A vida boa dos garimpeiros da Faria Lima

'Há cumplicidade entre o grande empresário não quer mexer no que o beneficia, e o pequeno continua entranhado de bolsonarismo', alerta o colunista Moisés Mendes

Obra de infraestrutura, Bolsa de Valores (círculo da montagem) e a Faria Lima, em referência à Avenida Brigadeiro Faria Lima (SP), um dos principais centros comerciais e financeiros do Brasil
Obra de infraestrutura, Bolsa de Valores (círculo da montagem) e a Faria Lima, em referência à Avenida Brigadeiro Faria Lima (SP), um dos principais centros comerciais e financeiros do Brasil (Foto: ABR)


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Por Moisés Mendes, para o 247

Os garimpeiros da Amazônia nunca vão entender por que são expulsos das terras yanomamis e por que seus colegas garimpeiros da Faria Lima contam com proteção do Banco Central, de economistas e da grande imprensa.

Eles não entendem porque nem sabem que a Faria Lima existe. Mas os garimpeiros da Amazônia e os garimpeiros da Faria Lima poderiam participar da mesma confraria como predadores de ambientes e patrimônios coletivos.

Só os garimpeiros da floresta, ou a parte exposta e chinelona deles, são expulsos e condenados pelas elites ambientalistas, pelos jornalões e por grupos econômicos com boa consciência sobre preservação do meio ambiente.

Por isso o maior desafio para Lula hoje não são mais os peões garimpeiros de terras indígenas a serviço de grupos financeiros protegidos pelo bolsonarismo (até porque já estão em fuga), mas os garimpeiros da Faria Lima com proteção do Banco Central.

A rafuagem que foge na Amazônia é até atacada pelos patrões dos garimpeiros da Faria Lima. Capitalistas urbanos têm compromissos com a natureza e com os povos e os bichos das florestas. E repudiam o garimpo ilegal e destruidor.

Não é preciso procurar muito para encontrar chefes de garimpeiros da Faria Lima que já escreveram artigos, fizeram discursos e praticaram o marketing do bom capitalista.

Homens da produção e do mercado financeiro, que hoje se misturam, não compactuam, se têm alguma sensibilidade, com a destruição de rios, matas e indígenas.

A porção fofa dessa gente tem pactos declarados com o presente e o futuro da humanidade.

Mas, na economia do dinheiro, o que prevalece é a índole predatória dos que vivem da disseminação do medo com o descontrole fiscal, a gastança e a inflação.

Os garimpeiros da selva são primitivos, não eles. O capitalismo brasileiro que vive de juros e seus derivados nunca será ameaçado, porque seu protetor tem autonomia para fazer o que bem entende.

Garimpem à vontade, avisa o Banco Central, pois temos o controle dos rios da economia. Lula irá fingir que governa, mas nós é que vamos determinar como se cumpre uma meta de inflação, como nunca se viu antes.

O conluio é geral. Ninguém quer enfrentar a abstinência sem juros altos. A grande imprensa quer juros altos. Economistas liberais gritam por juros altos.

Há empresários que não chegam a pedir juros altos, mas não se aliam aos que pedem juros baixos. Porque também foram contaminados por quem vive de juro alto.

É uma das sequelas pós-Bolsonaro. O capitalismo brasileiro, que sempre bradou contra juros, muitas vezes apenas como retórica, agora come juros com farofa, empanturra-se de juros.

Mas e os que não vivem de juros? Esses, desacostumados a reclamar sob o governo da extrema direita, não contrariam os garimpeiros da Faria Lima e seus grandes chefes.

Por que pequenos e médios empresários não se aliam a Lula e se levantam contra os juros de Roberto Campos Neto?

Por que Lula grita quase sozinho, se setores produtivos dependentes de dinheiro menos caro sofrem com juro alto?

Não gritam porque o bolsonarismo e o antilulismo desfiguraram também o empresário brasileiro de médio porte.

Essa é a cumplicidade que fortalece a garimpagem da Faria Lima. O grande empresário não quer mexer no que o beneficia, e o pequeno continua entranhado de bolsonarismo.

Juro baixo, para boa parte dessa gente, é coisa do destempero e dos esquerdismos de Lula em seu terceiro governo.

Assim os garimpeiros da Faria Lima garimpam enquanto não forem incomodados, até porque, na visão deles, a questão moral só serve para a abordagem de outras garimpagens.

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