A relação da imprensa com Bolsonaro e a Síndrome de Estocolmo
"Qual é o próximo passo da escalada violenta de Bolsonaro contra o jornalismo? De nota de repúdio em nota de repúdio, as perspectivas são as mais sombrias", escreve Bepe Damasco
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Síndrome de Estocolmo é o estado psicológico particular em que uma pessoa submetida a um tempo prolongado de intimidação passa a ter simpatia e até mesmo nutrir sentimentos de amor e amizade pelo seu agressor.
Qualquer semelhança dessa síndrome com a relação entre os veículos de comunicação brasileiros e Bolsonaro pode não ser mera coincidência.
Veja só: como todos sabem, neste domingo (31), em Roma, seguranças de Bolsonaro agrediram fisicamente profissionais da Folha e da Globo, os dois principais grupos de mídia do país.
Abre parênteses: toda solidariedade aos jornalistas covardemente agredidos. Fecha parênteses.
Mas na manhã desta segunda-feira, 1º de novembro, ao consultar os sites UOl (Folha) e G1(Globo), constatei que a notícia da agressão desapareceu do UOL, enquanto no G1 caiu para irrelevância da 18º notícia do topo do site para baixo.
A Globo soltou a costumeira nota de repúdio logo depois do episódio, cujo destino inexorável, a exemplo das outras, será a gaveta.
Estava na cara que a falta de reação adequada às ofensas rotineiras de Bolsonaro aos profissionais de imprensa levaria a agressões físicas. E agora? Qual é o próximo passo da escalada violenta de Bolsonaro contra o jornalismo?
De nota de repúdio em nota de repúdio, as perspectivas são as mais sombrias.
A julgar pela tibieza das respostas dos grupos de mídia, seus profissionais seguirão expostos a riscos cada vez maiores de serem feridos com gravidade, ou coisa pior.
Bolsonaro, durante o espetáculo grotesco diário em seu cercadinho, em frente ao Palácio Alvorada, já ameaçou dar soco na boca de repórter, mandou jornalista procurar a mãe para comprar vacina e disse que uma profissional estava querendo “dar o furo”.
Contudo, a mídia segue dando palanque para esse festival de ataques à liberdade de imprensa, grosserias, agressões verbais, ameaças e manifestações explícitas de machismo e misoginia, bem típicas do caráter imundo de Bolsonaro.
Só existe cercadinho porque a imprensa o cobre diariamente. Contudo, por razões que vão da sabujice à falta de vergonha na cara pura e simples, passando pelo compromisso com a política econômica de Bolsonaro, nunca passou pela cabeça da direção dos grupos de mídia o boicote a esses shows de horrores protagonizados por Bolsonaro.
Bastaria o simples gesto de não mandar seus profissionais para a cobertura do cercadinho para que a palhaçada perdesse o sentido e morresse rapidamente de inanição.
Termino com duas perguntas e uma resposta óbvia:
- Será que, depois dos socos e pontapés distribuídos contra seus jornalistas, a mídia comercial vai aderir ao impeachment de Bolosonaro?
- Será que depois do que aconteceu em Roma a imprensa deixará de passar pano para Bolsonaro, como faz ao negar que ele cometeu crime de genocídio durante a pandemia?
Duvido.
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