A tripla polarização

Todo mundo reconhece que as eleições deste ano já são as mais polarizadas desde 1989. Mas nem todo mundo percebe que há três polarizações: uma em torno do golpe, outra em torno do programa e outra acerca do sistema político

A tripla polarização
A tripla polarização (Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)


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Todo mundo reconhece que as eleições deste ano já são as mais polarizadas desde 1989.

Mas nem todo mundo percebe que há três polarizações: uma em torno do golpe, outra em torno do programa e outra acerca do sistema político.

De um lado os golpistas, de outro quem luta contra o golpe.

De um lado os neoliberais, de outro os que defendem os interesses populares.

De um lado os candidatos do “sistema”, de outro os que são ou parecem ser anti-sistêmicos.

Lula lidera as pesquisas, entre outros motivos, porque polariza muito bem, aos olhos da massa, nos três vetores.

Lula é uma dupla vítima — do golpe e do “sistema” — e, ao mesmo tempo, seu nome é lido por parte do povo como um programa!

Nos três vetores, Lula desempenha melhor que Ciro e Boulos, que imaginavam crescer num vácuo que até agora não existiu.

Bolsonaro está em segundo lugar nas pesquisas eleitorais porque, ao mesmo tempo que polariza fortemente (e perde mais do que ganha, eleitoralmente, por isto) nos quesitos golpista e neoliberal, por outro lado se beneficia (ganha muito mais do que perde) ao ser visto por parte do povo como alguém anti-sistema.

Na resultante destes três vetores, Bolsonaro desempenha melhor que Alckmin, Meirelles, Álvaro, Marina e outras candidaturas da centro-direita, que perdem muitissimo por serem golpistas e neoliberais, mas também perdem demais porque fedem a politica tradicional.

Esta situação causa desespero nas candidaturas de centro-direita, pois a combinação de vetores torna muito mais difícil tirar Lula e Bolsonaro da liderança das pesquisas.

A ação do governo e do parlamento golpista destacam espontaneamente o sentido programático da candidatura Lula. E cada passo que dão no sentido de impugnar Lula, o consolida como candidato anti-golpe e anti-sistema. E, pesadelo dos pesadelos, recupera a imagem pública do PT.

(Aliás, sobre o PT e Lula, vale lembrar aquele dito famoso: o anúncio de nossa morte foi prematuro.)

Por outro lado, dependendo de como a centro-direita tentar detonar Bolsonaro, há o risco da parcela “anti-sistema” de seus eleitores migrar para Lula.

(Aliás, a esquerda não pode cometer frente a Bolsonaro o erro crasso & clássico  cometido por Cristovam Buarque contra Roriz. Não é desqualificando-o pessoalmente que vamos minar seu eleitorado, mas sim identificando-o com Temer.)

Moral da história: para gente como Alckmin, o problema é triplo. Precisam tirar Lula, precisam tirar Bolsonaro e precisam crescer no eleitorado. Mas como já foi dito, suas credenciais de golpista e neoliberal os puxam para baixo; e sua condição de políticos tradicionais piora ainda mais as coisas para o lado deles.

Já para o PT, o problema é simples: trata-se de continuar polarizando. E de polarizar cada vez mais.

Nosso programa é relativamente claro sobre isso: revogação das medidas golpistas, programa de emergência para gerar empregos e viabilizar direitos, Assembleia Constituinte.

Mas não basta programa no papel. É preciso um programa que o povão entenda. Lula as pessoas entendem.

Por isso sua ausência física precisa ser compensada por uma campanha Lula de extrema polarização: contra o golpe, contra o programa neoliberal do golpe e contra o apodrecimento do “sistema”. Para o povão, este é um triplex que faz sentido!

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