Ah, peste!

Os ratos sempre estiveram entre nós. Porém, os ratos são seres de hábitos noturnos e discretos. Por séculos, aprenderam a arte de esconder sorrateiramente o rabo fino por trás das cortinas, dentro de valises, debaixo dos carpetes, entre escaninhos, em armários. Durante este período, disfarçavam-se de senadores, deputados, advogados, empresários. Até que um dia, depois de um golpe, eles perderam a desfaçatez

Os ratos sempre estiveram entre nós. Porém, os ratos são seres de hábitos noturnos e discretos. Por séculos, aprenderam a arte de esconder sorrateiramente o rabo fino por trás das cortinas, dentro de valises, debaixo dos carpetes, entre escaninhos, em armários. Durante este período, disfarçavam-se de senadores, deputados, advogados, empresários. Até que um dia, depois de um golpe, eles perderam a desfaçatez
Os ratos sempre estiveram entre nós. Porém, os ratos são seres de hábitos noturnos e discretos. Por séculos, aprenderam a arte de esconder sorrateiramente o rabo fino por trás das cortinas, dentro de valises, debaixo dos carpetes, entre escaninhos, em armários. Durante este período, disfarçavam-se de senadores, deputados, advogados, empresários. Até que um dia, depois de um golpe, eles perderam a desfaçatez (Foto: Lelê Teles)


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os ratos sempre estiveram entre nós.

porém, os ratos são seres de hábitos noturnos e discretos.

por séculos, aprenderam a arte de esconder sorrateiramente o rabo fino por trás das cortinas, dentro de valises, debaixo dos carpetes, entre escaninhos, em armários.

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durante este período, disfarçavam-se de senadores, deputados, advogados, empresários.

até que um dia, depois de um golpe, eles perderam a desfaçatez.

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começou, assim, a síndrome do pânico.

não se trata, e trato de acalmar os nossos esculápios, de qualquer moléstia de ordem fisiológica ou mental.

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trata-se, digo logo de uma vez, de uma enfermidade moral.

de repente, num rompante, os ratos surgiram na televisão.

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todos vivos, muito vivos.

e pela televisão, começou o contágio.

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enfermos, de uma hora pra outra, uma ninhada de jornalistas passou a excretar, na cara dura, a ideologia dos ratos, que consistia em roer tudo.

tudo o que era do estado, do público, das pessoas comuns; do povo, em uma palavra.

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e, assim, passaram a roer corações e mentes.

em seu nome roíam os velhos jabores, roíam mervais, leitões, lobos e waackas; depois passaram a roer, também, as novas sheherazades...

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em pouco tempo as redações estavam infestadas.

no entanto, rabos já não se ocultavam, muitos passaram mesmo a ter orgulho da calda longa e fina e do focinho de bigode em crina.

parecia que todos haviam ingerido a pútrida urina dos grandes ratos e, assim, passaram a falar em nome da rataria.

passada a primeira etapa do contágio, os roedores de direitos foram em busca de novas vítimas.

e então, urinando pra todo lado, contagiaram com sua moléstia de mau humor, aqueles que se chamariam de humoristas.

dessa forma, o bullying, típico nas séries inicias do colégio, ganhou status no horário nobre.

mal humorados, sem graça, porém sorridentes, os valentões de escola estão de volta agora na sua versão adulta.

e adultos eles são muito mais cruéis.

humilham mulheres, convertendo-as em objetos abjetos e mudos; tripudiam de anões, banguelas, pretos, pobres, putas...

é a síndrome do Pânico na TV.

infestando a TV de mau humor, a rataria ejectou um jacto de mijjo na estátua da justiça, e em ratos converteram grande parte dos impolutos jurisconsultos.

nobres rabos se arrastavam pelos palácios, pendendo de capas negras.

infectados também foram roqueiros, atores e atrizes, pornógrafos, filósofos de araque, feiticeiros de autoajuda, padres, pastores e bispos.

e de repente, não mais que de repente, pilhas de corpos vivos passaram a surgir nas ruas das grandes cidades.
todos com o rabo de fora e vestidos de amarelo, típica icterícia causada pela bactéria leptospira.

a peste contaminou a nação.

antes, diziam ser milhões de Cunha - o rato mor - hoje definem-se como milhões de uns.

cem milhões, exagerou o rato-âncora.

pela cidade, infectos e ictéricos, os ratos de apartamento e de mansão se converteram em ratos de rua, vomitando sua enfermidade em contágio pandêmico:

primeiro passaram a pregar que os corruptos iam acabar com a corrupção e, para garantir isso, pediam uma intervenção militar.

depois passaram gritar contra o fantasma do comunismo.

em pouco tempo diziam que Hitler era de esquerda, que Fidel era o homem mais rico do mundo, que a terra era plana, que os Etês construíram as pirâmides, o diabo.

daqui a pouco, a moléstia atingiu o Conselho Nacional de Medicina: médicos brancos foram às ruas, com nariz de palhaço, querendo impedir que médicos negros exercessem a medicina.

dados do último boletim relatam que ontem, nada menos que milhares destas infectas criaturas se dirigiram a portas de escolas em todo o país para vaiarem, xingarem e tripudiarem dos jovens que chegaram atrasados para prestar o exame do ENEM.

em estágio avançado, a moléstia agora desumaniza definitivamente seus hospedeiros: são ratos todos, de caráter corroído.

senão, veja essa, ainda ontem, no Rio Grande do Norte, acontecia uma partida de basquete juvenil entre as equipes do colégio Marista e do IFRN.

ganhou o Marista, torcedores e familiares invadiram a quadra para comemorar.

de repente, da arquibancada, ouve-se o chiar da rataiada.

a típica Síndrome do Pânico: humilhar, tripudiar, xingar....

os garotos do Marista passaram a chamar de pobres os alunos do IFRN, diziam que as mães destes eram domésticas daqueles e que o pai daqueles comiam as mães destes.

com mil diabos, diria o Mestre Cafuna.

antes, nojentas criaturas de bueiros, agora os ratos são impolutos hóspedes da Casa Grande.

urge uma desratização, antes que estejamos todos infectados.

palavra da salvação.

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