A xepa do golpe

Diz um xepeiro, assustado ex-resistente, que se o impedimento foi aprovado pelo Congresso e pelo Judiciário, então não houve golpe. Como? Imaginem a cena sem a qual, segundo essa xepa, seria impróprio falar em usurpação: Eduardo Cunha anunciando que o golpe foi aprovado por 367 democratas!

Bras�lia - Presidente da C�mara, Eduardo Cunha, fala da decis�o do ministro STF, Marco Aur�lio Mello, de obrigar a instalar comiss�o para impeachment de Michel Temer (Valter Campanato/Ag�ncia Brasil)
Bras�lia - Presidente da C�mara, Eduardo Cunha, fala da decis�o do ministro STF, Marco Aur�lio Mello, de obrigar a instalar comiss�o para impeachment de Michel Temer (Valter Campanato/Ag�ncia Brasil) (Foto: Wanderley Guilherme dos Santos)


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Consumado o golpe, aparecem os teóricos do golpe consumado; como de hábito, culpando as vítimas. Mas essa não é a única xepa servida e por servir na feira do adesismo. Por razões de caráter, desespero ou tentativa de reduzir o estrago, as fileiras da resistência democrática emagrecerão. Carpideiras ficarão imobilizadas, descrentes na eficácia da oposição radical. “Oposição radical”, que fique claro, significa recusar reconhecimento aos usurpadores e, consequentemente, desobrigação de obedecer a suas diretivas. Significa, ainda, compromisso com ações, discursos, panfletos, ocupações e escrachos que denunciem a usurpação política e a folha corrida de roubalheiras das fúnebres figuras do governo interino de Michel Temer. A democracia brasileira só será restabelecida quando a presidência da República for ocupada por alguém eleito por votação direta e livre.

Diz um xepeiro, assustado ex-resistente, que se o impedimento foi aprovado pelo Congresso e pelo Judiciário, então não houve golpe. Como? Imaginem a cena sem a qual, segundo essa xepa, seria impróprio falar em usurpação: Eduardo Cunha anunciando que o golpe foi aprovado por 367 democratas! De fato, não houve a declaração. E ainda para definitiva tranquilidade do xepeiro, o presidente do STF irá declarar (como não?) que sendo o rito constitucional translúcido, não cabe ao Judiciário apreciar, no mérito, decisões do Legislativo (muitos sabendo, contudo, tratar-se de condenação sem comprovada prática de crime). Em socorro à boa consciência dos xepeiros acode, ademais, o engodo de que é safra do melhor Direito, em qualquer caso, avaliar o estrito formalismo do processo, às favas a base factual em que se apoie. Assim justificava-se, em 1964, que depois das escaramuças políticas e jurídicas dos primeiros instantes, pois combates não houve, o depurado Congresso tenha colaborado com a ditadura, e o Supremo, fiel à tradição, referendado tudo: a tortura que oficialmente nunca houve e os desaparecidos que oficialmente nunca existiram. Os xepeiros da época também vigiavam bravamente o exemplar cumprimento das leis, dormindo sem pesadelos ou coronhadas à porta de casa, altas madrugadas.

Outro contingente de xepeiros recrutará cientistas aborrecidos com a incorporação do antigo ministério ao atual remanso das Comunicações, mas satisfeitos se o responsável pela nova Secretaria for escolhido por indicação de respeitáveis Associações. Rápidas, as celebridades das Artes começam a busca por mulheres para o defenestrado ministério da Cultura, ressuscitado como Secretaria. E aí ficará tudo bem. Que direitos humanos, integração racial, incorporação regional, inclusão social, que nada! Qual democracia, meu catso? Cada um por si, que com Deus negociam os evangélicos.

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Depois de expurgadas, contarão as reservas da resistência democrática com voluntariado realista. Não caberá surpresa nem susto quando os usurpadores cumprirem a promessa de aplicar com severidade a legalidade de Romero Jucá, Michel Temer e associados, com a garantia da grife STF. Nada a esperar das instituições: Lula vai ser preso; Dilma Roussef, enxovalhada, sua derrubada definitiva virá de processo quase sumário. Não dura nem dois meses. Os xepeiros ficarão calados. A Lava-Jato, depois de pirilampos em torno de tucanos sem importância, vai investir na destruição de todos os políticos progressistas, embora, consultem os nomes e números oficiais, a vasta maioria de inequívocos corruptos sentenciados até agora seja de peemedebistas (PMDB) e pepistas (PP).

Os resistentes à usurpação são, desde já, tidos por sublevados e subversivos.  Mas os xepeiros, calados estão, calados continuarão, apenas observando a generosidade com que a “lei” desaba sobre o País.

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