A última cartada da direita: bloquear a candidatura de Haddad
O cientista político e colunista do 247 Emir Sader observa que até o momento "o golpe deu certo", uma vez que a presidente "Dilma foi derrubada por um golpe legitimado pelo silêncio cúmplice do Judiciário" e "Lula está preso, vítima de um processo sem fundamento, resultado de perseguição política"; apesar disso, a direita ainda tem um "problema fundamental: como ainda derrotar o Lula ou quem ele indicar" nas eleições de outubro; para ele, "essa é a última cartada da direita. Em primeiro lugar, o processo já acionado, de retomada de acusações judiciais de qualquer ordem, que tentem bloquear também a candidatura do Haddad ou pelo menos dificultar a transferência de votos do Lula para ele
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O golpe deu certo. Dilma foi derrubada por um golpe legitimado pelo silêncio cúmplice do Judiciário. Lula está preso, vítima de um processo sem fundamento, resultado de perseguição política. Grande parte dos avanços econômicos e sociais dos governos do PT foram desmontados.
Porém, a forma que a direita logrou para dar o golpe implica na manutenção de certos ritos institucionais, para dar a impressão de que foi um processo legal. Aí, tudo o que a direita conseguiu pode desandar, com a volta do PT ao governo, com a libertação do Lula e com o referendo revogatório, para reverter as medidas tomadas pelo governo golpista.
A direita não conseguiu capitalizar o clima que criou a nível nacional contra a política e os políticos, lançando um nome que representasse essa imagem. Teve que se contentar com candidatos da própria política tradicional – Alckmin, Bolsonaro, Álvaro Dias -, que têm também o agravante de não conseguirem se distanciarem do governo Temer e da sua política econômica, fazendo com que não tenham maior projeção nas pesquisas.
Conforme se aproximam as datas das eleições, a direita tem disputa entre seus candidatos para estar no segundo turno. Mas tem o problema fundamental: como ainda derrotar o Lula ou quem ele indicar.
Restam à direita, primeiro, contar com a arbitrariedade do Judiciário, que impeça Lula de ser candidato. Lula pode, mesmo assim, recorrer e ser candidato, mesmo preso, condenado à primeira instância. Será um problema grave para os candidatos da direita e para o Judiciário, porque Lula tende a ganhar no primeiro turno. Como condená-lo então? Como tirar do povo a eleição de um candidato no primeiro turno?
A direita conta com que o nome do Lula não possa estar na urna eletrônica no dia 7 de outubro. Nesse caso, como tentar impedir a transferência da influência do Lula para o Haddad, seu indicado?
Essa é a última cartada da direita. Em primeiro lugar, o processo já acionado, de retomada de acusações judiciais de qualquer ordem, que tentem bloquear também a candidatura do Haddad ou pelo menos dificultar a transferência de votos do Lula para ele.
A isso agregarão críticas ao desempenho do Haddad como prefeito de São Paulo, que pode ter mais efeitos no Estado de São Paulo, onde o PT tem mais dificuldades para conquistar o eleitorado. E, embora com menos efeitos, críticas a seu desempenho como ministro da Educação. Além de tentar fazer recair sobre ele críticas ao desempenho da Dilma como presidente do Brasil.
A última cartada da direita se volta contra o Lula e o Haddad, contando com o Judiciário partidarizado, com a mídia como partido da direita, tentando inviabilizar a vitória do PT. Procura inviabilizar o Lula como candidato, jogar a eleição para o segundo turno, buscar alguma nova armadilha jurídica para prejudicar o PT. A direita conta, sobretudo, com os mecanismos de perseguição política do Judiciário contra o Lula e o PT, dado que a capacidade de influência do seu outro vetor, a mídia, tem cada vez menos capacidade de influência.
Mas a direita tem contra si a forca política e moral do Lula, a consciência na sociedade de que se vivia melhor no governo Lula e de que se pode voltar a viver melhor, de que as acusações contra o Lula não tem nenhum fundamento, de que ele é inocente e de que se trata de uma perseguição pelo que ele fez e voltará a fazer pelo povo brasileiro.
É a ultima cartada, correndo contra o tempo e contra a vontade do povo brasileiro.
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