A vida já se encarregou de condenar e punir Sérgio Cabral

"Sua condenação não é a dos seis anos já cumpridos nem dos 400, que jamais cumprirá. Sua condenação é eterna, é moral", diz Hildegard Angel

Ex-governador do Rio Sergio Cabral
Ex-governador do Rio Sergio Cabral (Foto: Agência Brasil)


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Por Hildegard Angel, para o 247 

Sou 100% contra corrupção e contra perseguição.  Sérgio Cabral inventou a corrupção no Brasil? Os demais políticos são todos anjinhos, éticos, decentes? Me engana que eu gosto.

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"Ain, mas S. Cabral roubou mais...". Você fez o cálculo? Acho que nem o Einstein acertaria essa conta.

Ladrão é ladrão. O que rouba no troco e o que assalta o trem pagador. Ladrão pior é o que rouba, mente que não rouba e aponta o dedo para os seus "iguais", que se ferraram, na maior cara dura. Esses ladrões estão na TV, ditando regra, com ar de santidade, peito cheio de autoridade, enquanto multiplicam o patrimônio.  Os ladrões do Centrão, por exemplo, são ladrões master plus. Ladrão que confessa, se arrepende, e revela tudo, eu até me sensibilizo. 

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O auge da ignorância é acreditar em pena de 400 anos, e cobrar, quando o código penal limita prisão a 30 anos, no máximo. É lei! A prisão preventiva é cautelar, quando há risco de reincidência. Ainda não é a execução da pena, apesar desse tempo poder ser posteriormente subtraído do total. Chega a ser uma aberração penal a prisão preventiva se estender anos a fio, sobretudo com nosso sistema prisional sobrecarregado, com 200 prisioneiros no espaço para 20.

Quem quiser posar de templário e concentrar todo seu ódio num único indivíduo, entre milhares de ladrões, que fique à vontade. Mas o tempo da Inquisição já passou, sobretudo num país com uma Justiça tão peculiar que não condena quem prega golpe de estado, tortura, assassinato, fascismo. O Brasil.

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Prefiro concentrar meu senso de justiça, apesar de leiga em Direito, em condenar injustos, como Moro, exibidos, como Bretas, parciais, como Aras, Lindora etc.

Quanto a Sérgio Cabral, sua condenação não é a dos seis anos já cumpridos nem dos 400, que jamais cumprirá. Sua condenação é eterna, é moral. Condenação do arrependimento profundo, dos amigos, parceiros e parentes, que se afastam. Dos vizinhos, que viram a cara. Dos anônimos, que ofendem em público, posando de vestais. De ver um filho muito amado seguir-lhe o mau exemplo. Condenação é ter a vida destroçada por sua cobiça descontrolada.

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Conheci Sérgio Cabral um jovem político, grande orador, com as melhores referências em sua origem, a mãe respeitada museóloga, o pai um dos maiores nomes do jornalismo cultural e da MPB. Menino de Cavalcante, crescido e cercado por artistas, intelectuais, o melhor do melhor, e ouvindo o melhor samba. Conheci Sérgio casado com Suzana Neves, sobrinha de Tancredo, filha de minha professora de inglês no ginásio. Pessoas do trabalho, com carreira de lutas. 

Num determinado momento desse percurso, Sérgio desandou. Muitas tentações, cercado de corruptos e corruptores. Mesmo com seus valores e sua estrutura familiar, sucumbiu, mordeu a maçã venenosa e caramelada, lambuzou-se com ela. Desviou para si recursos do povo. Tudo verdade. 

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Apesar de tudo isso, posso dizer, sem ser contraditória, que ele foi um bom governador. O melhor que tivemos desde Carlos Lacerda, na Guanabara. Um realizador. Impulsionou o Rio de Janeiro, desenvolveu, construiu. Tenho que reconhecer. 

Devo alguma coisa ao governo de Sérgio Cabral? Nadica de nada. Posso dizer que até pelo contrário. Porém esta é a minha opinião, que pode não ser a melhor e pode não ser a do leitor que me lê. Prefiro correr o risco do que fazer coro a uma perseguição desenfreada. A condenação perpétua de Cabral já está sendo cumprida.

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