A vocação golpista Augusto Heleno

O fim do desgoverno Bolsonaro representa o retorno de gente como Augusto Heleno para o ostracismo, mas não liquida o neofascismo

Augusto Heleno
Augusto Heleno (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)


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Acredito que a turma do General Heleno tentou criar condições objetivas para “justificar” um golpe de Estado. 

É possível afirmar a vocação golpista de Heleno, com base na sua história.

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Numa matéria de 17 de dezembro de 2021, da revista ISTO É, o general Augusto Heleno afirmou que toma remédios tranquilizantes, e apenas por essa a razão o Brasil não era novamente uma ditadura, pois, segundo ele: “tenho tomado Lexotan na veia diariamente para não levar o presidente Bolsonaro a tomar uma atitude mais drástica”, em referência ao que considera ingerências do STF nas decisões do Executivo.

Seu golpismo vem de longe... Quando trabalhava como ajudante de ordens do general Sylvio Frota, ministro do Exército no governo Geisel, apoiou Frota numa tentativa de golpe dentro do próprio golpe, contra Geisel, com o objetivo de endurecer o regime. 

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Geisel e Golbery faziam uma “abertura lenta, gradual e segura”, mas para a turma de Frota, Heleno entre eles, isso não era adequado. Eles queriam ser ainda mais duros, em outras palavras: desejavam seguir torturando e assassinando presos políticos, como já vinham fazendo nos porões do País.

Além de “linha dura” e golpista, Augusto Heleno seria também um assassino. Quando ele comandou a “missão de paz” liderada pelo Brasil no Haiti foi diretamente responsável por um dos episódios mais sombrios da participação brasileira em um cenário internacional, quando coordenar um ataque com 440 soldados a uma favela no país caribenho, com o objetivo de capturar um perigoso criminoso local. 

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A ONU, oficialmente, informou que na operação foram disparadas 22 mil balas, em um confronto que durou sete horas. O resultado: o criminoso foi morto e vinte e duas mil balas foram usadas para matá-lo. Heleno considerou a operação “um sucesso”, mas a opinião não foi compartilhada pelas ONGs humanitárias que acompanhavam a ação. Segundo vários grupos, o que ocorreu ali foi um massacre, com dezenas de civis morrendo no fogo cruzado, inclusive mulheres e crianças.

Um pouco de História... Com o apoio do deputado Siqueira Campos e do general Jayme Portella, o ministro do Exército, Sylvio Frota, articulou movimento para impedir a candidatura de João Figueiredo e depor o presidente Geisel. 

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O que demonstra que a di­ta­du­ra ci­vil-mi­li­tar não foi ho­mo­gê­nea, havia divisões entre os gru­pos mi­li­ta­res. O gru­po da “Sor­bon­ne”, por exemplo, composto por Cas­tel­lo Bran­co, Er­nes­to Gei­sel, Gol­bery do Cou­to e Sil­va e Jo­ão Fi­guei­re­do, pla­ne­java de­vol­ver o po­der aos ci­vis; já o gru­po de Cos­ta e Sil­va, Emi­lio Gar­ras­ta­zu Mé­di­ci e Sylvio Frota, tra­ba­lhou pa­ra retardar (e até impedir) a Aber­tu­ra. 

Já em 1966, pe­lo me­nos na ver­são de al­guns mi­li­ta­res, o pre­si­den­te Cas­tel­lo Bran­co tentou pre­pa­rar uma cer­ta aber­tu­ra, che­gan­do a pen­sar no lan­ça­men­to de um ci­vil, co­mo Bi­lac Pin­to, ou de um mi­li­tar-quase civil, co­mo Ju­racy Ma­ga­lhã­es. Mas, pres­sio­na­do pe­la li­nha du­ra, te­ve de en­go­lir o su­ces­sor Cos­ta e Sil­va. 

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E havia as provocações palacianas. Cos­ta e Sil­va, ministro da Guerra, com­por­ta­va-se como pri­mei­ro-mi­nis­tro, e afrontava o presidente, conforme re­la­ta o jornalista e pesquisador Elio Gas­pa­ri, em “A Di­ta­du­ra En­cur­ra­la­da”, ape­sar da au­to­ri­da­de de Cas­tel­lo Bran­co, ditador-presidente, 

Em 1977, Er­nes­to Gei­sel e do mi­nis­tro do Exér­ci­to, Sylvio Fro­ta reeditam o conflito de 1966. Fro­ta tra­ba­lhou pa­ra mi­nar o po­der de Gei­sel e pa­ra se im­por co­mo candidato à sua su­ces­são, tentando des­ban­car o fa­vo­ri­to, Jo­ão Figueiredo. 

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Fro­ta es­ta­va en­tre aque­les que ava­li­a­vam que o re­a­ta­men­to de re­la­ções di­plo­má­ti­cas com Chi­na e An­go­la era um pas­so em di­re­ção ao so­ci­a­lis­mo e não me­ro exer­cí­cio de prag­ma­tis­mo co­mer­cial e ge­o­po­lí­ti­ca, esse pensamento, tão comum ao bolsonarismo, já era considerado arcaico em 1977. 

Para se ter ideia da estupidez do pessoal “linha dura”, os ge­ne­ra­is Adyr Fi­ú­za de Cas­tro, Jo­ão Pau­lo Mo­rei­ra Bur­ni­er e Ênio dos San­tos Pi­nhei­ro “só fal­ta­ram di­zer que Gol­bery era agen­te da In­ter­na­ci­o­nal So­ci­a­lis­ta”. Gei­sel, se­gun­do Bur­ni­er, te­ria di­to: “Acho que de­ve­mos fa­zer um go­ver­no de cen­tro-es­quer­da”. Gol­bery, na opi­ni­ão do ra­di­cal Bur­ni­er, “era um ho­mem vol­ta­do pa­ra a área do so­ci­a­lis­mo” (esses relatos estão no li­vro “A Vol­ta aos Quar­té­is — A Me­mó­ria Mi­li­tar So­bre a Aber­tu­ra”, organizado Celso Castro, Maria Celina D’Araujo e Gláucio Ary Dillon).

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O fim do desgoverno Bolsonaro representa o retorno de gente como Augusto Heleno para o ostracismo, mas não liquida o neofascismo, renascido no Brasil através do olavobolsonarismo, nem sua vocação golpista e o pouco apreço pela democracia.

Essas são as reflexões.

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