A quimera da 3ª via e o relatório eleitoreiro do Santander
A atual manifestação eleitoreira do banco reflete a opinião majoritária da plutocracia e da burguesia nacional, que controla a maior fatia do PIB, que acumularam mais renda e riqueza com a execução da política neoliberal do governo bolsonarista, diz o colunista Milton Alves
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O Banco Santander, um dos maiores conglomerados financeiros beneficiados pela política econômica criminosa e excludente de Bolsonaro-Guedes, divulgou nesta semana um relatório em que sugere uma nova interdição política do ex-presidente Lula. O documento, de viés eleitoreiro, recomenda abertamente uma medida golpista para evitar a candidatura do líder petista em 2022.
O texto do economista Victor Candido faz uma avaliação do cenário político e alerta para a necessidade de impedir um possível retorno de Lula à presidência da República. O afoito assessor do banco de origem espanhola escreveu: “Se o sistema político e judicial, se o establishment político brasileiro acha cômico o governo Bolsonaro, o retorno de Lula e seus aliados representa uma ameaça bem mais séria. Hoje, Lira é o presidente da Câmara, mas sob um governo do PT, seria um modesto aliado abrigado em um cargo menor”.
“Em suma, ninguém apoiará um golpe em favor de Bolsonaro, mas é possível especular sobre um golpe para evitar o retorno de Lula. Ele era inelegível até outro dia, por exemplo, pode voltar a sê-lo”, propõe o economista.
O relatório foi distribuído para empresários, operadores do mercado financeiro, diretores e clientes da instituição. A diretoria do Santander negou a responsabilidade pela formulação do documento e informou que o texto “não reflete a visão do banco”.
Não é a primeira vez que o Santander encomenda e divulga um relatório para empresários e clientes sobre cenários políticos e eleitorais — em particular contra candidatos presidenciais petistas. Em julho de 2014, o banco apresentou um relatório afirmando que a reeleição da presidenta Dilma Rousseff resultaria em graves riscos para a economia.
A atual manifestação eleitoreira do banco reflete a opinião majoritária da plutocracia e da burguesia nacional, que controla a maior fatia do PIB, que acumularam mais renda e riqueza com a execução da política neoliberal do governo bolsonarista. O apelo do economista do Santander contra a candidatura de Lula repete a mesma preocupação do manifesto dos banqueiros sediados na Faria Lima — difundido na semana passada com o pretexto de defender o atual sistema de votação por urnas eletrônicas.
A maior contradição do “andar de cima” segue sendo a disjuntiva entre a total adesão à política econômica do governo e o crescente desconforto em relação aos impulsos autoritários de Bolsonaro contra as desgastadas instituições da República, como o STF e o Tribunal Superior Eleitoral [TSE] — alvos prioritários dos ataques do presidente no momento.
O relatório revela o verdadeiro sentimento dos endinheirados sobre o temor de um novo rumo para o país na contramão da agenda de Paulo Guedes e também o esforço no sentido de encontrar o candidato “nem, nem”, defendido em editoriais dos jornalões a serviço da velha direita.
Apesar do discurso belicoso e golpista, Bolsonaro tem entregado, com zelo, o cardápio das privatizações e da boiada no Congresso, que degrada as condições de vida da maioria do povo trabalhador.
A tentativa de criação de uma terceira via, cada vez mais, nos remete para uma imagem da mitologia grega: a Quimera — um monstrengo retratado por um corpo formado pela cabeça de um leão, um tronco de cabra e o rabo de um dragão — uma figura apavorante e híbrida.
A chamada terceira via é um monstrengo político que pretende derrotar Lula para manter um bolsonarismo sem Bolsonaro. É um projeto de continuidade da recolonização neoliberal do país.
Ativista político e social. Autor dos livros ‘A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada Contra Lula e o PT’ (2019), ‘A Saída é pela Esquerda’ (2020) e de ‘Lava Jato, uma conspiração contra o Brasil’ (2021) – todos pela Kotter Editorial. Escreve semanalmente em diversas mídias progressistas e de esquerda.
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