Abdicando da soberania energética

Chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, durante sessão do Parlamento do país em Berlim
Chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, durante sessão do Parlamento do país em Berlim (Foto: REUTERS/Michele Tantussi)


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O governo alemão concordou na sexta-feira, 22 de julho de 2022, com um pacote de estabilização  para a Uniper visando manter o fornecimento de energia e afastar o caos no mercado da Europa. A Uniper é uma das maiores fornecedoras de gás natural da Alemanha e estava à beira da ruína financeira. A empresa é a maior importadora do país de gás russo, usado para abastecer a indústria, gerar eletricidade e aquecer residências.
Na verdade a Uniper é, praticamente, uma subsidiária da Fortum, empresa sediada na Finlândia, que  tem o governo finlandês como acionista majoritário. O pacote de estabilização compreende um aumento de capital de cerca de 267 milhões de euros, sob a forma de Bunds (Títulos do Tesouro alemão, semelhantes aos Títulos do Tesouro americano), o que assegurará ao governo alemão uma participação de, aproximadamente, 30 por cento de ações da Uniper. Como parte do resgate, o governo ampliou o crédito concedido à empresa de 2 para 9 bilhões de euros. O resgate da Uniper é o mais recente exemplo do nível de insegurança e estresse que a guerra na Ucrânia está causando nas economias europeias vizinhas.

É fato que a Alemanha está enfrentando sua pior crise energética em décadas, depois que a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro, e Moscou reduziu a quantidade de gás que envia para a Europa. O aumento nos preços da energia derrubou o modelo de negócios da Uniper, que importava mais gás natural russo do que qualquer outra empresa na Alemanha. À medida que os custos disparavam, o governo alemão começou a se preocupar que o fracasso da empresa pudesse levar ao colapso de todo o sistema. Robert Habeck, ministro da economia da Alemanha, comparou esta crise com a forma como o Lehman Brothers desencadeou a crise financeira global de 2008. Na sexta-feira, ele disse que o governo não permitiria que uma empresa como a Uniper falisse e “arriscasse a segurança do fornecimento de energia da Alemanha”. (1)
O caso alemão imediatamente acende um sinal de alerta para a irresponsabilidade da equipe de Guedes com relação ao tema das privatizações, em geral, e de empresas do setor energético, de forma especial.

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Para países capitalistas desenvolvidos, como os Estados Unidos, o sistema federal elétrico é uma questão de segurança nacional. Para a China, nem se fala, predominam as empresas estatais. 

O que estamos vendo agora na Europa são empresas europeias, que foram privatizadas, sendo reestatizadas. Primeiro foi na Inglaterra, e agora na Alemanha. Parece que os governos europeus acordaram. 

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No Brasil do atraso, do posto Ipiranga, do ministro Paulo Guedes e de sua equipe de farfalhões, o que vemos é o trajeto inverso. Com a Medida Provisória 1.031/21, a Eletrobrás foi desestatizada. O governo deixou de ser o acionista majoritário ao promover a capitalização da empresa, em bolsas de valores, concluída no dia 14 de junho desse ano. Estamos na contramão do resto do mundo. A Eletrobras é a maior companhia do setor elétrico da América Latina. Não estava em “ruína financeira” como a Uniper. Em 2020, teve receita operacional líquida de R$ 29,08 bilhões e lucro líquido de R$ 6,34 bilhões. Em 2021, com a desaceleração motivada pela pandemia da Covid-19 houve uma pequena queda, um lucro líquido de R$ 5,7 bilhões. A Eletrobrás é absolutamente estratégica: responsável por cerca de um terço da energia elétrica do Brasil e quase metade das linhas de transmissão que cortam o território nacional. Detém, atualmente, 43% das linhas de transmissão do país, num total de 76.230 km. Entregar esse patrimônio é absolutamente inadmissível. (2)
A tática para a Petrobras é semelhante. Distribuem como dividendos grande parte do lucro auferido com o aumento do preço do petróleo no mercado internacional, e vão destruindo a empresa na medida em que investem pouco e não ampliam sua capacidade de produção. Vão matando a empresa devagar e entregando o pré-sal – considerada a maior reserva do mundo de petróleo off-shore – para estrangeiros.
Sem dúvidas há um projeto de desmonte em curso, comprometendo a soberania energética brasileira. Mais uma vez estamos abdicando do desenvolvimento autônomo, em favor da dependência externa. A vitória de Lula será decisiva para reverter esse quadro. A permanência de Bolsonaro o tornará irreversível.

Notas:

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  1. https://www.moneytimes.com.br/governo-da-alemanha-fecha-pacote-para-ajudar-uniper-empresa-do-setor-de-energia/
  2. https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/06/14/privatizacao-da-eletrobras-veja-perguntas-e-respostas.ghtml

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