Afinal, gays se beijam na boca?
Pelas barbas de Bin Laden, o que Walcyr Carrasco teme? Que o papa o excomungue, que a Globo o demita, que os telespectadores nunca mais assistam uma novela sua?
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no canal do Brasil 247 e na comunidade 247 no WhatsApp.
Final de semana, Orla de Atalaia, lua cheia saindo do mar, ali por trás da plataforma de petróleo, resolvi folhear uma dessas revistas de futilidades na banca.
De cara vi a foto de um garoto de 11 anos: bonito, negro, cabelo black power, bermuda abaixo do joelho, cordão invocado no pescoço; muita marra.
Fará parte do elenco de nova novela da Globo. Notei que a reportagem dava destaque a uma fala do garoto, algo como "se rolar de beijar, eu vou beijar". Até aí tudo bem, eu também beijei aos onze.
Fiquei a pensar: não se faz uma trama sem traição, vingança e casamento. Mas o combustível de uma novela é sempre o beijo, a troca de saliva, a esfregação de lábios, o engolir de línguas.
Não há um único episódio em novelas que não role um beijo, uma bitoca, ao menos um selinho.
É por isso que o nosso neófito BV (boca virgem, como dizem os pré-adolescentes) não teve dúvidas em se dizer preparado.
Mas por que diabos nessa novela, Amor à Vida, todo mundo se beija, menos o casal de gays?
Tem dois casais de médicos que passam a novela toda se beijando e tirando a roupa, eles se beijam até de boca cheia, chega a rolar cenas quentes em banheiras de moteis. Depois rola uma troca de casal e continua a beijação.
O motorista barbudo beija a madame, o mordomo tatuado se lambuza nos beiços da patroa, o adolescente arranja uma namoradinha e tasca-lhe beijos, o poeta beija uma fantasma, a advogado beija a menina altista, a ex-virgem vira beijoqueira, o coroa sedutor beija a mãe e a filha, a evangélica beija, Atílio beija três mulheres, a vilã beija um cego, um malandro, um homem casado... Até um casal de velhos se beija.
Menos o casal gay.
Não, gays não beijam. É o que diz o nosso bom Carrasco.
Quando o Dr. Lacraia do Olho Azul tem uma recaída, logo é visto grudado nos lábios da Amarylis, arrancando-lhe a roupa, fungando em seu cangote, como um bicho.
Mas quando ele tava com o Nico, comportava-se como um frade.
Gato Félix, estando com a ex-prostituta, era visto rolando na cama, sendo puxado pela gravata, a moça lambia a boca dele e enfiava a língua em sua garganta.
Mas com o Anjinho, Félix virava um anjo e só conversava.
Pelas barbas de Bin Laden, o que Walcyr Carrasco teme? Que o papa o excomungue, que a Globo o demita, que os telespectadores nunca mais assistam uma novela sua?
Quando escrevi sobre Jaiminho, o personagem negro que Carrasco queria tosquiar, disseram que era paranoia minha, que o autor estava quebrando preconceitos.
Conversa mole, isso é desencargo de consciência somente. É como aquele cara que diz "eu não sou racista, a moça que limpa o chão lá em casa é negra".
Vejamos, temos aí um casal gay que adota um menino, ponto pro Carrasco. E adotam um menino com mais de 9 anos, mais um ponto pra Carrasco. E o moleque ainda é negro. Por Deus, um ponto a mais para Walcyr.
No entanto, Jaiminho não fala. Não sai de casa, não faz nada. Seu papel se resume em ser o filho adotivo do casal gay. A Paulinha fala e muito, dá bronca, provoca intriga, viaja pro exterior, diz até que vai namorar.
Jaiminho fica preso em casa, no máximo vai à escola. Nico chega em casa, diz a ele que tá na hora de ir pra cama. Jaiminho menea a cabeça afirmativamente. O pãe, Nico, deita o garoto e lhe dá um beijo. Pronto, é isso.
O bebê do Nico, chorando, vocaliza mais que o negro Jaiminho, que tá lá só pra mostrar que o diretor é descolado e livre de preconceito. Por desencargo de consciência.
Com Walcyr Carrasco é assim, negro não fala e gay não beija. E estamos conversado.
iBest: 247 é o melhor canal de política do Brasil no voto popularAssine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista:
Este artigo não representa a opinião do Brasil 247 e é de responsabilidade do colunista.
Comentários
Os comentários aqui postados expressam a opinião dos seus autores, responsáveis por seu teor, e não do 247