ABIN clandestina coloca oligarquia diante de outra “escolha muito difícil”

Sejamos sérios, está tudo muito claro; tudo totalmente esclarecido. Nem é preciso desenhar para ilustrar a devastação ética, moral, social e política que está acontecendo no país, diz o colunista Jeferson Miola

Bolsonaro e Ramagem confraternizam na posse do então novo diretor da Abin 11/07/2019
Bolsonaro e Ramagem confraternizam na posse do então novo diretor da Abin 11/07/2019 (Foto: REUTERS/Adriano Machado)


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A suspeita está confirmada. Existe, sim, uma ABIN clandestina incrustrada dentro da ABIN oficial, a Agência Nacional de Inteligência.

Faz todo sentido, portanto, a afirmação do Bolsonaro naquela reunião ministerial de 22 de abril [que mais se pareceu com uma assembleia da “sociedade do crime”] de que ele possui seu “sistema particular de informações”.

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A ABIN clandestina, montada por Augusto Heleno e Alexandre Ramagem, e que usa a ABIN oficial como fachada, é o “sistema particular de informações” que Bolsonaro se vangloria ter.

O site The Intercept Brasil teve acesso ao trabalho secreto realizado para ajudar a defesa do Flávio Bolsonaro nos processos em que o filho miliciano responde pelos crimes de organização criminosa, lavagem de dinheiro, peculato e corrupção, e descobriu que o autor desta missão ilegal é o delegado da PF lotado na ABIN Marcelo Bormevet.

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Nas redes sociais, Bormevet esconde que é delegado da PF. Ele se apresenta como “100% patriota. Conservador. Cristão.”, e divulga conteúdos característicos da legião de fanáticos extremistas e bolsonaristas. Imparcialidade, profissionalismo e isenção técnica não são pontos fortes da carreira do delegado Bormevet que, por isso mesmo, é da confiança do Ramagem.

Conforme apurou o Intercept, o objetivo da operação ilegal era “Defender FB no caso Alerj demonstrando a nulidade processual resultante de acessos imotivados aos dados fiscais de FB” [FB=Flávio Bolsonaro].

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O presidente da Associação de Servidores da ABIN apontou que o relatório entregue à defesa de FB tem relevantes discrepâncias em relação ao padrão textual da ABIN. Analisando estilo, grafia e linguagem do documento, agentes da ABIN suspeitam que o relatório tenha sido escrito por algum policial federal, não por alguém da Agência.

Na opinião de um experiente funcionário, “um analista da ABIN jamais usaria aqueles termos. ‘Caps Lock’ em nomes próprios, por exemplo, é modelo policial, não da Agência” – dado que reforça sobremaneira a suspeita do envolvimento do delegado Marcelo Bormevet.

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Órgãos clandestinos de informações, de inteligência e de espionagem vicejam em tiranias e em regimes ditatoriais, mas são abominados em democracias reais, nas quais as instituições funcionam normalmente – o que, evidentemente, não é o caso do Brasil, submetido a um regime de Exceção e a um governo militar.

Estruturas paralelas de inteligência/informação/espionagem são dispositivos típicos de Estado autoritário, de terror. São usadas para bisbilhotar, perseguir, caçar, intimidar e ameaçar opositores do regime e, também, para proteger e planejar os ilícitos e os crimes perpetrados pelos usurpadores do poder.

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A ABIN é subordinada ao GSI/Gabinete de Segurança Institucional, ministério sediado ao lado do gabinete do Bolsonaro, e dirigido pelo general Augusto Heleno.

Na ditadura anterior [1964/1985] Augusto Heleno serviu como ajudante de ordens do Sylvio Frota, o general linha-dura que queria a perpetuação do regime sanguinário e que se opunha até mesmo à modesta “transição lenta, gradual e segura” programada pelo então ditador Ernesto Geisel. Augusto Heleno, o valentão que ainda hoje grita, soqueia a mesa e profere impropérios, aparenta não ter perdido o gosto e o apreço pelo totalitarismo.

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Está claro como a luz do sol o que está acontecendo no Brasil, dolorosamente dominado por grupos criminosos e milicianos que não hesitarão em promover uma escalada ditatorial. Bolsonaro e toda podridão que está aí é resultado da escolha da oligarquia dominante que praticou inomináveis vilanias para golpear a esquerda e impedir o regresso do Lula ao poder.

Em 8 de outubro de 2018, dia seguinte ao 1º turno eleitoral, o jornal Estadão, porta-voz desta oligarquia canalha, escreveu o editorial “Uma escolha muito difícil”, no qual disse que “Não será nada fácil para o eleitor decidir-se entre um e outro”.

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O Estadão se referia, inacreditavelmente, no que sustentava ser uma “escolha muito difícil” se decidir entre Haddad e Bolsonaro; entre tortura e democracia; entre estupro e respeito às mulheres; uma “escolha muito difícil”, enfim, de se decidir entre civilização e barbárie.

Ora, se colocar em dúvida diante de 2 alternativas tão obscenamente contrapostas é um estágio superior da aberração ética e moral desta oligarquia canalha.

Mas, ao fim e ao cabo, em ordem unida, a oligarquia jogou o Brasil no precipício fascista e “escolheu” o personagem dantesco que é, em última instância, feito à sua própria imagem e semelhança.

O escândalo da ABIN clandestina coloca esta oligarquia canalha outra vez diante duma escolha que só é “muito difícil” para canalhas e patifes.

Sejamos sérios, está tudo muito claro; tudo totalmente esclarecido. Nem é preciso desenhar para ilustrar a devastação ética, moral, social e política que está acontecendo no país.

A decisão a respeito da continuidade ou aprofundamento da barbárie está inteiramente nas mãos da oligarquia dominante, que “detém o poder total: tem poderes plenos para dar o destino que os criminosos merecem, porque domina o parlamento, a política, a mídia, as finanças e o judiciário”.

O compromisso com a instalação do impeachment do Bolsonaro e com a aceleração do fim do governo fascista-genocida deve ser, dentro desta perspectiva, o parâmetro norteador da posição – preferencialmente unificada – dos partidos progressistas e de esquerda na eleição das presidências da Câmara dos Deputados e do Senado.

A palavra de ordem “Fora Bolsonaro!” é um imperativo ético e uma necessidade histórica!

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