Adeus Genebra
Ernesto Araújo, o Chanceler, deve ter achado que seu subordinado se saiu bem, já que entrou no rol dos párias, os poucos que, sem razões políticas, não lograram sucesso no Senado Federal. Para Genebra, foi um adeus. Enquanto isso, a representação brasileira aguarda que um dia, num outro destino e num outro governo, tenha para ocupá-la alguém com o perfil de um verdadeiro diplomata.
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A habilidade em desenvolver negociações entre as pessoas constitui um traço de mais importância na vida social do que normalmente se imagina. Entre nações, a importância se acentua. Guerras já foram evitadas porque altos emissários souberam criar identidades e descobrir caminhos, onde antes havia impasses. Cito nos primórdios da Segunda Guerra, à época de Franklin D. Roosevelt, as tratativas levadas adiante por Harry Hopkins junto a Winston Churchill e a Joseph Stalin para elaboras planos de defesa e de ataque contra os avanços nazistas. Stalin e Churchill gostavam dele. Adquiriram identidades a tal ponto que, antes de passar à palavra, todos já sabiam por onde prosseguir. A isso se dá o nome de diplomacia. Foi um momento terrível, mas de grandes perspectivas para a paz e berço da União das Nações Unidas, graças à capacidade de encontrar soluções para o conjunto dos envolvidos.
O Itamaraty, na gestão de Celso Amorim, conheceu igualmente esses instantes de grandeza. E, de repente, como se uma torrente derrubasse as encostas nas margens de um rio, o bom-senso ruiu. Vivemos situações de envergonhar a cidadania e dar calos no coração. A Comissão de Relações Exteriores do Senado, cumprindo missões de sabatinar nomeados para os postos da diplomacia brasileira, rejeitou a indicação do Embaixador Fábio Mendes Marzano, de malas prontas para a ONU em Genebra, onde ficaria à testa de nossa representação. Foram 37 votos contra 9. Uma derrota mais fragorosa parece difícil de conceber. No confronto com a senadora Kátia Abreu, recusou-se a responder a uma pergunta em torno dos nossos problemas ambientais, sob a alegação de que não era “mandatado” para tanto. Sabe-se como se mostram sensíveis para as nações ocidentais (e não só) a maneira como temos relegado a segundo plano os cuidados com o ambiente. Recusando-se a se pronunciar, Marzano pretendeu alinhar-se ao seu chefe imediato e ao outro acima dele, o Presidente, crendo que dava pontos em seu manto de prestígio. Enganou-se. Kátia Abreu é de uma linhagem de gente exaltada e que bebe fogo. A afronta não lhe passou desapercebida. Junto a ela se somaram senadores e senadoras que se preocupam com as crescentes arestas que temos criado com a China, na ânsia de adular Donald Trump. Se o nosso principal parceiro comercial reduzir em 10% as compras efetuadas no agronegócio, a economia do país fica no limite da bancarrota. Marzano, pelo visto, é daqueles diplomatas antidiplomáticos, isto é, que ocupam cargos no exterior para aproveitar a vida a seu bel-prazer. Passou nos concursos e os compreende como passaporte para o conforto, sem as obrigações de nos “mandatar” com a competência e a dignidade necessárias.
Ernesto Araújo, o Chanceler, deve ter achado que seu subordinado se saiu bem, já que entrou no rol dos párias, os poucos que, sem razões políticas, não lograram sucesso no Senado Federal. Para Genebra, foi um adeus. Enquanto isso, a representação brasileira aguarda que um dia, num outro destino e num outro governo, tenha para ocupá-la alguém com o perfil de um verdadeiro diplomata.
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