A resposta do Nordeste ao descaso de Bolsonaro
Na tentativa de contrapor os desmandos do governo Bolsonaro, gestores dos nove estados da região criaram o Consórcio Nordeste, que articula ações conjuntas com objetivo de otimizar a economia e formular políticas públicas que melhorem a vida dos nordestinos
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“Paraíba”, “cabeça grande”, “preguiçoso”, esses foram alguns dos adjetivos usados pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) para classificar os nordestinos nesse seu quase primeiro ano de desastroso mandato. Mas as declarações preconceituosas de Bolsonaro não surpreendem. Elas são o retrato de uma gestão irresponsável, incompetente, discriminatória e que também propaga o ódio a negros, mulheres, índios, homossexuais, agrupamentos políticos ou quem achar que deve.
O Nordeste sempre foi alvo de sua metralhadora giratória ao longo de sua inexpressiva trajetória política. Mesmo antes de sua vitória, o presidente associou o Bolsa Família à ausência de trabalhadores domésticos no Nordeste ou ao fato de as mulheres engravidarem para ganhar mais benefício. Agora no exercício do cargo de presidente, age da mesma forma sectária, com notórios prejuízos à região.
O fato de o Bolsa Família ter voltado a ter fila de 45 dias e excluído mais de 800 mil famílias num momento de grave crise já condena milhões de nordestinos ao desamparo. Existem dúvidas, por exemplo, se os recursos destinados ao projeto serão suficientes para terminar o ano.
E o desdém com o Nordeste não para por aí. A Caixa Econômica Federal já reduziu drasticamente a concessão de novos empréstimos à região neste ano. De acordo com os dados, os municípios nordestinos receberam até julho apenas 2,2% do total de novos empréstimos autorizados pelo banco. No ano anterior, o valor foi de 21,6%, uma redução de cerca de 90% valor.
A Reforma da Previdência proposta pelo governo também atingirá diretamente os municípios nordestinos. Segundo dados do PNAD 2017, 33,3% dos municípios da região contam com 90,9% de sua arrecadação proveniente da Previdência. A reforma, cuja economia anunciada será feita 80% nas costas dos mais pobres, levará centenas de cidades a uma situação de penúria.
O resultado dessa política hostil ao Nordeste pode ser percebido também pela taxa de desocupação na região. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o Nordeste é a região onde estão os piores números de emprego. Só no primeiro trimestre deste ano, acumulou fechamento de 65.188 postos de trabalho. É também entre os nordestinos que está a maior parte dos desalentados. Sete em cada dez brasileiros que desistiram de procurar e não encontraram emprego nos três primeiros meses do ano estavam no Nordeste, ou seja, 70% da população desalentada do Brasil.
Na tentativa de contrapor os desmandos do governo Bolsonaro, gestores dos nove estados da região criaram o Consórcio Nordeste, que articula ações conjuntas com objetivo de otimizar a economia e formular políticas públicas que melhorem a vida dos nordestinos, além de atuar de maneira conectada compartilhando iniciativas bem sucedidas nos estados e atuando integradamente no combate à violência. O grupo montou uma equipe para formatar os projetos comuns.
O projeto inovador também vai ajudar a região na busca por investimentos internacionais. E os governadores já organizam a sua primeira ação conjunta fora do país ainda para este ano. Mas além dos avanços econômicos e administrativos do Consórcio Nordeste, o agrupamento tem sido importante ferramenta de resistência e luta política. A ação coletiva já vem dando frutos e ajudou, por exemplo, a conservar a aposentadoria rural e o Benefício de Prestação Continuada (BPC) no debate da Reforma da Previdência no Congresso Nacional. O consórcio é, sem dúvida, a melhor resposta ao preconceito e à intolerância do presidente. Em vez de retribuir na moeda da retaliação, o Consórcio olha para o futuro, dialoga com boas iniciativas e, de longe, é hoje o projeto mais importante e promissor do país.
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