Acredite no que quiser, mas o Estado é laico!
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Lendo “Deus, uma ilusão”, do brilhante biólogo evolucionista Richard Dawkins, deparei-me com algumas frases de pessoas gabaritadas, inteligentes e defensoras da laicidade do Estado. Uma delas parte do físico estadunidense, Steven Weinberg, ganhador do prêmio Nobel: “a religião é um insulto à dignidade humana. Com ou sem ela, teríamos gente boa e gente ruim fazendo coisas ruins. Mas, para que a gente boa faça coisas ruins, é preciso a religião”.
Dawkins também cita Blaise Pascal: “os homens nunca fazem o mal tão plenamente e com tanto entusiasmo como quando o fazem por convicção religiosa”.
Com essas duas frases começo esse artigo para alertar: não adianta se julgar uma “pessoa de Deus/Alá/Buda/Belzebu” ou qualquer outra entidade/crença para que se garanta a benevolência e integridade da raça humana. É uma enorme e falaciosa ideia que apenas pessoas religiosas seriam capazes de praticar o bem.
(E que fique claro de uma vez por todas – e antes que venham tentar nos acusar: nenhum(a) professor(a) é capaz de doutrinar. Apenas mostra os fatos, apresenta diferentes perspectivas para que jovens para que assim que começarem a desenvolver seu poder cognitivo, de raciocínio e opinativo, tenham opções para formarem suas próprias convicções com base em fatos, e não no negacionismo científico e obscurantismo retrógrado).
Assim, citando novamente Dawkins, não existe criança religiosa. Existem crianças influenciadas por pais e parentes religiosos, uma vez que ainda não apresentam capacidade intelectual de discernimento e escolha. No entanto, nada disso as impede de serem pessoas prestativas, empatas e solidárias).
Ser uma pessoa boa está intrínseca em nosso DNA. O ambiente e nossa vivência é que nos dita se seremos ou não bondosos. Basta olharmos os “cristãos sionistas” Trump e Bolsonero. Gritam aos quatro cantos da Terra (parafraseando aqueles que eles consideram um livro sagrado) e declaram “Deus (qual deus?) acima de tudo”, mas são seres abjetos, racistas, misóginos, degradantes da humanidade.
Dados levantados em seu livro, mostra que nos EUA, dos 22 estados com maiores taxas de assassinato, dezessete são conduzidas pelo Partido Conservador – aquele mesmo defensor de “tradições cristãs e familiares”.
Como Dawkins chama atenção, a própria história (?) bíblica é cruel. Filhas virgens sendo entregue à estupradores, misoginia, mortandade em massa de crianças e inocentes...em nome de um deus!?
Cito também outro trecho do livro em que Dawkins relata a destruição de Jericó por Josué, e da invasão da Terra Prometida em geral, chamando a atenção de que em nada não se distingue em termos morais a invasão da Polônia por Hitler – que era cristão – ou dos massacres dos curdos e dos árabes dos pântanos do sul por Saddam Hussein.
Quer maior prova de que ser “cristão” ou seguir qualquer dogma religioso não garante benevolência? Em 1920, quando Hitler tinha 31 anos, seu assessor Rudolf Hess, que seria vice-füher, escreveu uma carta ao primeiro-ministro da Baviera: “Conheço Herr Hitler muito bem, e sou muito próximo dele. Ele tem um caráter de uma honradez rara, cheio de bondade profunda, e é religioso, um bom católico”.
Em seu fatídico livro “Mein Kampf”, diz: “(...) portanto hoje acredito que estou agindo de acordo com a vontade do Criador Todo-Poderoso”. Fala ainda recente, partindo de sujeitos como Bolsonero e Trump. Muitos podem tentar acreditar que Hitler usava do pensamento de Napoleão, que dizia que “a religião é ótima para manter as pessoas comuns caladas”, ou ainda Sêneca: “a religião é considerada verdade pelas pessoas comuns, mentira pelos sábios e útil aos governantes”. Tudo isso seria favorável para o domínio e manipulação em massa; o famoso “nós (“cidadãos de bem”) contra eles (“comunistas”).
Pouco importa se esses indivíduos são cristãos/evangélicos/umbandistas/espíritas/satanistas, etc. Cada um pode acreditar no que quiser, seguir suas crenças. No entanto, como diz nossa Carta Magna, não devemos impor qualquer tipo de crença/religião para nossos cidadãos. Devemos respeitar a pluralidade e, acima de tudo, o Estado deve ter leis de acordo com a isenção religiosa, garantindo assistência à ateus, crentes, agnósticos ou qualquer indivíduo e suas crenças.
Volto a dizer: não é porque se criminaliza a homofobia que você será obrigado a ter um relacionamento homoafetivo; não é porque se descriminaliza o aborto que as pessoas seriam obrigadas a abortar; não é porque se legaliza o uso da canabis/maconha para fins medicinais e/ou recreativos que as pessoas serão obrigadas a usá-la. O livre-arbítrio segue sendo válido, cada um podendo escolher o que acha mais adequado, desde que não viole os princípios básicos de respeito de outros. O que não se pode é privar pessoas em “guetos do século XXI” e sua pluralidade de serem assistidas e amparadas por leis INDEPENDENTES de crenças.
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