Ajudem Dilma a ajudar o Brasil
Os mesmos grupos políticos de esquerda que geraram o boliche ministerial em 2011, que convulsionaram o país em 2013, que transformaram a Copa do Mundo em um desastre político em 2014, agora ensaiam novas ações em 2015 que podem no limite custar o mandato
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Há uma diferença fundamental entre os interesses do povo e os dos operadores políticos, tais como os partidos ou os controladores dos grandes meios de comunicação. Essa confusão que a sociedade faz a leva, muitas vezes, a confundir seus interesses com os interesses dos que não são tão afetados – ou que não são afetados tão facilmente – pelas condições gerais do país.
De meados de 2013 para cá, a disputa política alcançou um nível de radicalização que está literalmente afundando o país – e, o que é pior, com a complacência e até com o estímulo da sociedade civil, ou de grande parte dela.
Fosse o Brasil um país menos rico e pujante, diante da quantidade de sabotagens que tem sofrido por parte de grupos políticos, a esta hora certamente estaríamos amargando uma depressão econômica de proporções cataclísmicas. Boa parte dessa resistência da economia à sabotagem política, porém, deve-se à capacidade da presidente Dilma Rousseff de manobrar em meio ao caos.
Comparo o Brasil de hoje com alguém que sofre de uma grave moléstia. Talvez uma tuberculose, que tem cura mas pode matar se o paciente não for preservado de condições adversas e não receber o tratamento adequado.
Este texto irá mostrar que o paciente, em vez de ser mantido em condições adequadas, está sendo submetido a um verdadeiro corredor polonês.
A partir de setembro de 2008, o mundo ingressou em uma gravíssima crise econômica internacional, considerada por quase todos os mais eminentes analistas e estudiosos econômicos como a maior desde a Grande Depressão de 1929. Essa foi a primeira etapa de uma crise que, seis anos depois, ainda se faz sentir pelo mundo.
Em um primeiro momento daquele 2008, o país sentiu os efeitos do verdadeiro pânico mundial que se instalou a partir da quebra do banco dos irmãos Lehman, nos EUA. Poderia ter sentido menos, no entanto, se, internamente, não tivesse sofrido uma sabotagem.
Estávamos à porta de um ano pré-eleitoral (2009). Focando a sucessão de Lula em 2010, a mídia tratou de inflar a crise por aqui, com vistas a fazer a economia piorar para que o país chegasse até lá em recessão, facilitando a vitória de José Serra, então visto como o grande nome da direita para reverter o processo de distribuição de renda em curso no país desde 2003.
Assim como hoje, a tática adotada pela mídia conservadora no primeiro momento da crise foi espalhar o pânico, de modo a fazer com que os empresários não apenas paralisassem investimentos como, também, passassem a demitir, o que, por certo, colocaria o povo contra Lula. Assim, entre outubro de 2008 e fevereiro de 2009, houve uma grande onda de demissões no país. Mais de OITOCENTOS MIL empregos foram exterminados naquele período sob um fenômeno que já entrou para os anais da história: as “demissões preventivas”.
Este blogueiro, que também atua no setor de comércio exterior como trader (vendedor internacional) autônomo, presenciou in loco esse fenômeno das “demissões preventivas”. Uma das indústrias que representava demitiu 20% dos seus 200 empregados como meio de se “prevenir” contra a crise que estava chegando.
Ao saber daquilo, conversei com o proprietário da empresa – ainda que, como autônomo, a medida draconiana da empresa não me afetasse diretamente. Perguntei a ele se havia razão concreta para uma medida tão draconiana. Descobri, então, o que significava a expressão “demissão preventiva”.
Estupefato, fiquei sabendo que a empresa continuava faturando praticamente a mesma coisa e que quase um quarto dos funcionários fora demitido a um mês do Natal por temor do que a mídia anunciava. Quarenta pais de família foram demitidos porque o dono da empresa leu no jornal que havia que “se adequar aos novos tempos que viriam”.
Cerca de cinco meses depois, lá por abril de 2009, a empresa começou a tentar trazer de volta os demitidos, ainda que muitos já tivessem conseguido novo emprego. Ao fim, o custo daquele empresário com as demissões foi maior do que o custo com os salários que teria pago se não tivesse demitido.
A partir daquele final de 2008, Lula fez o que restava ao governo fazer para impedir um cataclismo social: usou os investimentos públicos para reaquecer a economia. O BNDES e os demais bancos públicos aumentaram exponencialmente os empréstimos, elevando a taxa de concessão de crédito e impedindo a economia de afundar. E programas imensos de obras públicas, como o PAC, foram implantados.
Eis que o Brasil chega a 2010 com um nível de crescimento chinês (quase 8%). Lula faz a sucessora até com certa facilidade e José Serra sai da campanha eleitoral desmoralizado, pois estivera entre os arautos do desastre anunciado, prevendo que o Brasil iria ao inferno por conta de uma crise que ainda demoraria alguns anos para se fazer sentir de verdade no país.
A crise mundial de 2008 teve como motor, basicamente, a retração dos investimentos e do comércio internacional dos países ricos, ou seja, dos Estados Unidos e da Europa. Porém, como o comércio exterior representa cerca de um décimo do Produto Interno Bruto brasileiro, a forte redução do comércio internacional pouco nos afetou, pois a redução da atividade econômica internacional foi compensada pelo nosso gigantesco mercado interno.
Ironicamente, este blogueiro, apesar de apoiar os governos do PT desde a primeira hora (2003), foi muito mais afetado pela crise internacional do que a quase totalidade dos brasileiros, pois se dedicava – como continua se dedicando – ao comércio exterior.
Eis que chega o primeiro ano do primeiro governo Dilma. A presidente chega ao poder com um país economicamente arrumado, com a economia em ritmo forte. Porém, Dilma sofria de um erro de avaliação. Estava convencida de que a guerra com a mídia que permeou a maior parte dos dois governos Lula, poderia acabar com alguns gestos de boa vontade.
Triste engano do qual ela só se daria conta plenamente a partir do junho negro de 2013.
Voltando à história, em 2011 o ministério recém-montado por Dilma foi sendo desmontado pela mídia. A partir da queda do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, por conta de ter comprado um imóvel caro – ainda que não houvesse qualquer irregularidade –, assim como este Blog vaticinou à época que ocorreria se a presidente cedesse aos pedidos da cabeça dele, os demais ministros foram caindo um a um.
A progressiva destruição do ministério só foi interrompida quando chegou ao então ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, amigo íntimo de Dilma.
Uma dessas demissões de ministros em 2011, porém, entrou para a história como uma das maiores injustiças que se viu na política brasileira. O comunista Orlando Silva, ministro do Esporte, foi demitido pelas acusações de um bandido. Porém, nada nunca se comprovou contra ele. Mas ficou por isso mesmo.
O pior é que, assim como hoje, o estopim da primeira crise do governo Dilma (2011) foi aceso pelos mesmos setores da esquerda – inclusive do PT – que agora tratam de torpedear o ministério recém-anunciado por Dilma.
Esses setores não gostavam do perfil do petista Palocci. Atribuíam a ele políticas “neoliberais” do governo Lula que nunca foram de Palocci, mas do próprio Lula, conforme ele me relatou em encontro que tivemos em junho deste ano, quando também revelou que o imóvel que derrubou Palocci não passava de um apartamento de classe média alta num bairro nobre, apesar de ter sido pintado como “uma mansão”.
Enfim, apesar de Dilma ter interrompido o boliche midiático de ministros de 2011, a mídia se conformou temporariamente e 2012 foi um ano tranquilo, politicamente, ao menos até agosto, quando teria início o julgamento do mensalão.
O interlúdio do bombardeio político-midiático ocorreu apenas porque os que bombardeavam contavam com os efeitos políticos do julgamento do mensalão. No entanto, esses efeitos só começariam a se fazer sentir alguns meses depois do fim daquele processo no STF.
Em junho de 2013, eclodem as famigeradas “jornadas de junho”, um processo que congregou a ultraesquerda e a ultradireita, que marcharam lado a lado brandindo as condenações do julgamento do mensalão, tachando o PT de “partido da corrupção”, chegando ao cúmulo de expulsarem petistas de manifestações aos socos e pontapés.
Em míseros 30 dias, a popularidade de Dilma caiu quase pela metade. Na primeira semana de junho de 2013, a gestão dela era considerada boa ou ótima por 57% dos brasileiros. Três semanas depois, apenas 30% aprovavam seu governo. Nunca se viu fenômeno igual na história recente.
Devido à convulsão social que tomou conta do país a partir de um movimento desencadeado pela ultraesquerda sob uma desculpa esfarrapada – um aumento de míseros 20 centavos no preço das passagens de ônibus em São Paulo –, alguns governantes de direita sentiram um pouco desse efeito político negativo, mas logo se recuperaram porque aquele movimento visava, basicamente, desmoralizar o governo Dilma e o PT.
Alckmin, que ajudou a inflar aquela crise pondo a sua polícia para espancar manifestantes, reelegeu-se neste ano, em primeiro turno, com votação recorde. Enquanto isso, Dilma quase perdeu a eleição, o que mostra que foi a principal vítima das jornadas de junho, apoiadas pelos mesmos que apoiaram a derrubada de Palocci em 2011, o que fez Dilma perder o seu primeiro ano com o boliche ministerial.
Em 2014, ano de Copa do Mundo, os grupos de esquerda e ultraesquerda que, aliados até a neonazistas em junho de 2013, ajudaram a desestabilizar Dilma politicamente, voltaram à carga com o movimento “Não Vai Ter Copa”. Eis que o Brasil chega à competição desanimado, prevendo desastre na organização do evento, mas vitória em campo.
Ocorreu o contrário. A organização do evento foi um êxito total, mas, em campo, a Seleção jogou como se estivesse em campo adversário e sofreu uma derrota acachapante. Muitos acreditam – eu entre eles – que o clima político interferiu no psicológico dos jogadores.
A derrota em campo na Copa ofuscou a vitória fora de campo, na organização. Eis que os brasileiros chegam à eleição presidencial mal-humorados contra Dilma, que, por pouco, não foi derrotada, o que só não ocorreu porque aquele que poderia vencê-la é tão ruim que assustou a maioria dos brasileiros com propostas que deixaram claro que promoveria uma grande recessão, com demissões em massa e arrocho salarial.
Esse flashback histórico que você acaba de ler serviu como pano de fundo para a gestão da economia ao longo dos quatro anos que se completarão no próximo dia 1º de janeiro.
A pergunta que se faz, portanto, é sobre como Dilma conseguiu manter o desemprego em queda e os salários em alta diante de uma hecatombe política dessa magnitude. Quantos países resistiriam a uma sabotagem como essa?
Apesar de Dilma ter preservado a qualidade de vida do povo, o crescimento despencou. Porém, não despencou a ponto de virar recessão, como seria natural em uma situação de quase guerra civil que o país vem vivendo desde meados de 2013.
O terrorismo econômico da mídia já dura mais de seis anos inibindo investimentos. Nos primeiros dois anos, não teve sucesso. Mas, a partir do fim de 2012, esse terrorismo conseguiu praticamente paralisar a economia, que só não parou completamente porque Dilma vem tocando programas gigantescos de obras de infraestrutura.
Contudo, cumpre-me vaticinar que os elementos que vêm minando o governo Dilma desde 2011 já começam a produzir os efeitos pretendidos por seus autores. Já são 6 anos de bombardeio econômico e 12 anos de bombardeio político ininterruptos. E, o que é pior, um bombardeio que parte da direita, mas que também parte da esquerda, ou de setores da esquerda.
Os mesmos grupos políticos de esquerda que geraram o boliche ministerial em 2011, que convulsionaram o país em 2013, que transformaram a Copa do Mundo em um desastre político em 2014, agora ensaiam novas ações em 2015 que podem, no limite, custar o mandato de Dilma e a ascensão de um governo que, ironicamente, irá penalizar muito mais os setores da esquerda que tanto têm colaborado com a direita.
Concluo este arrazoado, pois, com um apelo aos setores da esquerda que até podem achar que estão no caminho certo, mas que, em verdade, estão causando um mal terrível ao país: deixem a presidente Dilma respirar. Parem de colaborar com essa direita fascista, racista, que, na verdade, quer acabar com setor da esquerda que tanto a tem ajudado.
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