A terceirização dos movimentos sociais
Manifestações genuinamente pacíficas são anarquizadas para uso político contra a construção feita pelo PT nos últimos 11 anos
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A tática Black Bloc - artifício de se esconder detrás de máscaras para depredar sem ser reconhecido - não é exclusividade brasileira. Tem sido usada em protestos para dar caráter violento a manifestações pacíficas em várias partes do mundo, e na América Latina, em países como Venezuela, Chile, Argentina, além do Brasil.
Um ponto comum entre eles é a falsa roupagem de “negação da política”. O que estão fazendo, no entanto, é, sim, política: política da barbárie e do atraso; política contra a democracia e o desejo da maioria de protestar pacificamente a respeito de questões específicas da vida do país, que devem ser analisadas e solucionadas.
Parece simples agora apontar culpados, executantes e prováveis mandantes da morte de Santiago Andrade, cinegrafista da Band. No entanto, a imprensa comercial de direita, assim como os políticos de oposição ao governo Dilma Roussef, assistiam a princípio o circo pegar fogo, com um sorriso no canto da boca, enquanto a situação lhes parecia útil para desgastar o governo.
Quando perceberam que a imensa maioria da população brasileira estava contra, oposição e mídia mudaram o discurso, tendo sido esta última ironicamente escolhida pelo destino para ter um de seus representantes como primeira vítima fatal das manifestações.
Nós do PT, forjados na luta contra a ditadura e pelos direitos humanos no Brasil, não nos deixamos enganar. Nós que nos últimos anos tiramos da miséria cerca de 45 milhões de brasileiros, estamos cientes de que muito há para fazer, uma vez que nosso país ainda é uma das economias mais desiguais do planeta.
Não podemos aceitar, no entanto, que manifestações pacíficas sejam utilizadas para forjar uma situação de insegurança no país, num ano eleitoral, quando é necessário paz e sensatez para a escolha do presidente(a) da República, a renovação de 1\3 do Senado e de toda a Câmara Federal, dos governos estaduais e das assembleias legislativas.
Devemos evitar que se repita na história do Brasil os inúmeros exemplos de utilização política dos movimentos sociais por grupos de direita ou de esquerda, fato reconhecido e qualificado por cientistas sociais como “terceirização dos movimentos sociais”.
Para citar apenas um exemplo, lembro da trajetória das ONGs. No Brasil dos anos 70-80, as ONGs cidadãs estiveram por detrás da maioria dos movimentos sociais populares urbanos que delinearam um cenário de participação na sociedade civil, trazendo para a cena pública novos personagens, contribuindo decisivamente para a queda do regime militar e para a transição democrática no país. Isso ninguém pode negar..
A partir dos anos 80, no entanto, houve uma investida por parte do capital no sentido de inversão do papel das ONGs, passando seus membros a militantes de causas sociais a defensores dos interesses de quem financia as manifestações.
Esse processo se acelerou em 1990, quando a maioria dos empréstimos do Banco Mundial passaram a envolver parcerias com ONGs. Enquanto em 1988 apenas 6% dos projetos financiados pelo banco envolviam estas organizações, em 1993 o percentual elevou-se para 1/3 dos financiamentos e em 1994 para metade dos projetos de financiamentos aprovados pelo BM.
Segundo estudiosos da questão, a ONG passou então a ter uma relação de negociação despolitizada e funcional com o Estado, intermediando ou “terceirizando” a relação conflitante movimento social/ Estado, criando-se ao contrário uma lógica de negociação e dependência.
A situação atual exige atenção redobrada de todos. A juventude brasileira deve se interessar em estudar e compreender o real papel dos atores envolvidos nas manifestações que nos últimos meses levaram o Brasil para as primeiras páginas dos grandes jornais nacionais e internacionais.
Segundo o grande educador brasileiro Paulo Freire, uma das questões fundamentais dos processos educativo e político é entender o que leva os movimentos sociais a tomarem uma certa direção e a clareza em torno de a favor de quem e, portanto, contra quem, se desenvolve esta ou aquela atividade política.
É inadmissível que partidos de extrema esquerda que defendem o anarquismo como forma de ataque à democracia, subornem jovens para desestabilizar uma construção que tem sido feita pelo Partido dos Trabalhadores nos últimos11 anos. É vergonhoso tamanho egoísmo.
Não podemos permitir que manifestações legítimas e genuinamente pacíficas da sociedade brasileira sejam enlameadas, deturpadas ou anarquizadas por uso político, oportunismo ou terceirização de interesses de pessoas que querem atacar a democracia.
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