Alckmin e o debate sobre o papel da indústria

O Brasil carece de uma política de desenvolvimento produtivo e tecnológico, mais que uma simples política industrial

O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e o presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, durante solenidade de investidura no cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), no Palácio do Planalto.
O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, e o presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, durante solenidade de investidura no cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), no Palácio do Planalto. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)


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O vice-presidente Geraldo Alckmin assumiu o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio enfatizando a necessidade - e a urgência - de o Brasil reindustrializar-se. Preocupação correta. Nossa indústria já foi pujante e até apontava para um futuro em que não seríamos mais meros exportadores de matéria-prima. Decaímos, como mostram todos os indicadores.

Economistas neoliberais não dão muita bola para o grau de participação da indústria na economia. Samuel Pessôa é um deles. A este colunista, disse Pessôa em 2018: “Isso (a desindustrialização) que está ocorrendo é por força de mercado, ou seja, empresários, a partir do que eles observam no horizonte, tomam decisões e o resultado dessas decisões é essa trajetória de redução da participação da indústria no PIB. Ora, se essa é uma resposta natural do sistema econômico, eu não consigo ver nenhum problema”.

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O problema é que questões ligadas ao crescimento mais lento da produtividade do trabalho ligam-se intrinsecamente a uma economia exclusivamente de serviços. Talvez a solução não seja tornar o desenvolvimento da indústria um fim em si mesmo, partindo-se da ideia de que devamos desvalorizar o real para competir com o resto do mundo. Também não devamos dar incentivos a torto e a direito, desonerando setores.

A ideia de que o Brasil deve mimetizar o que fizeram os asiáticos no passado pode implicar uma redistribuição da renda contrária aos trabalhadores. Não se pode matar o mercado interno em nome de um desenvolvimento industrial visando exclusivamente à competividade externa.

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O Brasil é um país continental em que as exportações são uma parcela muito pequena da nossa economia. Naquele mesmo 2018, em contraponto a Pessôa, a economista Laura Carvalho disse ao colunista que o país deve adotar estratégia de crescimento baseada no mercado interno. Estas foram as palavras dela: “Quando você fez investimentos públicos em infraestrutura, saneamento, mobilidade urbana, complexo da saúde, tecnologia verde, enfim, esses investimentos podem puxar consigo o desenvolvimento de setores tanto de serviços de alta tecnologia quando de indústria. Assim você estará desenhando uma política para melhorar serviços e bens públicos – esse é o objetivo final”.

Portanto, não se deve desenhar uma política para privilegiar setores de uma indústria que se desenvolveu no Pós-Guerra e durante a ditadura militar, e que hoje não terá mais condições de competir externamente e nem de prover o mercado interno. O Brasil carece de uma política de desenvolvimento produtivo e tecnológico, mais que uma simples política industrial.

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