A realidade enterrou a política do Guedes

"Só resta ao Guedes, além de liberar recursos para acudir minimamente aos necessitados, reclamar contra iniciativas alternativas, dentro do próprio governo, à sua revelia, que apontam para a reconstrução econômica do País apoiada centralmente no Estado, protestar contra a iniciativa, para a qual não foi chamado", escreve Emir Sader

Ministro da Economia, Paulo Guedes, em Brasília
27/04/2020 REUTERS/Ueslei Marcelino
Ministro da Economia, Paulo Guedes, em Brasília 27/04/2020 REUTERS/Ueslei Marcelino (Foto: REUTERS/Ueslei Marcelino)


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De anônimo contador, que só tinha no currículo um obscuro estágio no Chile o Pinochet, de repente Paulo Guedes se viu promovido a super ministro de um governo, para colocar em prática seus experimentos ultraneoliberais. No seu cargo de Posto Ipiranga, ele fez o que lhe encomendado, e o resultado não poderia ser outro.

Valendo-se de todos os poderes que lhe foram atribuídos, conseguiu a proeza, ao final do primeiro ano de governo, de ter um desempenho ainda pior que seu correlato no governo Temer. Crescimento zero, isto é, recessão, com  perspectivas de igual projeção para o segundo ano de governo.

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Se valeu de ser ministro de um presidente absolutamente ignorante também de economia, com a responsabilidade de garantir o apoio do grande empresariado. Aprovou tudo o que quis do Congresso, gastou reservas acumuladas pelos governos do PT, prometeu e não cumpriu, fez o que quis e o que pôde. Mas chegou zerado ao primeiro ano do governo.

A chegada da pandemia foi um choque de realidade, para o qual nem Guedes, nem o governo estavam preparados. Mercado, investimentos privados – tudo isso saiu de pauta, substituídos pelo Estado, pelo SUS. A contragosto, o governo teve que desembolsar o que nao queria, na contramão dos ajuste fiscais do Guedes.

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Adeus equilíbrio fiscal, adeus austeridade, adeus cortes de recursos de políticas sociais. O governo passou a ter que fazer tudo o que o Guedes não recomendava. O déficit fiscal foi para as alturas, a economia passou da recessão à depressão, entre desempregados e precários se subiu de 50 a 62,1 milhões de pessoas.

Só resta ao Guedes, além de liberar recursos para acudir minimamente aos necessitados, reclamar contra iniciativas alternativas, dentro do próprio governo, à sua revelia, que apontam para a reconstrução econômica do País apoiada centralmente no Estado, protestar contra a iniciativa, para a qual não foi chamado.

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Guedes não foi demitido pelo presidente, que continua a confiar nele, embora não tenha nenhum resultado positivo a apresentar. Mas um presidente que repete a balela de que a economia estava se recuperando quando chegou a pandemia, não tem condição alguma de julgar a situação e econômica real do País e seu futuro.

A verdade é que o Guedes, que já estava deslocado antes da pandemia, agora parece um animal pré-histórico, incapaz de se situar na nova realidade do País e do mundo. Há um consenso, de que participam ex-ministros neoliberais, colunistas econômicos, empresários, de que o Estado tem que comandar a assistência que a maioria desvalida da sociedade precisa e a reconstrução econômica, assim que passar a pandemia.

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O nível de depressão econômica é desconhecida pelo País e pelo mundo. Da mesma forma que a soma dos desempregados e dos precários atinge à maioria da população, que requer não apenas uma ajuda trimestral irrisória.

A referência histórica, em todos os países, é a crise de 1929 e o New Deal, de Roosevelt, com a maior operação de resgate estatal da economia que a história conheceu. O liberalismo foi escanteado e ficou assim por décadas.

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Algo similar se discute em todas as partes do mundo. De forma coordenada pela União Europeia no velho continente. A Argentina vai sair da pandemia – que ela enfrenta de maneira mil vezes melhor que o Brasil – com a economia em frangalhos. A América Latina vai precisar, num esforço coordenado, que um líder como Lula é indispensável, buscar os recursos em organismos internacionais, para reconstruir nossas economias. Algo totalmente alheio ao neoliberalismo e a Guedes.

Claro que com este governo, nada disto é possível. O Fora Bolsonaro! é uma condição indispensável para a reconstrução do País. De repente, em exposição organizada pelo Banco Itaú, Guedes diz que 220 milhões de trouxas vivem explorados por 6 bancos. Política que ele implementou aceleradamente, e que agora até ele ridiculariza.

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A realidade é implacável com que a nega. Guedes está demitido pela realidade, só lhe resta retomar sua carreira de contador. Nem no Chile de hoje ele encontrará emprego. 

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