A vitória do cinismo

“Foi para o gabinete de um senador evangélico, reuniu-se com evangélicos, recebeu a visita de Michelle Bolsonaro, evangélica, e da patética e perigosa Damares Alves, além, claro, dos mercadores da miséria e da fé alheias autonomeados ‘pastores’”, escreve o jornalista Eric Nepomuceno sobre a aprovação de André Mendonça ao STF

André Mendonça durante sabatina
André Mendonça durante sabatina (Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado)


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Por Eric Nepomuceno, Jornalistas pela Democracia - Diz a lei que, para integrar o corpo de ministros do Supremo Tribunal Federal, é preciso ter notório saber jurídico e reputação ilibada. 

O currículo de André Mendonça mostra que ele nasceu em Santos, estudou em Bauru, fez especialização em Brasília, mestrado e doutorado em Salamanca. Aliás, na defesa da tese de doutorado tirou a nota máxima. 

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Até aí, tudo bem: além de viajar, estudou bastante. Mas daí a alcançar notório saber jurídico há um oceano de distância.  

Quanto a ter reputação ilibada, nem pensar. Basta lembrar que além de ter sido nomeado Advogado-geral da União, ele foi ministro da Justiça de Jair Messias. E qualquer um que participe ou tenha participado do pior e mais abjeto governo da história da República não vale nada, absolutamente nada. 

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Ele foi parar na mais alta corte de Justiça deste país em frangalhos pelo voto de 47 senadores. Outros 32 votaram contra.  

Para seduzir esses 47, o mesmo sujeito que bateu continência – literalmente – para Jair Messias e disse que o mandatário era “um profeta” fez de tudo. Prometeu não ser o que é e não fazer o que fez. E os 47 acreditaram. E agora, como será? 

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Acompanhei boa parte da longa sabatina. Foi fácil constatar que na preparação para o cara-a-cara com senadores Mendonça contou, além do implante capilar, com muito bons treinadores.

Ele apareceu calmo, metódico, quase singelo. Tratou de desfazer a imagem do “terrivelmente evangélico” desenhada por Jair Messias para justificar sua indicação. 

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Uma frase que certamente foi bem decorada no treinamento chamou a atenção: “Na vida pessoal, a Bíblia; no Supremo, a Constituição”.

Defendeu o Estado laico, reconheceu o direito da chamada união homoafetiva, ao falar sobre o AI-5 tão sonhado pela família presidencial afirmou que não há espaço para retrocessos no país, disse que tortura é crime, enfim, foi contra tudo que é defendido pelo seu mentor, Jair Messias.

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Com isso conseguiu, da maioria dos senadores, uma recepção quase condescendente.  

E assim que teve seu nome aprovado, voltou a ser o mesmo de sempre. Foi para o gabinete de um senador evangélico, reuniu-se com evangélicos, recebeu a visita de Michelle Bolsonaro, evangélica, e da patética e perigosa Damares Alves, além, claro, dos mercadores da miséria e da fé alheias autonomeados “pastores”.

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Saiu de lá vitorioso para suas primeiras declarações públicas, e não deu outra: lascou uma frase que apenas confirma o já sabido.

Disse que sua nomeação tinha sido “um passo para um homem, e um salto para os evangélicos”. E concluiu: “Dei glória da Deus por essa vitória”.

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Jair Messias, claro, não decepcionou: “O meu compromisso de levar ao Supremo um “terrivelmente evangélico” foi concretizado”.

Resta saber se quem aprovou seu nome esperava outra coisa. E também saber como ele se comportará quando estreie a toga: além de “terrivelmente evangélico” será também “terrivelmente obediente” a Jair Messias, a exemplo da nulidade chamada Nunes Marques?

Há pouco o mandatário disse que com a chegada dessa nulidade ele passou a ter “10% do Supremo”. Será que agora passou a ter 20%?

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