Afeganistão é novo Vietnã e derrota dos EUA é um progresso para o mundo

O Talibã enfraqueceu a política imperialista no mundo. Para a esquerda e o movimento operário, é um fator fundamental que permite o progresso geral da humanidade contra a política de rapina ao redor do planeta, inclusive contra os golpistas do Brasil

Guerrilheiros talibãs
Guerrilheiros talibãs (Foto: Reuters)


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Por Juca Simonard

Na noite de sábado, 14, para domingo, 15, no horário local, o Talibã cercou a capital do Afeganistão, Cabul, e derrotou definitivamente o governo fantoche dos Estados Unidos, liderado por Ashraf Ghani. Cassados do poder após a intervenção militar imperialista em 2001, sob o governo de George W. Bush que usou o pretexto de “luta contra o terrorismo”, os talibãs voltaram ao poder no Afeganistão.

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Num primeiro momento, nas décadas de 1970 e 1980, o grupo islâmico foi financiado pelo Estado norte-americano para golpear o governo de esquerda que existia no país. Território estratégico para os EUA pela posição central na Ásia, ao lado da China e do Irã e próximo da Rússia, a União Soviética invadiu o país para impedir o controle norte-americano na região. 

Sem sucesso, o grupo tomou conta do país. No entanto, a partir da década de 1990 entrou em conflito com a política do imperialismo norte-americano, o que levou à invasão militar do país em 2001. Desde então, o Talibã tem sido o principal foco de resistência contra a invasão imperialista.

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O levante Talibã

Após a invasão dos EUA, o imperialismo de conjunto impôs um regime fantoche, sustentado apenas no efetivo militar norte-americano.e extremamente alheio aos interesses populares. Um regime de capangas do imperialismo, alguns deles incapazes de falar pashto ou dari, as principais línguas do país agrário e tribal. 

Conforme reportagem de Bill Van Auken no World Socialist Web Site, “o presidente Ashraf Ghani e seus companheiros devem seus cargos a eleições fraudulentas nas quais apenas uma fração da população participou e ao apoio de Washington”. A situação do imperialismo para sustentar este regime artificial, no entanto, ficou muito complicada e custosa, e os EUA, ao longo dos anos de ocupação, começaram a perder para a resistência talibã.

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Após o anúncio, em abril, do presidente dos EUA, Joe Biden, da retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão, o Talibã começou a recuperar pontos importantes do país, inicialmente concentrados no sudoeste. A ofensiva mais dura, no entanto, se deu nas últimas quatro semanas, em que o Talibã passou a dominar, inicialmente, cerca de ⅕ do país para tomar controle de toda a nação.

Numa insurreição relâmpago, foram tomando cidade por cidade, conquistando capitais provinciais atrás de outras, libertando presos no caminho e conquistando parte importante dos armamentos militares dos EUA, como helicópteros, tanques, fuzis, etc.

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Um dia antes da tomada da capital afegã, o jornal russo Russia Today destacou que “o ritmo do avanço do Talibã tem sido notável. Em alguns lugares, as forças do governo simplesmente fugiram sem lutar. O governador da província de Ghazni se rendeu e entregou sua cidade em troca de passagem gratuita para fora da área. As tropas do governo treinadas pelos EUA fugiram ou desertaram em massa e, em alguns casos, foram para o Talibã”.

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Alguns dias antes da tomada efetiva do movimento islâmico da capital do país, Cabul, o imperialismo ainda buscava apresentar a crença, não fundamentada na realidade, de que a cidade seria isolada “em trinta dias” e cairia “em noventa”, conforme disse um oficial militar norte-americano à agência Reuters. A previsão mostrou-se falsa e Cabul caiu apenas seis dias após a declaração do militar.

A queda de Cabul

Às vésperas e durante a tomada da cidade mais importante do país, os EUA mobilizaram 5 mil soldados para escoltar seus diplomatas e deixar o Afeganistão. Também fugiram diplomatas de Londres e Paris. As tropas talibãs cercaram Cabul na noite de sábado, 14, no horário local, e anunciaram que iriam esperar uma rendição do governo para chegar a um acordo de “transição pacífica”.

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O presidente Ashraf Ghani, vendo que não teria opção a não ser entregar o governo, deixou o país - não sem antes criar um alarmismo para apavorar a população. Porta-voz do Talibã, Suhail Shaheen anunciou à BBC, tornando pública a posição do movimento de tomada pacífica da cidade, a decisão de esperar a renúncia do governo antes de invadir Cabul. Ele buscou assegurar os cidadãos de que não haveria vingança e que suas propriedades e suas vidas seriam mantidas em segurança.

"Asseguramos ao povo do Afeganistão, especialmente na cidade de Cabul, que suas propriedades e suas vidas estão seguras. Não haverá vingança para ninguém", disse Shaheen, informando também que os líderes talibãs "instruíram nossas forças a permanecerem nos portões de Cabul" e que ainda não tinham planos de entrar na cidade. “Estamos aguardando uma transferência pacífica de poder”, disse.

Explicando para a imprensa a posição do movimento, Shaheen afirmou que a transição pacífica “significa que a cidade e o poder devem ser entregues ao Emirado Islâmico do Afeganistão e então, no futuro, teremos um governo islâmico de inclusão afegã, no qual todos os afegãos terão participação”.

Após a fuga do presidente fantoche Ghani, o ministro do Interior, Abdul Sattar Mirzakwal, anunciou que havia sido feito um acordo e que um governo transitório estava sendo formado.

Reportagem do jornal Le Figaro relata os acontecimentos na cidade com a entrada do Talibã:

“No início da noite, várias testemunhas garantiram que combatentes do Talibã haviam entrado na capital. Tiros foram ouvidos nos subúrbios. Segundo um líder do movimento, foi uma operação simples para ‘evitar saques’ enquanto a polícia oficial e o exército do governo estavam ausentes. As tropas islâmicas teriam assumido o controle de delegacias de polícia e vários ministérios, bem como da universidade. Pouco antes das 10 horas, eles passaram pelos portões do palácio presidencial, vinte anos após sua queda, a última etapa de uma guerra relâmpago que durou apenas dez dias”.

Apoio popular ao Talibã

Ao contrário do que afirma o imperialismo, em sua campanha venal para atacar a revolta popular no Afeganistão, a tomada de poder ocorreu de forma relativamente pacífica. Isso e o rápido controle de todas as regiões do país, “que durou apenas dez dias”, pôde ocorrer apenas pois os Talibãs contaram com muito apoio popular. O povo viu no Talibã a saída para derrotar a invasão militar, que deixou cerca de 250 mil mortos, destruiu cidades e indústrias inteiras, instaurou a miséria e a fome no país, além das brutalidades cometidas pelos exércitos imperialistas, como estupros, torturas, etc.

A vitória arrasadora do Talibã só foi permitida pela imensa popularidade da organização e a extrema impopularidade dos EUA, inclusive no próprio país. Após a tomada do país pelo grupo islâmico, milhares tomaram as ruas da capital norte-americana, Washington, em defesa da vitória talibã, segundo a agência russa Sputnik. Principalmente pessoas de origem afegã exigindo a punição dos criminosos de guerra e destacando claramente que “ninguém está livre quando os afegãos estão sendo oprimidos”.

A guerra, provisoriamente, acabou com a derrota do imperialismo. O grande vencedor foi o líder talibã Abdul Ghani Baradar, perseguido político e preso por três anos no Paquistão por requisição dos EUA. Ex-ministro da Defesa durante o governo Talibã, foi o principal líder militar e político da organização na guerra contra a invasão norte-americana.

Decadência do regime imperialista e o novo Vietnã

A decadência do regime imperialista fica explícita na derrota dos EUA na guerra do Afeganistão. Talvez seja a maior marca recente desta decadência; o bilionário exército mais poderoso do mundo, altamente estruturado, foi derrotado por uma guerrilha popular islâmica sem 10% da força militar norte-americana (apoiada ainda por França e Inglaterra).

Por isso, lembra a retirada das tropas norte-americanas no Vietnã, definitivamente escorraçadas do país em 1975, após duas décadas de guerra. 

Tendo expulsado os colonialistas franceses e o imperialismo japonês durante a Segunda Guerra Mundial, os vietnamitas, pobres miseráveis, conseguiram o feito de expulsar três exércitos imperialistas em cerca de 30 anos. A situação do povo afegão é semelhante.

Ao bater em retirada, deixando para trás, no desespero, seu aparato militar, o imperialismo estadunidense revelou a crise em que se encontra. Foram mais de US$ 2 trilhões gastos numa guerra perdida, que resultou na morte de milhares de norte-americanos. Essas coisas influenciam a opinião pública, que há alguns anos é contrária à manutenção das tropas no país.

Veteranos mutilados, e seus familiares, assim como os familiares de militares falecidos, tornaram-se ativistas contra a guerra e uma forte pressão da esquerda surgiu no sentido de acabar com o desastre promovido pelo imperialismo. Em certa medida, a campanha contra a guerra ficou tão popular que até mesmo a extrema-direita, em sua demagogia para ter apelo popular, levantou algumas pautas anti-bélicas.

A dominação dos EUA no mundo árabe já vinha dando sinais de falência. Estão sendo derrotados na Síria e tendo de enfrentar uma dura resistência popular no Iraque, no Iêmen e no Líbano. Soma-se a isso a eleição do novo governo iraniano que busca fortalecer ainda mais os laços com China e Rússia contra as ameaças dos norte-americanos, e as fortes mobilizações palestinas em Gaza, Cisjordânia e Israel nos últimos anos.

A vitória do Talibã no Afeganistão pode ser um golpe fatal na dominação imperialista na região. Os EUA acabam de perder sua mais longa guerra, sendo humilhados totalmente pela união de um povo pobre e quase tribal.

Reportagem do RT, destaca que a situação para os EUA é ainda mais crítica para o regime político do que foi a derrota da União Soviética pelo Talibã (em aliança com os EUA) nos anos 1980:

“Mesmo depois que os soviéticos partiram, as tropas que eles treinaram e equiparam lutaram arduamente e com sucesso. Hoje, as tropas que a América e seus aliados treinaram e equiparam a um custo de centenas de bilhões de dólares se espalharam aos quatro ventos sem nenhuma resistência”.

Na URSS, a derrota no Afeganistão foi um fator-chave para a queda do regime político nos anos seguintes.

Os países imperialistas europeus já destacam a crise do governo norte-americano com a perda do Afeganistão. “É a primeira crise internacional de Joe Biden e está indo mal”, diz reportagem do Le Monde, porta-voz do imperialismo francês. “A retirada dos EUA do Afeganistão se transforma em caos para o governo Biden”, diz a manchete.

A extrema-direita aproveitou para atacar o novo governo eleito. Trump afirmou que a volta ao poder do movimento Talibã se tornou “uma das maiores derrotas da história norte-americana”. “O que Joe Biden fez com o Afeganistão é lendário. Será uma das maiores derrotas da história norte-americana”, afirmou nas redes sociais.

Saigon, 1975

Na cidade de Saigon, capital do Vietnã do Sul (governo fantoche dos EUA), em 30 de abril de 1975, uma imagem marcou a época. Um helicóptero teve de escoltar funcionários do governo dos EUA, que fugiram pelo teto da embaixada norte-americana. Derrotados, saíram humilhados, fugindo da cidade após sua tomada pelo exército revolucionário do Vietnã do Norte. Em Cabul, 15 de agosto de 2021, a mesma cena se repetiu.

Vale anunciar, no entanto, que a tomada de Saigon pela guerrilha anti-imperialista ocorreu dois anos após o anúncio dos EUA de retirada de suas tropas do país, enquanto no Afeganistão, a retomada do poder central foi relâmpago, quatro meses após o anúncio de Joe Biden e antes da previsão dos “analistas” norte-americanos. O imperialismo atualmente está ainda mais enfraquecido do que em 1975.

Os norte-americanos procuraram negar qualquer comparação. Tanto Biden, quanto o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Antony Blinken, rejeitaram qualquer semelhança entre as retiradas apressadas. No domingo, Blinken foi questionado pela imprensa diretamente se a retirada de Cabul se tornaria o "momento Saigon" de Biden, ao que ele respondeu: “definitivamente não é Saigon”.

“Lembrem-se, não é Saigon”, disse para outro jornal, acrescentando uma dose de negacionismo: “fomos ao Afeganistão há 20 anos com uma missão, e essa missão era lidar com as pessoas que nos atacaram em 11 de setembro - e tivemos sucesso nessa missão”.

A negação da realidade, no entanto, não passa de uma manobra para, de maneira ilusionista, esconder a crise do imperialismo norte-americano que vai causar tumultos dentro do país.

Vale lembrar que, em 8 de julho deste ano, apenas um mês antes do controle Talibã, Biden disse que as capacidades do grupo islâmico "não são nem remotamente comparáveis" às forças norte-vietnamitas e nenhuma retirada precipitada aconteceria. “Não haverá nenhuma circunstância em que se verá pessoas sendo puxadas do telhado de uma embaixada dos Estados Unidos no Afeganistão”. A realidade se impôs sobre a vontade do presidente estadunidense e ocorreu o extremo oposto do que foi prometido.

“Para os Estados Unidos, a imagem de uma fuga de helicóptero é sinônimo da evacuação de Saigon, em 1975, quando o exército norte-vietnamita tomou a cidade. É sinônimo de fracasso militar”, destacou reportagem do jornal argentino Página 12.

Jornalista do Diário Causa Operária, Eduardo Vasco escreveu no Twitter que “a derrota dos EUA no Afeganistão é uma amostra concreta da profundidade da crise em que o imperialismo se encontra. Tal como no Vietnã, essa derrota pode abrir um período de revoluções populares pelo mundo afora, com destaque para os países oprimidos”.

Como disse o jornal francês Libération, “a analogia é surpreendente e óbvia, apesar das negações da Casa Branca”.

Influência no mundo da vitória Talibã

Não há dúvidas de que o profundo fracasso dos EUA no Afeganistão trará consequências para o mundo inteiro. Primeiro, vai fortalecer a resistência do nacionalismo islâmico em todos os países invadidos pelo imperialismo. Mostrando a fraqueza política dos monopólios capitalistas, isso vai influenciar toda a luta contra o imperialismo ao redor do planeta.

Segundo, vai fortalecer a aliança nacionalista na região. Porta-voz do imperialismo, o jornal Financial Times destacou que “a queda de Cabul para o Talibã [...] vai acabar com a influência americana no Afeganistão por décadas. Nesse sentido, é comparável à derrubada do Xá do Irã em 1979, a queda de Saigon em 1975 ou a revolução cubana de 1959”.

A China, vizinha do Afeganistão, já demonstrou apoio ao novo governo Talibã e pretende ajudar o país a reconstruir sua indústria e suas cidades, destruídas pela invasão norte-americana. Nessa questão também vale destacar que, ao contrário do que apresentam alguns analistas, não há interesse na China em intervir militarmente no Afeganistão.

No jornal chinês Global Times, o jornalista britânico Martin Jacques afirmou que “a China atribuirá a maior importância à forma como pode ajudar no desenvolvimento econômico do país, tal como fez na África, na América Latina e no Sudeste Asiático”. Ele destacou que, ao contrário dos EUA, o país faz fronteira com o Afeganistão e uma convulsão no país poderia ter implicações importantes dentro de suas fronteiras, onde a província Xinjiang é de maioria muçulmana.

“Como um país que faz fronteira com o Afeganistão, buscará trazer estabilidade para o país e para toda a região, até porque isso também tem implicações para a situação em Xinjiang”, diz Jacques.

Vale destacar que Xinjiang é uma das regiões onde os imperialismos norte-americano e britânico estão procurando criar uma desestabilização no regime político chinês utilizando-se de milícias de extrema-direita e da campanha contra o “genocídio Uigur”, etnia turcomena adepta ao islamismo.

Em outra matéria do Global Times, também reforça-se a ideia de que a China vai ajudar o governo Talibã economicamente e lembra-se do problema em Xinjiang. O governo chinês não fechou sua embaixada em Cabul após a vitória talibã. Vale destacar, que antes mesmo da tomada do poder, uma delegação talibã foi recebida pelo governo chinês em 29 de julho na cidade de Tianjin, pelo ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi.

Na ocasião, uma nota do Ministério de Relações Exteriores chinês afirmou que o governo do país espera que o Talibã "coloque os interesses do Afeganistão em primeiro lugar, mantenha o comprometimento com negociações de paz, defenda o objetivo da paz, crie uma imagem positiva e adote uma política inclusiva" e pediu para que o grupo se distancie de “grupos terroristas”, o que pode ser uma alusão aos milicianos uigures, treinados pelos EUA em Xinjiang.

Porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Hua Chunying, afirmou que o país asiático está aberto a desenvolver "relações amigáveis" com o Talibã e "respeita o direito do povo afegão de determinar o próprio futuro de modo independente", segundo matéria do Opera Mundi.

Hua disse que China quer ter um "papel construtivo na paz e na reconstrução do Afeganistão" e reforçou que “os talibãs nunca permitirão que nenhuma força use seu território para colocar a China em perigo". Um acordo já deve ter sido feito.

A Rússia, outra potência do nacionalismo na região, também não retirou sua embaixada de Cabul. A reportagem do Opera Mundi dá conta de que “o enviado russo para o Afeganistão, Zamir Kabulov, disse que o embaixador de Moscou em Cabul, Dmitry Zhirnov, já está em contato com representantes do Talibã, com quem vai se encontrar pessoalmente nesta terça-feira (17/08)”.

"Supreendentemente, a situação está em perfeita calma, as forças do Talibã entraram tranquilamente em Cabul", declarou Kabulov. O embaixador Zhirnov também reforçou a ideia de que haveria um acordo do Talibã contra a promoção do “terrorismo”. "Com base nesses princípios, vamos decidir nossa linha [se reconhece ou não o regime], mas precisamos esperar, os talibãs entraram na cidade [Cabul] apenas ontem", acrescentou.

Para não defender o Talibã, alguns elementos da esquerda, que repetem com ideias esquerdistas a política do imperialismo contra o movimento, disseram que os EUA deixaram o grupo tomar conta do país para hostilizar China e o Irã - neste último explorando o racha entre sunitas, como o Talibã, e xiitas, como o Irã.

No entanto, esse argumento tem caído por terra diante do cenário que está se apresentando. O presidente do Irã, Ebrahim Raisi, afirmou que a tomada de poder do Talibã no Afeganistão é uma "oportunidade de paz" diante da retirada dos EUA, inimigo comum, da região.

"A derrota do exército dos Estados Unidos e a sua retirada do Afeganistão devem ser usadas como uma oportunidade para retomar a paz e a segurança do país de maneira definitiva", disse Raisi, que reforçou que o Irã buscará manter a estabilidade no país que já é visto como “uma nação vizinha e fraterna".

Um progresso para a humanidade

A esquerda pequeno-burguesa tem buscado atacar o Talibã, o que é uma defesa mascarada do imperialismo norte-americano. Os “democratas” esquerdistas - defensores envergonhados da guerra imperialista - tem se utilizado de toda a campanha do imperialismo para atacar o movimento islâmico.

Conforme denunciou o porta-voz da organização, Suhail Shaheen, parte importante da campanha imperialista contra o “terror Talibã” era mentira, vídeos antigos, atentados cometidos pelo Estado Islâmico (outra organização), falsificação grotesca realizada pelos defensores da luta contra as “fake news”. 

É o mesmo método usado para promover as recentes manifestações golpistas em Cuba (derrotadas pelo governo e os trabalhadores cubanos), em que órgãos “respeitáveis” do imperialismo “democrático” divulgavam fotos a favor do governo como sendo fotos contrárias, vídeos e fotos de mobilizações em outros países, etc. E a esquerda caiu direitinho.

O PSTU, que também apoiou o golpe em Cuba, na Ucrânia, no Brasil e no Egito, saiu em defesa do governo fantoche afegão. Enquanto viram “mobilização popular” nos golpes armados pela direita, não viram a verdadeira mobilização popular em defesa da resistência Talibã. Conforme disse a ex-candidata à presidência Vera Lúcia, “o PSTU não comemora a tomada do poder pelo Talibã”.

“Toda minha solidariedade, em especial às mulheres e LGBTs afegãs”, afirmou nas redes sociais. A posição de Vera é, em grande medida, a posição de toda a esquerda pequeno-burguesa: atacar o nacionalismo afegão por ser fundamentalista islâmico, homofóbico e machista. Mostra pra que serve a política identitária patrocinada pelas universidades norte-americanas: para defender invasões imperialistas.

É um argumento cínico e hipócrita. Primeiro porque o governo fantoche não resolveu nenhum grande problema da opressão da mulher, e isso com o aval do imperialismo identitário. Amenizou algumas coisas em relação ao antigo governo Talibã, é fato, mas tudo não se compara à devastação completa do país promovida pelo governo fantoche e as forças militares imperialistas, que estupraram centenas de mulheres, torturaram milhares de civis e assim por diante.

O que seria pior para a mulher do que a devastação total de suas cidades, ser jogada na completa miséria, para passar fome e ser brutalizada e estuprada por exércitos invasores? Nada. Por isso, o Talibã também recebeu apoio de grande parte da população feminina do país, que entende que, para conquistar seus direitos, é impossível que isso ocorra em plena dominação imperialista.

Nada pior para todos os explorados e oprimidos do que uma guerra que matou mais de 250 mil civis e destruiu tudo o que viu pela frente, assassinando mulheres e crianças, o que, como apontou Shaheen, seria impossível para o Talibã realizar estas atrocidades e, ao mesmo tempo, ter apoio popular. “Não é possível para nós. Se fizermos isso, não poderemos viver no meio do povo, porque nosso principal apoio vem do povo”, disse ao jornal India Today ao comentar as falsificações imperialistas sobre o “terror Talibã”.

Evidentemente, o fundamentalismo islâmico do Talibã também ataca os direitos mais básicos da mulher. Entretanto, para a mulher, é muito mais difícil ter seus direitos mais básicos garantidos quando o país está sendo invadido por uma potência militar que, ao longo das décadas, cometeu inúmeros crimes contra a humanidade.

Estes argumentos da esquerda, diretamente vindos da campanha imperialista, são inúteis e ignoram o fato objetivo da questão: o Talibã venceu uma guerra assassina promovida pelo imperialismo. Portanto, enfraqueceu a política imperialista no mundo. Para a esquerda e o movimento operário, é um fator fundamental que permite o progresso geral da humanidade contra a política de rapina ao redor do planeta, inclusive contra os golpistas do Brasil.

Pode-se comentar “n” defeitos do Talibã, mas isso não está colocado. O que está colocado é que foi a organização que liderou a expulsão dos EUA do país. Expulsou o que há de mais atrasado e reacionário no mundo de um território estratégico na Ásia.

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