A vida e as virtudes
Falta ao presidente, e aos seus, generosidade, que é a virtude de dar, que ao contrário do amor, que nós não escolhemos sentir, a generosidade é virtude do esforço, ela exige que sejamos livres, para ser generoso é necessário ser livre de si mesmo, das próprias ações mesquinhas e pequenas posses, de ressentimentos e ciúmes
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Por Pedro Benedito Maciel Neto
Há momentos, acasos mágicos. Um desses acasos ocorreu quando me deparei com um livro denominado “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes” esquecido por mim, que merecia ser lido, relido e seu conteúdo compartilhado com todos que eu pudesse alcançar.
Ele estava lá na bancada do meu escritório em casa, ainda sem lugar próprio na estante, esperando a visita da Rosana, bibliotecária que, pacientemente, cuida dos meus companheiros, conselheiros e críticos, os meus livros; ele estava condenado ao esquecimento após ser catalogado, pois não o desejei, ganhei da Celinha. Mas num momento mágico em que nossos olhares se cruzaram tudo mudou.
O livro estava lá, na pilha, pendente de catalogação, e leitura, fosse ele catalogado sem a necessária leitura, mesmo que apressada, eu seria ainda mais pobre, há muita riqueza nele.
Esse momento confirma: a sorte é força divina reguladora dos acasos, apesar de não existirem acasos...
Bem, o autor, André Comte-Sponville, trata de categorias que ele chama de virtudes, seriam elas: fidelidade, prudência, temperança, coragem, justiça, generosidade, compaixão, misericórdia, gratidão, humildade, simplicidade, tolerância, pureza, gentileza, boa-fé e o humor. Pensei: “Meu Deus” Quanto me falta para ser uma pessoa virtuosa...”Antes de escrever sobre as virtudes, apresenta a Polidez, como condição de existência válida daquelas. Para ele a polidez, que sequer é uma virtude, é o ponto em que a virtude se inicia, e a maneira que temos de praticá-la. “Imitando virtude, (...) “tornamo-nos virtuosos. (…) A polidez antecede a moral e a torna possível. (…) Nós devemos primeiro adquirir a aparência e maneira de bom “.A polidez não é de forma suficiente para ser educado, mas é um começo; ela guia os primeiros passos de uma criança em moralidade, em diferenciar entre o certo e o errado. Aprendemos a ser bons para os outros antes de saber por que isso é necessário.
A partir da reflexão sobre essas virtudes pontuo: vivemos no mundo uma pandemia gravíssima; países uniram-se e estabeleceram medidas necessárias de combate ao vírus mortal; cientistas do mundo todo, das áreas pública e privada, desenvolveram muito rapidamente vacinas, os quais são esperança para todos.
Contudo, vemos no Brasil a normalização da barbárie, através de ações e omissões do presidente da república, o qual mantém e propõe comportamento absolutamente inadequado frente a realidade, negando a gravidade, desprezando a vida humana. Um presidente com inegável base popular, não tem esse direito, e seus atos e omissões lhe serão cobrados pela História, e além desse plano.
Não vou afirmar que o presidente é um genocida, mas o tempo, primo-irmão da verdade, haverá de revelar a extensão de tudo quanto foi negado ao povo brasileiro, suas consequências, e as lágrimas dos familiares daqueles que tiveram suas vidas abreviadas, haverão de inundar a consciência de cada um dos burocratas insensíveis e egoístas, que ciosos pela manutenção e ampliação de seus privilégios, omitiram-se, ou simplesmente mantiveram-se sabujos da maldade, da irresponsabilidade, e do negacionismo.
Voltando ao “Pequeno tratado das grandes virtudes”, quais seriam as virtudes que faltam ao nosso presidente, e à sua turma de sabujos omissos? Bem, não tenho dúvida alguma que lhe faltam todas, pois falta a ele, e aos seus, polidez, essa condição essencial à existência e prática delas. O que o presidente “e sua horda de assassinos e ladrões” faz, é negar a Justiça, enquanto virtude. Na tradição cristã, a Justiça é a quarta das virtudes cardeais – com prudência, temperança e coragem – ela é boa em si mesmo. Não me refiro a Justiça no contexto da Lei, porque a Lei pode ser injusta, me refiro à igualdade, pois, mesmo que nem todos os homens sejam efetivamente iguais (se fosse esse o caso, não haveria ricos ou pobres), temos de tratar todos de forma justa, e falta essa virtude ao mandatário da república.O que é somente uma pessoa justa? Alguém que coloca sua força a serviço da lei e direitos e, decretando por si mesmo a igualdade de todos os homens, independentemente das inúmeras desigualdades no que eles são, ou podem fazer, assim, institutos de uma ordem que não existe, mas sem a qual nenhuma ordem jamais poderia nos satisfazer, pois a virtude da Justiça consiste em se comportar exatamente como se houvesse igualdade, mesmo quando se é o mais forte em uma relação desigual.
O presidente faz exatamente o contrário.
Falta ao presidente, e aos seus, generosidade, que é a virtude de dar, que ao contrário do amor, que nós não escolhemos sentir, a generosidade é virtude do esforço, ela exige que sejamos livres, para ser generoso é necessário ser livre de si mesmo, das próprias ações mesquinhas e pequenas posses, de ressentimentos e ciúmes. Vivemos um tempo em que no Planalto, no Alvorada e na Esplanada não há Compaixão, por lá não há “participação no sofrimento dos outros”, a compaixão é um sentimento, não é um dever, temos a responsabilidade de educar e desenvolver nossa capacidade de sentir, porque a compaixão nos conecta com a realidade; a compaixão nos permite passar do reino emocional para o reino ético, a partir do que sentimos com o que queremos, do que somos ao que devemos fazer.
Essas são as reflexões.
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