A última fake news de Trump
"O trumpismo continua. Antes de tudo, porém, trata-se de mais uma mistificação do milionário, que quer fazer crer que voltará. Que seja sua última fake news", afirma Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia. "O conjunto de seu legado de inconsequência tende a se tornar mais forte com a troca de turno na Casa Branca"
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Por Helena Chagas, do Jornalistas pela Democracia
Acabo de assistir a melancólica saída de Donald Trump da Casa Branca. É um golpista, suas palavras finais e a própria decisão de não transmitir o cargo ao sucessor atestam isso. Perdeu e tentou melar o jogo. Mas as instituições foram mais fortes, incluindo os setores Republicanos e conservadores do Legislativo e do Judiciário dos Estados Unidos. Até eles perceberam que, acima dos interesses políticos imediatos, havia algo mais importante, relacionado a valores democráticos, humanitários, tributários do bom senso.
Trump não conseguiu a cumplicidade política e institucional que precisava para desfechar seu golpe, mudando o resultado da inequívoca eleição de Joe Biden. Só pela tentativa, merecia ter seu impeachment aprovado, junto com a proibição de disputar novamente a presidência dos Estados Unidos. Mais ou menos como arrasar a terra e jogar cal em cima.
Merecer, merecia. A invasão do Capitólio mostrou que as forças que o apoiam ainda estão bem vivas, numa América dividida e mergulhada no sofrimento da pandemia. Mas o impeachment é controverso, e alguns alegam que vitimizar Trump talvez não seja a melhor decisão. O fato principal, inegável, é que, apesar dos pesares, do golpismo, da incompetência, da maldade, a maioria da sociedade americana escolheu não seguir com ele.
Joe Biden anunciou entre suas primeiras medidas o retorno dos EUA ao Acordo de Paris e a desistência de construir o muro na fronteira com o México – dois símbolos do obscurantismo trumpista nas áreas do meio ambiente e dos direitos humanos. Não é o fim de uma novela sobre a luta do bem contra o mal, mas um novo primeiro capítulo.
Trump vai voltar? Pode ser. O trumpismo continua. Antes de tudo, porém, trata-se de mais uma mistificação do milionário, que quer fazer crer que voltará. Que seja sua última fake news. Muita água vai rolar em quatro anos e cabe aos americanos não deixar. A narrativa dos 400 mil mortos pela pandemia e o conjunto de seu legado de inconsequência tende a se tornar mais forte com a troca de turno na Casa Branca. É bem possível que o eleitorado americano tenha aprendido algumas lições nessa oportunidade dada pela democracia. É a chance que teremos em 2022 – ou, quem sabe, até antes.
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