Adeus às armas
Depois da violência, sonha-se, como nunca antes, com a paz. A reboque da miséria intelectual, os ânimos gritam e pedem cultura.
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O título, que peço emprestado a Ernest Hemingway, no atual momento da história brasileira serve mais como reflexão do que como referência ao seu belo livro. É que passamos por uma fase de brutalidade – e ainda estamos nela – aparentemente caminhando para a sua solução. As eleições, como costuma ocorrer em toda parte do mundo, espanam as ideias, ajudam a jogar a poeira para o lixo e põem na defensiva os atrasos mais chocantes. Lula lançou sua campanha com um discurso em favor da paz e da concórdia. Do outro lado da cena, arrastam-se os “heróis da balbúrdia”, os “agitadores da violência”, os “arautos do belicismo” e da repressão armada contra os desvalidos.
Se não faltassem exemplos, o Secretário Nacional de Fomento à Cultura, um tal de André Porciúncula, esbravejando, apareceu em defesa da aplicação de dinheiro ao uso de armas individuais, com os recursos que se imaginava estimular o pensamento e a criação cultural. Ele se sacudia, enquanto falava, tão entusiasmado se encontrava. Dizia que as armas significavam uma defesa da liberdade, uma proteção ao Estado. “Pela primeira vez, prometeu, usaremos a Lei Rouanet para armas de fogo!” Que moço inteligente!... Que alma sensível!... Que cérebro brilhante!... Para o mal. Entre outras coisas, ele, Secretário Nacional de Fomento à Cultura, programava um mega evento, com a presença do Presidente da República, para valorizar... as armas de fogo!
Quem imaginaria que o Brasil, nosso gigante deitado eternamente em berço esplêndido, pudesse assistir, estarrecido, o que pretendem fazer com a sua imagem. No entanto, os selvagens de motocicleta, ao contrário do que se imaginava, têm as suas ideias e querem contribuir para uma campanha bonita a favor de Bolsonaro. Nós é que trememos nas bases ao vê-los se exibir, nos jornais e telas de TV, com seus planos mirabolantes.
Há quem, com Hobbes, suponha que o homem é o lobo do homem. Trata-se de uma tese consistente, com fatos pertinentes ao longo da história. Também se sabe que a mensagem do perdão, oferecer a outra face, não foi ouvida. Neste exato instante, estamos às voltas com duas guerras: na Palestina e na Ucrânia. Mesmo assim, eleição é uma cerimônia de esperança. Não dá para atirar todos os cartuchos em favor do gosto pela crueldade. Perversos fazem isso, por não dispor de outras alternativas. Quem possui um pouquinho de massa encefálica na cabeça, ainda se choca com semelhantes proposições.
Entretanto, não se trata de uma novidade. O fuzil como símbolo de uma facção política se coloca na raiz das utopias fascistas fanáticas e não comove ninguém. A contrapartida de tais bandeiras é o desemprego, a proliferação da fome, o preço exorbitante do botijão de gás, etc. Talvez se apertassem com maior energia os ferrolhos da opressão, a população entendesse e caminhasse a seu favor, imaginam eles. Enganam-se. Depois da violência, sonha-se, como nunca antes, com a paz. A reboque da miséria intelectual, os ânimos gritam e pedem cultura. Até porque, se a inteligência constrói, também não desconhece as formas de combater os estragos dos maus costumes e a tirania da peste.
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