A volta de Lula e a defesa da soberania nacional

Lula está voltando porque está disposto a oferecer ao país experiência política de homem forjado na luta contra a ditadura, na luta sindical, na batalha de tirar milhões de brasileiros da miséria absoluta

São Bernardo do Campo- SP- Brasil- 04/03/2016- Ex-presidente Lula chega ao seu apartamento em São Bernardo do Campo. Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula
São Bernardo do Campo- SP- Brasil- 04/03/2016- Ex-presidente Lula chega ao seu apartamento em São Bernardo do Campo. Foto: Ricardo Stuckert/ Instituto Lula (Foto: Chico Vigilante)


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Doa a quem doer, Lula é o novo ministro da Casa Civil de Dilma Rousseff. Era tudo que nós petistas da velha guarda queríamos ver, Dilma reagindo às tentativas de golpe e tomando decisões que não dependem da "base aliada" no Congresso- muitas vezes mais inimiga que aliada.
A direita, é claro, principalmente os mais corruptos, vão esbravejar, chamar o povo pra rua, clamar a ajuda dos militares, sob a alegação de que Dilma nomeou Lula para salvá-lo das garras do juiz Sérgio Moro - aquele que sob os holofotes da Globo no ápice de sua ação está pronto para vestir a faixa de salvador da pátria dos males da corrupção.

Mas não é nada disso. Ou melhor, não é só isso. Lula está voltando porque permitir que Moro o coloque em prisão preventiva neste momento, como pretende, é dar fôlego à estratégia da direita de acabar com o PT e desestruturar totalmente o governo Dilma e as chances petistas para 2018.

É muito mais do que isso, é abandonar a defesa do país e permitir que a direita brasileira e seu complexo de vira latas entregue o Brasil ao capital internacional.

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Há duas coisas que Lula defende e que os EUA não admitem: a soberania sobre o petróleo e o programa nuclear. Não há como ter soberania sobre o petróleo se não tivermos submarinos nucleares.

A estratégia da Lava Jato ao enlamear a imagem da Petrobras como empresa brasileira é alcançar ao mesmo tempo dois objetivos de peso: criar condições para o impeachment de Dilma e substituir os contratos de empresas brasileiras fornecedoras de equipamentos e serviços por companhias estrangeiras. Isso só para começar. Depois vem a entrega do pré-sal.

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A crise fomentada por Moro paralisou as maiores empreiteiras deste país, com a clara intenção de privilegiar os interesses de multinacionais do setor na América do Sul.

Por que Moro deu 18 anos de cadeia para o presidente da Odebrecht enquanto outros estão lentamente negociando penas reduzidas por meio de delações premiadas, vazadas parcialmente de acordo com interesse escusos?

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A Odebrecht, a maior empreiteira brasileira, traduz a política externa brasileira de aproximação dos países latino americanos e africanos de língua portuguesa, dos BRICs, dando emprego a milhares de brasileiros dentro e fora do país.

A construção do Porto de Mariel, em Cuba, pela Odebrecht, em parceria com a China, é uma mostra de que Lula enxergava a necessidade estratégica de ter um porto de porte aberto a produtos de exportação brasileiros com destino à Asia e seus mercados.

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A reaproximação com Cuba era tão importante que o próprio Obama tratou de fomentá-la. Mas a direita brasileira se nega a enxergar o óbvio.

Na missão nefasta de viabilizar o plano norte americano contra nosso programa nuclear e a construção de submarinos movidos a energia atômica para a defesa do pré-sal, Moro colocou na cadeia um de nossos maiores cientistas, o almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, conhecido como o pai do programa nuclear brasileiro.

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O Brasil inteiro sempre se curvou a Othon, a quem devemos o maior feito de inovação da nossa história moderna: o processo de enriquecimento de urânio através de ultra centrífugas.

O trabalho deste homem sobreviveu às crises do governo Sarney, ao desmonte da era Collor, aos problemas históricos de escassez de recursos, aos boicotes externos de países que já dominavam a tecnologia. Mas Moro quer destruir o que ele representa e os que defendem suas ideias anti imperialistas.

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Pouco antes do almirante ser preso, em fevereiro de 2015, o Procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Moro e outros procuradores da Lava Jato estiveram nos EUA e se reuniram com a procuradora-geral dos EUA, Loretta Lynch, ex-executiva de uma empresa concorrente da Eletronuclear. Hem?

A imprensa brasileira alegou, pasmem, que foram pedir apoio das autoridades americanas nas investigações sobre as fraudes na Petrobras? O que é isso? A Polícia Federal brasileira havia entrado de férias? E a Justiça?

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Na agenda do grupo de procuradores brasileiros reuniões com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, a Agência Federal de Investigação (FBI) e com a Securities and Exchange Commission (SEC), órgão que fiscaliza o mercado de capitais americano. Fizeram o dever de casa do entreguirmo!

O governo Lula inverteu a rota da era FHC de demolição da indústria bélica brasileira e cortes no orçamento das Forças Armadas, que dispensavam os soldados ao meio dia por não poder fornecer-lhes o rancho. Isso agradou aos militares.

Além de fortalecer o orçamento das Forças Armadas e do Programa Nuclear, os governos petistas promoveram uma recuperação de boa parte do armamento bélico, comprados inclusive da Rússia. Essa é uma temática que irrita os americanos.

Com sua visão estratégica nacionalista os militares perceberam que a intervenção dos EUA, no Iraque, na Líbia, terminou por destruir a infraestrutura destes países e expulsou as grandes empresas brasileiras que estavam trabalhando lá. As mesmas que Moro está tentando a todo custo paralisar.

O que Moro está fazendo aqui é a mesma coisa que os EUA fizeram, sem bombardeio, sem infantaria. Está paralisando a Petrobrás e com isso a engenharia nacional, que são as grandes concorrentes de obras dos EUA em outros países.

Há seis meses, em setembro de 2015, João Roberto Marinho, assinou editorial afirmando que Dilma deveria ficar até o fim de seu mandato. Alguém acreditou nem que fosse por um segundo na honestidade de sua declaração ? Eu não.

No mesmo mês, no editorial A última Chance, os Frias, retrato do pensamento das indústrias e das finanças paulistas, escancara o que a direita quer: ou Dilma opta por destruir os avanços e os direitos sociais conquistados e garantidos nos governos petistas ou não haverá outra chance.

A direita sabe o que quer. Nós também. Eles defendem seus interesses econômicos e financeiros, nós os de todos os brasileiros. Essa é a nossa luta.

A direita e seus colunistas alinhados com os tucanos pedem que a "voz das ruas" acelere o golpe. A lógica deles é tirar Dilma, que nada fez para conter as investigações e é reconhecidamente honesta, para colocar no poder justamente aqueles que seriam, em tese, os próximos alvos das investigações porque as denúncias contra eles não podem mais ser escondidas ou ignoradas.

Lula está de volta e esta é uma decisão soberana da presidenta Dilma. Não cabe à mídia familiar brasileira decidir o programa do governo Dilma ou seu ministério.

Colocar Lula no governo é uma maneira de barrar a sanha entreguista de Moro e seus comparsas da oposição. Lula está ciente isso.

Está voltando porque está disposto a oferecer ao país experiência política de homem forjado na luta contra a ditadura, na luta sindical, na batalha de tirar milhões de brasileiros da miséria absoluta.

Lula levou o nome do Brasil a ser conhecido internacionalmente pelos resultados sociais e econômicos obtidos durante seu governo: transformar 500 anos de desigualdade entre a senzala e a casa grande em desenvolvimento com distribuição de renda, mais emprego, mais saúde, mais universidades, mais luz no campo, mais combate à corrupção, mais respeito às liberdades democráticas.

Lula volta a compor o governo porque é um excelente negociador, um líder nato, seu nome carrega o simbolismo e o poder de todas as lideranças populares, no campo e na cidade, nas quais as ações da direita fizeram reacender o dever e o sentimento histórico de "ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil".

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