Acusações de racismo não são novidade na carreira de Bolsonaro

A velocidade exibida por comentaristas da mídia verde amarela para criticar Lula por uma declaração onde compara o bolsonarismo à KKK é mais do que suspeita

(Foto: Reprodução)


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Por Paulo Moreira Leite

A velocidade exibida por comentaristas da mídia verde amarela para criticar Lula por uma declaração onde compara o universo bolsonarista à Ku Klux Klan é mais do que suspeita.

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Basta uma rápida pesquisa nos arquivos do judiciário para confirmar o único ponto relevante em discussão: Bolsonaro já respondeu a pelo menos duas ações judiciais onde é acusado de racismo e este é um fato que não pode ser ignorado na campanha de um país onde preconceito constituiu uma tragédia reconhecida.

Um caso é mais antigo. Em 6 de abril de 2011, num quadro no programa CQC, a cantora Preta Gil perguntou como o então deputado Jair Bolsonaro reagiria caso seu filho resolvesse casar-se com uma mulher negra. 

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A resposta:

— Não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco. Meus filhos foram muito bem educados e não frequentaram um ambiente como lamentavelmente é o seu.

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Sete anos mais tarde, numa palestra no clube Hebraica, no início da campanha presidencial de 2018, Bolsonaro voltou ao assunto, com uma declaração inesquecível. 

Tentando criticar as políticas de cotas inauguradas pelos governos Lula e Dilma, que procuram expôs um dos mais conhecidos  estereótipos criados pela cultura racista – a noção de que homens negros não tem disposição para o trabalho. 

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— Fui num quilombola em Eldorado Paulista. O afrodescendente mais leve pesava 7 arrobas. Não fazem nada. Acho que nem para procriar servem mais. Mais de um bilhão de reais por ano gastados com eles. 

Ao falar da Ku Klux Klan e em supremacia branca, Lula abriu um debate importante, de óbvio interesse público.

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Em função da resposta ofensiva a Preta Gil, Bolsonaro foi condenado em duas instâncias a pagar uma multa de 150 000 reais por danos morais ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, do Ministério da Justiça. 

O comentário na Hebraica chegou ao Supremo, quando Bolsonaro já ocupava a presidência da  República. Ali, por iniciativa da então PGR, Raquel Dodge, Bolsonaro foi acusado de "tratar os quilombolas como seres inferiores, igualando-os à mercadoria (discriminação) e ainda reputou-os inúteis, preguiçosos (preconceito) e também incitou a discriminação em relação aos estrangeiros, estimulando os presentes, um público de cerca de trezentas pessoas, além de outras pessoas que tiveram acesso a vídeos divulgados do evento, a pensarem e agirem de igual forma (induzimento e/ou incitação)" . O caso foi interrompido por um pedido de vistas quando placar da Primeira Turma estava empatado em 2 a 2.

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Conversei com Ramatis Jacino, historiador, professor da Universidade Federal do ABC. Sua análise do caso: 

"Considero perfeitamente adequada a comparação que Lula fez entre o ato de Bolsonaro e uma manifestação da Ku Klux Klan. Em primeiro lugar, é verdadeira a constatação de que nesses atos os protagonistas são todos brancos, em contraste com um país onde os afrodescendentes são mais de 55%.

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Além disso, as semelhanças entre o bolsonarismo e a organização terrorista branca são muitas. Ambos se baseiam no racismo e na ideia de supremacia branca. Bolsonaristas e integrantes do Klan se organizam a partir do ódio ao diferente. Utilizam o medo como método de intimidação, têm visão deturpada da religião e se apropriam do cristianismo para legitimar suas ações criminosas. Ambos pregam um nacionalismo que discrimina parcela da população de seu país, são igualmente armamentistas, têm a violência como prática política e defendem a volta de uma sociedade sem democracia, com ausência de direitos a uma parcela da população". 

Como se dizia em meus anos de juventude: "Falou e disse".

Alguma dúvida?

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