A questão da vice de Lula

"Lula será inscrito candidato à presidência da República no dia 15 de agosto. Quem será inscrito à vice-presidência junto com Lula? Alguns gostariam que fosse Ciro ou Boulos. Mas ambos são candidatos à presidência e não cogitam a vice. Também são considerados vários nomes do PT e a companheira Manuela, do PCdoB. Há algum tempo, a direção do PT ofereceu publicamente a candidatura a vice como parte das negociações com o PSB e o PCdoB", descreve Valter Pomar, que analisa cada possibilidade

A questão da vice de Lula
A questão da vice de Lula (Foto: Stuckert | Editora Brasil 247 | Reuters)


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(primeira parte)

Lula será inscrito candidato à presidência da República no dia 15 de agosto. Quem será inscrito à vice-presidência junto com Lula?

Alguns gostariam que fosse Ciro ou Boulos. Mas ambos são candidatos à presidência e não cogitam a vice.

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Também são considerados vários nomes do PT e a companheira Manuela, do PCdoB.

Há algum tempo, a direção do PT ofereceu publicamente a candidatura a vice como parte das negociações com o PSB e o PCdoB.

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Analisemos primeiro a alternativa socialista.

O PSB apoiou Aécio no segundo turno de 2014, envolveu-se profundamente no golpe de 2016 e em vários estados do Brasil participa ou apoia governos e candidaturas de direita (como é o caso de SP e RS).

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Aliás, considerado este histórico, é bastante ousado oferecer a vice para o PSB. Até porque, se for necessário alterar a chapa, isto terá que ser feito pela coligação, não apenas pelo PT.

Seja como for, apesar de existir um importante setor pró-Lula no PSB, não se acredita que haja maioria na Convenção socialista para decidir apoiar Lula e indicar seu vice.

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E o que a Convenção do PSB poderia decidir?

Até onde sabemos, ou lançar candidatura própria, ou apoiar Ciro, ou optar pela "neutralidade", ou seja, não apoiar nenhuma candidatura à presidência. Neste caso, cada setor do PSB faria o que quisesse.

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Dentre estas alternativas ruins, o melhor para Lula e para o PT seria evidentemente a "neutralidade".

Um problema é que, ao que tudo indica, o grupo majoritário na direção do PSB só optaria pela "neutralidade" se o PT retirasse a candidatura de Marilia Arraes ao governo de Pernambuco.

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Ou seja: para este setor do PSB, sua posição nacional (de "neutralidade") dependeria de um acordo estadual.

No PT este modo de pensar causa evidente constrangimento, por variados motivos.

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Mesmo assim, há quem defenda que a neutralidade do PSB seria tão importante, que justificaria a retirada da candidatura de Marilia Arraes ao governo de Pernambuco, desde que o PSB também retirasse a candidatura de Marcio Lacerda ao governo de MG.

Entre outros argumentos, diz-se que tal movimentação teria como efeito colateral consolidar a aliança com o PCdoB.

Todos sabemos que Lacerda é um dos muitos tucanos abrigados no PSB. E há diferentes opiniões sobre que impacto teria uma eventual retirada de Lacerda, nas chances de reeleição de Pimentel em MG. Mas o problema maior, ao menos visto do ponto de vista de um setor do PT, está no "desde que".

Pois, falemos claro, este tipo de abordagem desequilibra muito demais a relação que deve existir entre as questões nacionais e as questões estaduais.

Esta mesma lógica desequilibrada está conduzindo o PT a compartilhar chapas majoritárias e proporcionais com partidos golpistas em vários estados do país. Em alguns casos, acordos regionais, negociações em torno do tempo de horário eleitoral gratuito e outras questões são apresentados e defendidos como se fossem a materialização dos "interesses nacionais" --como se os últimos anos já não tivessem demonstrado que acordos nestas bases são, além de frágeis, perigosos.

Os defensores desta postura subestimam seus efeitos deletérios, especialmente sobre o animo da "nação petista".

Claro que se conseguirmos que Lula esteja na urna eletrônica, os danos diretamente eleitorais serão minimizados. Mas os defensores daquela postura sabem muito bem que se Lula for oficialmente candidato, estes acordos também serão eleitoralmente menos relevantes do que se pinta.

O que parece empurrar alguns setores a, mesmo assim, considerar positivo cometer tais acordos é o medo do que pode ocorrer se a direita conseguir impedir o registro de Lula.

O que os defensores daquela postura não percebem é que, num cenário em que Lula fosse impedido de ser oficialmente candidato, portanto num cenário em que a eleição virasse fraude, o que quer que façamos teria que estar mais do que nunca baseado na grande política, em alianças programáticas e no engajamento apaixonado da militância.

É muito importante a aliança com o PCdoB. Assim como seria muito importante conseguir uma efetiva aliança nacional com o PSB. Mas se ilude quem acha que isto será obtido trocando Arraes por Lacerda.

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