Alckmin gira à esquerda. Dá pra acreditar?

Mauro Lopes escreve sobre o giro de Alckmin e a relação do ex-governador com Lula. E sobre amizades e mudanças na política

(Foto: REUTERS/Adriano Machado)


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Por Mauro Lopes

O ex-governador Geraldo Alckmin, nesta altura do campeonato virtual companheiro de chapa do ex-presidente Lula, reuniu-se nesta quinta-feira (17) com com 32 sindicalistas na sede da União Geral dos Trabalhadores, a UGT, em São Paulo.

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O encontro serviu para ele produzir suas declarações mais enfáticas de adesão a Lula e indicar que está realizando um giro à esquerda. 

Afirmou que Lula é o timoneiro do país: “Lula é uma personalidade experiente, que conhece todos os problemas do Brasil e que tem condições de tocar o barco”.

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Falou sobre a urgência de fortalecer a democracia no país e da necessidade crucial de reconstruir a economia arrasada pelo governo Bolsonaro, temas centrais que Lula tem repetido a cada entrevista e discurso.

Apoiou a taxação das grandes fortunas, uma antiga bandeira da esquerda e dos movimentos sociais e alinhou-se à decisão de Lula de Lula de revisar a reforma trabalhista de Temer, aprofundada no governo Bolsonaro, que gerou desemprego sem precedentes e uma brutal transferência de renda das trabalhadoras e trabalhadores para o empresariado.

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Uma frase significativa de Alckmin, também alinhada com seguidas afirmações de Lula, foi sobre a convergência de ambos:  "na política não existem inimigos, mas adversários. O adversário de ontem pode ser o seu parceiro de amanhã".

Será que dá pra acreditar nessa conversão de Alckmin? Vamos por partes.

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Uma primeira questão é essa de adversários e não inimigos na política. Essa é uma questão que nós, “mortais comuns”, devíamos aprender com a política parlamentar.

Lembro-me que, na cobertura da Constituinte de 1987-88, que realizei pela Folha de S.Paulo, ainda muito jovem, a questão relacional entre os políticos em Brasília foi muito impactante.

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Os deputados e/ou senadores atacavam-se da tribuna, faziam críticas uns aos outros por vezes furibundas e, quando desciam do palco, abraçavam-se como amigos. Uma amizade marcante no Congresso era a que unia José Genoino ao mais importante líder da direita na Constituinte, o deputado-fazendeiro Roberto Cardoso Alves. Ele é o fundador do Centrão, que surgiu durante os trabalhos constituintes e, se ainda estivesse vivo, provavelmente teria se alinhado à extrema direita.

Mas eram Genoino e Cardoso Alves, amigos. Uso ainda o exemplo de Genoino, que mantém amizade com Gilmar Mendes, assim como Lula, amigo do ministro do STF há anos.  

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Lula, inclusive, já registrou publicamente que teve ao longo dos anos uma “extraordinária relação” com Alckmin, apesar de estarem em campos opostos a maior parte do tempo.

A ideia de que adversários políticos são inimigos pessoais povoa o imaginário de muita gente. Mas não é verdadeira, ao menos para quem faz política com generosidade de humanidade. 

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Por isso, dá para acreditar na frase de Alckmin sobre adversários que não se tornam inimigos. Quem dera as pessoas pudessem levar esta sabedoria para suas vidas cotidianas e milhares de famílias estilhaçadas pelas disputas políticas dos últimos anos poderiam conviver, apesar das diferenças.

E quanto às novas posições de Alckmin e seu aparente giro à esquerda?

Lula tem dito que é preciso olhar para o presente-futuro de Alckmin, e não ficar amarrado a seu passado como uma sentença de condenação. 

As pessoas mudam, sabemos disso. A política está recheada de histórias assim.

Dom Helder Câmara namorou os “camisas verdes” (os fascistas brasileiros liderados por Plínio Salgado) e se tornou um símbolo da luta progressista no país. Teotônio Vilela foi um radical defensor do golpe de 1964 e tornou-se o Menestrel das Alagoas e líder da luta contra a ditadura. 

Há também conversões à direita, como o guru da extrema direita, Olavo de Carvalho, que dizia ter sido filiado ao PCB na juventude. Ou o jornalista Reinaldo Azevedo, um trotskista da Libelu que se tornaria anos depois o inventor do termo “petralha”, em sua sanha contra os governos do PT -agora, está mais sereno e se diz um liberal. 

Sim, as pessoas mudam. E as circunstâncias mudam e empurram as pessoas a novas posições.

O país vive sob um governo de extrema direita, que exterminou a direita tradicional (lugar que Alckmin ocupou por anos, sendo antes disso, discípulo de Mário Covas, um social-democrata moderado). A democracia corre riscos e vive entre um sobressalto e outro. O líder da luta pela volta do país à democracia e reconstrução de sua economia e das políticas sociais do Estado é Lula -o líder inconteste. Alckmin parece ter entendido isso.

Creio que dá pra acreditar. Lula acredita.

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