atuava anteriormente, levando consigo uma série de benefícios a ser disponibilizados para a empresa na qual atuará, como, por exemplo, informações privilegiadas. Como comandante da operação Lava Jato, Moro tinha acesso a tudo porque homologava os acordos de leniência, as colaborações premiadas etc., como bem demonstraram as denúncias feitas pela Vaza Jato e pela Operação Spoofing. Ele foi o juiz que determinou a condenação da Odebrecht. Ele estava a par de tudo, de todas as situações, levando para a Alvarez & Marsal informações privilegiadíssimas, denotando indícios de tráfico de influência e corrupção passiva.

Causa espanto a justiça brasileira ainda não ter aberto nenhum processo contra Moro. Mesmo com todas as provas de sua atuação parcial e corrupta enquanto juiz comandante da Lava Jato, decretado pelo STF, com as consequências maléficas acarretadas para economia nacional, com a perda de 4,4 milhões de postos de trabalho, além de ter aberto a porteira para a chegada ao poder do fascismo bolsonarista, e agora com essas graves denúncias contra si, ele ainda ter a cara de pau de apresentar-se como alternativa política para o País. Até onde vai essa teia com seus fios?

continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247