Adeus à deusa
Seu timbre, rasgante, luminoso como uma lâmina e cortante como uma espada, feria; porque o que ela cantava era pra doer
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Elza soou como ninguém, suou como ninguém zoou como ninguém.
O soar do timbre da voz de Elza, aliás, os soares, eram como uma digital acústica, uma marca única, genuína, original.
Oriunda do Planeta Fome, a menina regurgitava um grito de dor e fúria, numa ternura serena e trovejante, numa doçura repleta de inconformismo.
Porque Elza, era antes de tudo, uma inconformada.
Seu timbre, rasgante, luminoso como uma lâmina e cortante como uma espada, feria; porque o que ela cantava era pra doer.
Elza não cantava para ninar a Casa Grande.
Suou como muitas de suas manas, sofreu os dissabores do amor, sobreviveu à violência doméstica, foi mulher com voz e gritos num mundo que teima em sufocá-las.
Zuou como ninguém, na Itália, lembra Chico Buarque, encheu a rua de uma alegria algazarrante com seus filhos e agregados a jogar golzinho como se estivessem nas ruelas cariocas.
Seu mundo tava sempre consigo, enraizado.
Elza era atualíssima, por isso esteve sempre a encantar as gerações que lhe sucediam, sempre diva, sempre referenciada e reverenciada; entendeu o funk, o rap...
Prestou atenção no presente sem estar presa ao passado.
Embora soubesse que o seu passado sempre será um presente para a juventude que bebe na fonte rejuvenescente de sua arte.
Abraçou, no sentido de afago e afeto, todas as causas que traziam dores aos seus e às suas, bradou contra o racismo, a misoginia, a homo e a transfobia, era o eterno grito da fome.
E a fome das gentes não é só fome de comida.
O mundo soube da sua existência e da sua resistência.
Era a brasileira brasileiríssima.
Era não, Elza sempre será!
Inspiradora, Rainha, deusa, diva, exu...
Elza soará para sempre em nossas vidas.
Saravá.-
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