Acordo amplo China-Irã altera a geopolítica

O acordo entre os dois países é "um movimento a ser observado nas dimensões econômicas, das disputas tecnológica e militares, num mundo tenso e em conflito crescente", afirmou o jornalista Roberto Moraes. "Um pacto que emerge como consequência e reação à política dos EUA em relação a estes dois países"

Os chanceleres do Irã, Mohamed Zarif, e da China, Yang Yi
Os chanceleres do Irã, Mohamed Zarif, e da China, Yang Yi (Foto: HispanTV)


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A China e o Irã fecharam um acordo bilateral amplo com duração prevista para 25 anos. É um acordo com bases de confiança e objetivos ousados que envolve os setores de energia, tecnologia, estratégia, desenvolvimento industrial, logística e defesa e que também parece apontar para uma triangulação com a Rússia. 

De certa forma, um pacto que emerge como consequência e reação à política dos EUA em relação a estes dois países e que deve chamar a atenção em termos de importância a nível da geopolítica global. 

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Segundo informações do colunista Simon Watkins, do respeitado portal OilPrice.com [aqui], esse acordo China-Irã, deriva de articulações que vem desde o ano de 2016 e estreita relações, em especial em dois campos estratégicos no mundo contemporâneo: energia e tecnologia.

Essas articulações presentes no acordo vai além da questão do petróleo e avança para o tema que tenho me dedicado ultimamente sobre o capitalismo de plataformas, as big-techs, a tecnopolítica e suas relações geoeconômica e geopolíticas.

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O assunto, de certa forma mistura a geopolítica da energia (petróleo) com a geopolítica da tecnologia e capitalismo de plataformas. Tudo misturado, mas que pode estar apontando para a entrada também da China (a Rússia já está) na disputa pelo controle do Oriente Médio.

Penso que o texto da coluna também pode também refletir apenas conjecturas para reforçar o discurso de Trump do tudo contra a China. De outro lado, pode também mostrar que a China sai de uma posição de defesa das seguidas sanções estadunidense para uma ofensiva pelo enfrentamento mais amplo. Há que se seguir observando.

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Ainda assim, vale destacar que este pacto sino-iraniano, no campo da tecnologia, possui foco envolvendo a instalação de um hub com controle digital (também chamado de espionagem eletrônica) e com capacidade de guerra, em torno do porto iraniano de Chabahar, numa extensão de 5.000 quilômetros.

O acordo se estende desde a montagem de um colossal sistema espionagem com 15 milhões de câmeras de CCTV (circuito fechado de TV) em 21 cidades, com sistema de reconhecimento facial, redes de tecnologia 5G, tudo no Irã, até a vigilância algorítmica centralizada na China, onde serão armazenadas em Big Datas, a partir do uso de Inteligência Artificial (IA). 

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O pacto envolve ainda negócios em instalações industriais no Irã, para atendimento a um demanda do mercado mundial, como a China já faz com sua produção. Se espalha também para infraestrutura de logística com eletrificação de ferrovia e interligação estratégica com o Cinturão da Nova Rota da Seda (One Belt - One Road), que reflete a expansão da presença chinesa nessa outra área do mundo, conforme planejamento para ampliação das conexões com outras regiões do mundo. 

Como se pode observar, o acordo trata de um mix destes dois setores estratégicos: o petróleo e a tecnologia. O Irã possui a 4ª maior reserva do mundo de petróleo – boa parte ainda inexplorada – e com exportações sob bloqueio estadunidense, enquanto a China é, atualmente, o maior importador global e com enorme capacidade de refino e produção petroquímica.

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O setor de tecnologia ampliou sua importância nos últimos anos, quando passa a ser o mais importante fator de produção no comércio global, através da ampla utilização das plataformas digitais num processo que temos chamado de plataformização. As Big Techs americanas e chinesas foram as que mais cresceram em termos econômicos (valor de mercado – capitalização – receitas e lucros) neste último período, em especial após a pandemia. Hoje, representam os maiores oligopólios já existentes na economia global.

Além disso, a plataformização possui a dimensão geopolítica, onde está se dando boa parte da disputa estratégica em termos geopolíticos com a guerra tecnológica EUA x China: Apple x Huawei. Amazon x Alibaba. ByteDance (TikTok) x Google (Youtube). WeCHat x WhatsApp), etc.

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Em síntese, esse acordo ligado a outros fatos sobre os movimentos globais e das superpotências, trazem evidências tanto sobre as relações econômicas, militares e políticas bilaterais entre os dois importantes países, no campo da energia e tecnologia, quanto nas repercussões geopolíticas que dele devem desdobrar.

Por tudo isso, se trata de um movimento a ser observado nas dimensões econômicas, das disputas tecnológica e militares, num mundo tenso e em conflito crescente.

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