A verdadeira façanha de João Doria

"O almofadinha oportunista está enterrando o que sobrou do Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB", escreve Eric Nepomuceno

João Doria
João Doria (Foto: Reprodução)


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Por Eric Nepomuceno, para o Jornalistas pela Democracia 

Bem, aconteceu o anunciado: João Doria foi levado a desistir da sua candidatura presidencial. Mas não se trata da sua verdadeira façanha: afinal, seu plano tinha a consistência do meu saldo bancário, ou seja, nenhuma.

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Por esses dias de um outono especialmente frio as atenções se dividem além de Doria: Ciro Gomes e sua insistência em ajudar Jair Messias, o tal de Musk vindo fazer o que ninguém sabe ao certo – sabe-se apenas que coisa boa não foi nem será –, com a inacreditável aberração chamada Daniel Silveira perambulando solto por aí, enfim, as atenções se dividem e com razão.

Talvez por isso não tenha havido espaço para que se reconheça a grande e verdadeira façanha alcançada por João Doria.

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Sim, sim, é verdade que ele tem merecido atenção. Mas sinto que não há o devido reconhecimento para um ponto: o almofadinha oportunista está enterrando o que sobrou do Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB.

Surgido em 1988 reunindo amplos setores do PMDB indignados com as andanças gatunas do então governador de São Paulo Orestes Quércia, o PSDB teve, entre seus fundadores, figuras relevantes do conservadorismo (não confundir jamais com reacionarismo) e da centro-esquerda moderada, como Franco Montoro, Mário Covas, José Serra (aquele, não o de hoje), Fernando Henrique Cardoso (de novo: aquele, e não o atual) e Geraldo Alckmin,

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Em 1995, o PSDB assumiu a presidência. E ia indo bem até 1997, quando o presidente Fernando Henrique resolveu comprar – literalmente – o direito à reeleição. O que veio depois foi puro desastre, a começar pela brutal desvalorização do real assim que ele reinaugurou sua presidência em primeiro de janeiro de 1999.

De lá para cá, a sigla deveria ter sido mudada para PSDO: Partido Safado dos Oportunistas. Perdeu quatro eleições para o PT de Lula da Silva e abriu espaço para a eleição do Genocida.

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Aderiu ao golpe institucional contra Dilma Rousseff, se insinuou grotescamente no apoio a Jair Messias, e as figuras relevantes de outrora perderam espaço para figurinhas dantescas como o cafajeste provinciano Aécio Neves.

Ainda assim, foi sobrevivendo, aos trancos e barrancos. E aí surge a figura dominante e plastificada de João Doria.

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Sem nenhum outro projeto que ele mesmo, sem nenhuma outra determinação que impor sua figureta no mundo político, ele está conseguindo o que nem o cafajeste Aécio Neves e suas aspirações conseguiram: afundar de vez com o sonho de Mário Covas e companhia de criar um partido social democrata no país.

Daqui a pouco ninguém vai se lembrar nem do intenso botox de seu rosto de sorriso pétreo.

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Será que alguma vez alguém vai se lembrar do sonho de um partido social democrata neste país abandonado, e de quem enterrou esse sonho?  

João Doria comete essa façanha. E deve ser reconhecido por ela. 

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Afinal, cadê o Bolsodoria? Será que ninguém lembra dele?

Pura injustiça.

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