AI-5 continua vivo

"O Brasil, ao contrário de outros países da América do Sul que também passaram por ditaduras militares, nunca conseguiu encerrar realmente o ciclo político do autoritarismo militar", disse o colunista Marcelo Zero, destacando que o Ato /institucional nº 5, decretado durante a ditadura militar, continua vivo.

AI-5 continua vivo
AI-5 continua vivo


✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.

O Brasil, ao contrário de outros países da América do Sul que também passaram por ditaduras militares, nunca conseguiu encerrar realmente o ciclo político do autoritarismo militar.

Para tanto, teria sido necessário que os culpados por crimes hediondos, como o de tortura, sequestro, assassinato, etc. tivessem sido responsabilizados por seus atos, e julgados com o amplo direito à defesa que eles negaram às suas vítimas.

Dessa forma, o país poderia ter “passado a limpo” o seu passado de crimes e crueldades. A população teria tomado consciência da terrível realidade de se viver numa ditadura.

continua após o anúncio

A lei assimétrica da Anistia pode ter facilitado uma transição indolor para o período democrático posterior, mas manteve aberta a ferida dos crimes cometidos, ocultou, da consciência nacional e da justiça, a necessidade de uma ampla reparação histórica e impossibilitou de encerrar, de forma definitiva, o ciclo político da ditadura.

Assim sendo, o ano de 1964 e, especialmente, o ano de 1968, o ano do AI-5, ainda não se encerraram de modo irreversível.

continua após o anúncio

É isso que explica, em alguma medida, o surgimento desse neofascismo brasileiro com tintes militaristas. É isso que explica esse inexplicável saudosismo da ditadura militar. É isso que explica, em parte, que um deputado do baixo clero que faz elogios reiterados à tortura, aos sequestros, aos assassinatos e à ditadura militar possa ser tão popular a ponto de chegar à presidência da república.

Em outros países do mundo, mesmo em alguns da América do Sul, uma pessoa com esse perfil despertaria amplo desprezo. Nos EUA, um indivíduo que defendesse torturas e ditaduras não seria eleito nem para síndico de prédio da Ku Klux Kan. Na Europa Ocidental, provavelmente estaria preso.

continua após o anúncio

Essas características singulares do processo histórico brasileiro também explicam, ao menos em parte, a fragilidade da nossa democracia, duramente atingida pelo golpe de 2016, que desfez o pacto político-social plasmado na Constituição de 1988. Da mesma forma, permitem compreender a atual e óbvia tutela do poder militar sobre o poder civil.

Ocorre no Brasil, no plano coletivo, o que Freud analisava no plano individual: o retorno do oprimido.

continua após o anúncio

Aquilo que é reprimido fora da consciência, acaba retornando e ressurgindo, de forma modificada e distorcida.

Nesse sentido, o neofascismo militarista brasileiro é o retorno, de forma distorcida, de uma ditadura cujo ciclo histórico nunca foi encerrado, de modo pleno e definitivo.

continua após o anúncio

Portanto, o espírito do AI-5 continua vivo no governo Bolsonaro.

É uma espada de Dâmocles sobre a cabeça do que restou da nossa democracia.

continua após o anúncio
continua após o anúncio

iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popular

Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:

Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.

Comentários

Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247

continua após o anúncio

Ao vivo na TV 247

Cortes 247