A terra tremeu

Temos de levar em conta que, doravante, a CPI contará com a quebra dos sigilos telefônico e bancário. Aquele interesse exagerado pela cloroquina, da parte do Palácio do Planalto, transmite a impressão de sinistras falcatruas. Seja como for, a Terra tremeu, e, quando a Terra treme, podemos crer que o país não tornará a ser o mesmo



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Num clássico de sua filmografia, de 1948, Luchino Visconti cita uma lenda siciliana segundo a qual, quando constroem uma casa, os operários atiram uma pedra na sombra da primeira pessoa que passa. Querem afirmar que, para se construir qualquer coisa, é necessário um sacrifício, daí a simbologia da pedra na sombra. La terra trema, a obra mencionada, fala sobre sacrifício, sofrimento e dor, algo parecido com o que se passa no Brasil. A luta pela vida e contra as suas adversidades extenua e, ao mesmo tempo, faz com que ultrapassemos nossas limitações, superando-nos e dando-nos confiança para prosseguir. O país que vemos se desdobrar à nossa frente, ainda perdido em suas conjecturas, começa, no entanto, a dar sinais de que existe, com força para recusar a opressão passivamente e aceitar o lugar inferior que desejam lhe conferir no cenário das nações. 

A sessão de sexta-feira, dia 25 de junho, na CPI do Senado, foi da degradação à coragem com as denúncias formuladas pelos irmãos Miranda, Luís e Ricardo. Parlamentares da situação, perplexos e perdidos, gritavam desesperadamente, sem saber como proceder. Marcos Rogério, situacionista vaidoso, berrava com fúria mal contida, enquanto o seu colega Fernando Bezerra, na mesma situação, ignorava onde depositar as frases em defesa do governo, a esta altura mal posicionado. Finalmente, em sua vez, o senador Jorginho, num confronto com o deputado Luís Miranda, muito agressivo, perdeu na réplica e na tréplica, desistindo de confrontá-lo. A terra tremeu ali como nunca antes, tornando-se patente que havia consistência nas denúncias e que escapamos de adquirir na Índia, a preços superfaturados, a Covaxin, uma vacina tratada como a rainha dos imunizantes, com muito mais relevo do que todas as anteriores. Agora se anunciam represálias contra o servidor, cuja função foi apenas a de impedir que o mal se efetivasse. Ele parecia humilde, enquanto funcionário concursado, cumprindo os seus deveres com energia bastante para visitar o Presidente, solicitar providências e, de nada adiantando, seguir para o Senado onde, afinal, lhe deram ouvidos. 

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Como não podia deixar de ser, a Terra tremeu. Além do que já se vinha anunciando – o descaso com a saúde da população e com o número gigantesco de óbitos, a lentidão na escolha das vacinas, a falta de cuidado com os sistemas de proteção, etc. – acrescentavam-se cifras de milhões, com atravessadores dispostos a ganhar dinheiro, muito dinheiro. Isso para não falar, em Brasília, da manifestação dos indígenas, entregues à própria sorte, sem amparo. São gotas d’água. Tudo junto foi um terremoto, um tsunami, uma catástrofe difícil de ajeitar. Nem o “chá da vovozinha” do senador Luís Carlos Heinze mostrou eficácia para acalmar os nervos e consertar o estrago. 

Temos de levar em conta que, doravante, a CPI contará com a quebra dos sigilos telefônico e bancário. Aquele interesse exagerado pela cloroquina, da parte do Palácio do Planalto, transmite a impressão de sinistras falcatruas. Seja como for, a Terra tremeu, e, quando a Terra treme, podemos crer que o país não tornará a ser o mesmo. Bolsonaro, Ricardo Salles, Pazuello e companhia, depois de usarem e abusarem da nossa paciência, que se cuidem.

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