A revolução em andamento num mundo em xeque-mate
Olhando para as peças do tabuleiro de xadrez do mundo de hoje, o melhor enxadrista do mundo diria: não sei o que fazer. E não seria por menos
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Olhando para as peças do tabuleiro de xadrez do mundo de hoje, o melhor enxadrista do mundo diria: não sei o que fazer. E não seria por menos: As profundas mudanças de cenário que hoje ocorrem em ritmos alucinantes --e que temos que identificar imediatamente, estudar e decidir-- começam a se tornar algo humanamente impossível de se realizar.
O principal fator que nos leva a esta ebulição é a definitiva acomodação de duas revoluções silenciosas que já aconteceram nos últimos 10 anos, sem que nos apercebemos: a revolução da informação e a revolução nos fluxos financeiros do mundo. Uma é atrelada a outra e as duas juntas causam agora uma terceira e definitiva revolução que é a revolução da geo-política mundial.
No último ciclo geo-político do mundo, iniciado com as duas grandes guerras mundiais, surgiu o império norte-americano, suportado pela sua recém instalada indústria de guerra, a qual soube explorar muito bem por quase um século. Herdou-a dos europeus que a dominaram por mais de mil anos pelo seu profundo conhecimento sobre a produção do aço e pelo constante aperfeiçoamento de táticas de guerra aprendidas de seu cotidiano de mudanças fronteiriças na Europa.
Seguiu o império USA em perfeita sintonia com as novas revoluções: a da energia, habilmente identificada e cavalgada até um certo momento, e chegou ao ápice com a revolução tecnológica e da informação.
Todo este ciclo desenvolvimentista foi baseado principalmente em um setor econômico, o da produção de guerras, que proporcionou a criação de uma musculatura financeira jamais vista igual na história. A super-power USA dependia das guerras para desenvolver novas tecnologias, azeitar sua indústria e criar bem estar para sua população.
Enquanto duraram as guerras pelo mundo, as indústrias armamentistas americanas garantiram o tremendo desenvolvimento econômico dos EUA, mas com o fim da guerra fria e a "re-criação" da pujante Europa --além dos fiascos de ultimamente com a subliminar manipulação das guerras do Iraque e do Afeganistão-- o mundo todo começou a enviar sinais aos EUA que o caminho que a humanidade queria não era bem aquele.
Tendo que esfriar seus motores, muito dependente de commodities energéticas cada vez mais caras e menos acessíveis, os EUA ousaram novamente e acreditaram que poderiam fazer a "multiplicação dos pães" com suas moedas, e o blefe de suas instituições financeiras de 2008 contaminou suas finanças e a de todos aqueles países que investiam ali as suas economias.
O desenrolar desta manobra ousada que ainda cria turbulências pelo mundo afora, trouxe ao cenário componentes que até então não se imaginavam. Um deles foi o recente surgimento de um novo bloco geo-político denominado BRICS.
Juntamente com os tigres asiáticos, estes ainda sob controle dos EUA, os países do BRIC conseguiram se distanciar do terremoto de 2008 principalmente porque já haviam se divorciado das políticas --financeiras e de mercado-- ultra-liberais e ousadas dos EUA, e hoje os BRICs são o motor que produz desenvolvimento no mundo.
A China e o Brasil que eram até há pouco tempo considerados respectivamente "medieval" e "exótico", em poucos anos se fortaleceram e galgaram posições importantes entre as cinco ou seis maiores potências mundiais, algo considerado absolutamente impossível há 50 anos.
Neste jogo de causa e consequência, enquanto novos mercados dinâmicos se desenvolviam desatrelados das lides capitaneadas pela ousada política norte-americana, os fluxos de capitais começaram a procurar novas alternativas para sua renda, visto que o "buraco" criado com a quebra de grandes instituições financeiras em 2008/2009 não podia ainda ser exatamente divisado e já se antevia naqueles dias que o futuro apregoado pelos EUA estava em xeque.
Não bastasse a crise de confiança que se abateu sobre a maior nação capitalista do mundo, seus motores diminuíram a rotação, causando em cascatas, crises financeiras por todo o mundo globalizado e dependente da saúde de seu maior consumidor. O remédio usado para conter a tremenda mudança de vetor nos destinos futuros foi interferir nas comunicações globais que estavam estrategicamente sob seus domínios, tentando com isto ganhar alguma vantagem, mesmo que impróprias ou até mesmo ilícitas. O remédio, de eficácia ainda não comprovada na prática, já está produzindo alguns efeitos colaterais que poderão demonstrar no futuro se era na verdade remédio ou veneno.
Aquilo que vemos hoje nos noticiários é a fermentação de todos estes fatores em conjunto, que podem na verdade construir as bases de uma nova e desesperadamente necessária ordem mundial, onde o ser humano seja o centro das atenções --aliás muito bem demonstrado pelo presidente uruguaio José Mujica na última convenção das Nações Unidas em NYC--, como também pode descambar para um novo período negro da história da humanidade.
A pergunta que o tabuleiro de xadrez insiste em nos fazer é: o que fazer para estancar a impagável dívida pública dos EUA de quase US$ 20 trilhões + o custo de manutenção da maior e mais potente força militar do planeta, que se encontra parada em seus quartéis sem fazer nada, apenas consumindo mais dinheiro + dinamizar o setor produtivo dos EUA, criando mais emprego e mais renda para sua população + evitar a bancarrota dos EUA e o consequente calote que o mundo inteiro vai levar, caindo mais uma vez nos anos negros da depressão?
Arrisco-me a dar duas respostas:
a) Mudar a orientação dos EUA de super-power imperial e dar espaço a outros players mundiais com suas ideias renovadoras e inclusivas.
b) Colocar mais carvão na fornalha, azeitar mais as engrenagens e buscar lugares onde se possa habilmente jogar um osso descarnado no meio de uma matilha de cães famintos, enquanto se prospecta novas "fontes de financiamento" para aumentar a gastança.
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