Adeus às ilusões; é preciso um olhar realista para Lula Livre
O jornalista Mauro Lopes escreve sobre a necessidade de abandonar as ilusões quanto à libertação de Lula com base num ato do STF; a Corte não é uma instância de Justiça e sim do poder político das elites; ou muda-se a situação política do país ou Lula permancerá preso indefinidamente
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Mauro Lopes, editor do 247, para o Jornalistas pela Democracia
As ilusões fazem parte de nossa vida -sem elas, talvez ficássemos esmagados diante da crueza e sofrimentos que nos são impostos ao longo dos anos.
As ilusões têm um papel saudável, ajudam-nos a “temperar”, a superar, a sublimar. O que é uma festa senão um momento de inebriante ilusão, com a beleza das luzes, bebidas, música, risadas, danças?
A questão é não tornarmos nossas “janelas de ilusão” em fio condutor de nossa vida. Este é um tema recorrente da psicanálise e uma vigorosa e justa crítica que fez e faz ao papel deletério das religiões. “Aguente seu sofrimento resignadamente, passivamente, porque depois que você morrer haverá um paraíso à sua espera” -este discurso é o canto malicioso que as elites utilizam ao longo dos séculos para manter o controle sobre as pessoas e os povos, mantendo-as amarradas à ilusão e ao conformismo.
Se as ilusões fazem parte de nossa vida -e é bom que façam!- torná-las este fio condutor é um equívoco profundo que, nos mais das vezes, em algum momento, serão traduzidas em depressão, desânimo, desesperança, pelo choque duro, duríssimo com a realidade.
É preciso equilíbrio entre as ilusões pontuais e uma busca de uma abordagem realista.
Este tema é crucial para examinarmos a situação do Brasil e, mais diretamente, a de Lula. É duro, mas necessário, encarar que a frase do ex-senador Romero Jucá sobre o golpe de Estado que articulou contra a democracia em 2015-16, era precisa: o golpe seria -e o foi- “com o Supremo, com tudo”.
Alimentar ilusões em relação a uma Corte que teve participação decisiva no golpe de 2015-16 e, antes dele, na sustentação jurídica do golpe de 1964, tem sido um equívoco dramático. O STF não é uma corte de Justiça, e sim a mais alta instância de um Poder Político dominado pelas elites e a serviço delas ao longo de sua história.
Depositar nossas esperanças de Justiça no STF é perigosa ilusão. Só haverá chance de decisão favorável a Lula saída daquele prédio com uma mulher cega à Justiça em sua entrada se abandonarmos as ilusões: apenas quando centenas de milhares, milhões forem às ruas, quando uma nova relação de forças estabelecer-se na política nacional.
Olhar para o julgamento previsto para agosto como possibilidade de libertação de Lula é alimentar outra ilusão -a não ser que as condições políticas mudem radicalmente até lá. A máquina de moer gente e de moer Lula, a burocracia do Judiciário está movendo-se como um relógio, adotando medidas que impeçam a libertação de Lula. Até agosto, Lula já estará condenado pelo TRF4 pelo caso do sítio de Atibaia -então, mesmo que o STF declare Moro suspeito no infame caso do tríplex, ele estará enredado em outra trama judicial para permanecer encarcerado.
Em vez de alimentarmos ilusões, olhando para o STF suplicantes, à espera de que as mãos de carrascos transformem-se em mãos salvadoras, é saudável e realista que cumpramos nosso dever. Realizar ações, mobilizações, articulações por Lula Livre.
Troquemos ilusões como fio condutor de nossa vida e espiritualidade por esperança -isso nos fará bem. Que as ilusões pontilhem nossa jornada com belos e alegres momentos.
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