Aeroporto Governador Aécio Neves

Que país é esse em que jovens políticos – eu disse: jovens! – que supostamente tiveram acesso a uma boa e moderna educação, se comportam com modos de velhos e caquéticos coronéis



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Imaginemos, vindos de um futuro incerto, o relato abaixo narrando a inadiável/inevitável inauguração de um aeroporto no interior de Minas Gerais.

"No pequeno município mineiro de Cláudio, numa manhã ensolarada de um futuro tão incerto quanto infame; de um futuro aferrado a um passado e anacronismo que insistem em nos assombrar, tal qual um burro de carga atrelado por ferragens enferrujadas a uma carga demasiado pesada, pois condenada por intrínseca obsolescência, se descerrará, com pompa e circunstância, sob os aplausos de autoridades de moral complacente, sob os flashes de uma mídia cúmplice, solícita, uma placa em bronze reluzente, na qual se poderá ler, sem qualquer esforço, mesmo à distância, em letras tão destacadas quanto ultrajantes: Aeroporto Governador Aécio Neves".

Debati-me, num passado já não tão recente assim, contra a troca do nome do Aeroporto Dois de Julho, em Salvador na Bahia, para Aeroporto Internacional de Salvador - Deputado Luis Eduardo Magalhães. Desgraçadamente, neste país de "autoridades" e homens públicos de muita tradição e pouca moral, fatos, vícios e fantasmas do passado insistem em nos assombrar.

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E por que teria sido contra tão singela "homenagem" e "honraria"? Porque, a despeito das supostas qualidades e merecimentos do falecido deputado baiano, era uma evidência gritante e grosseira do patrimonialismo mais antiquado, que, ainda hoje, nos mantém aferrados a uma "modernidade" moral, e de costumes, dos tempos dos carros de boi; um gritante vexame do provincianismo, oportunismo e "novo-riquismo" de oligarcas que pretendem, desde antanho, dar o nome dos seus aos nossos aparelhos públicos.

Ferram a República como ferravam seus bois em terras quase sempre griladas.

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Agora, defronto-me e me debato, mais uma vez, contra esse episódio estarrecedor, VERGONHOSO em que um jovem candidato à Presidência da República, quando governador do estado, mandou desapropriar a fazenda de um seu parente para construir, sem demanda ou interesse público que o justificasse, um aeroporto no município de Cláudio em MG. E, para o cúmulo do despudor, nas cercanias desse aeroporto estão situadas outras fazendas de propriedade de parentes e amigos do então governador. Não bastasse a insolência deste mais despudorado coronelismo, o acesso a esse esboço de aeroporto, feito com cerca de R$14 milhões em recursos do erário, fica trancado, tipo "porteira fechada", e as chaves ficam em poder de parentes do ex-governador candidato. Chega a ser inacreditável.

Dá pra imaginar, sem muito esforço, as chaves daquela "porteira fechada", amarradas num chaveiro de prata, bem acomodadas por anos a fio, de modo displicente e sem culpa, nos bolsos da calça do político-candidato. O mesmo chaveiro que tilinta, num inconveniente e incômodo barulho, nos dias de hoje.

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Isso, vamos, de modo honesto, procurar dar nome aos fatos, é um escândalo! Uma despudorada privatização da coisa pública em favorecimento próprio ou de parentes! Uma vergonha! Um acinte!

Que país é esse?!

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Que país é esse de tantas e tamanhas indesculpáveis vergonhas?!

Que país é esse em que jovens políticos – eu disse: jovens! – que supostamente tiveram acesso a uma boa e moderna educação, mas se comportam com modos de velhos e caquéticos coronéis. Aos velhos ao menos lhes poderia ser dado (in)devido desconto, pois se tratavam de homens rudes, grosseiros, ignorantes, por assim dizer, que não tiveram acesso ao estudo e a uma boa educação.

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Porém, o patrimonialismo, tal qual uma espécie de baixo instinto ou mera desfaçatez, parece impor-se, sem pudor ou culpa, sorrateiro, silente por baixo do fulgurante e ordinário verniz de uma suposta e alardeada "modernidade".

"Privatizar os lucros e socializar o prejuízo". Parece ser esse mesmo uma espécie de lema, inconfessável: "vício" ou herança atávica de uma elite caipira.

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Mas, observam os mais "detalhistas" ou os menos distraídos, pois, já se sabe, o diabo faz morada nos detalhes. Apesar da inauguração e do batismo bastardo dado àquele pequeno e "despropositado" aeroporto constituir-se, por si, em nova evidência do velho e condenável patrimonialismo, teria sido bem mais deletério – e aí não só para os costumes, mas para a nação – se o nome na placa registrasse um indesculpável e imprevidente: Aeroporto Presidente Aécio Neves.

Putz! Aí seria, convenhamos, de lascar!

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