A quem interessa a falsa simetria?

Jornal Folha de S.Paulo e Jair Bolsonaro
Jornal Folha de S.Paulo e Jair Bolsonaro (Foto: Webysther/CC | Alan Santos/PR)


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Lula assumiu em janeiro. Desde então, lá se vão três meses de inúmeras mudanças nos destinos do país. Recebido por Biden e com encontro agendado com Xi Jinping, Lula corre contra o tempo para tentar recolocar o Brasil de volta aos trilhos da civilização. A missão é árdua, uma vez que parte das instituições continua aparelhada por agentes que foram peças importantes no processo de corrosão da democracia brasileira, a saber, boa parte dos atuais parlamentares, o homem que preside o Banco Central, o deus mercado e grande parte da vampiresca elite financeira.  

São apenas três meses, mas as vozes dissonantes do fogo amigo já esbravejam pelos quatro cantos, exigindo em alto e bom som que o governo resolva e reconstrua tudo aquilo que foi comprometido e destroçado durante os quatro anos da insanidade sociopolítica que tomou conta do país. Embora o rastro de destruição e o mau cheiro do caos ainda sejam perceptíveis, é preciso compreender que não existe magia na condução de uma economia do porte da nossa e nem a mínima possibilidade de dar um “cavalo de pau” nas mudanças sociais. Contudo, é nítido que o “Titanic” Brasil começou a se mover, saindo da rota de colisão com o iceberg plantado pelos mesmos sabotadores de sempre.  

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No contexto em questão, chama a atenção o protagonismo da mídia corporativa brasileira que, por intermédios dos seus tacanhos editoriais, suas colunas de embrulhar o estômago e o posicionamento tóxico de muitos dos seus amestrados jornalistas (os mesmos que foram humilhados, ficaram calados e levaram coices por quatro anos), reergueu a bandeira antipetista, arvorando-se do poder de governar via editoriais, entrevistas e “debates” de mão única, com “especialistas” de coisa nenhuma. E assim sendo, desandam a fazer análises e conjecturas tendenciosas sem o menor lastro de confiabilidade política e sustentação teórica. Como não poderia deixar de ser, o modus operandi é antigo e roto, é o mesmo que sempre incensa as balelas conspiracionistas da extrema direita, que está aí para minar e sabotar governos progressistas democraticamente eleitos.  

A imprensa que atira pedras no governo Lula não causa surpresa nem espanto. É a de sempre. Seus jornalistas existem apenas para reproduzir a voz dos donos, e o fazem da melhor maneira possível. São aqueles e aquelas que abrem braços e sorrisos para, por exemplo, abrigar o ex-juiz suspeito, ignorando todo o estrago que o sujeito causou ao país, mas babam de ódio, fecham a cara e ignoram as mortes e todas as desgraças causadas pelo governo genocida que ajudaram a eleger.

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Enquanto alguns vêm apenas a ponta do iceberg e a mídia golpista brinca de “quarto poder”, muitos já perceberam que a gigantesca parte do iceberg, mesmo submersa, já começa a rachar. E é assim que o ódio cultivado aqui durante quatro anos explode em atentados, chacinas, massacres, feminicídios, racismos etc. Crianças, jovens e adultos não conseguem escapar das garras das trevas que ainda urram na imensidão da ignorância, da maldade e do fanatismo. A morte daquela professora e a vida do garoto que a esfaqueou também estão na conta das pessoas, jornalistas entre elas, que insistem na falsa simetria entre um estadista e um bárbaro. A quem interessa propalar esse tipo de simetria? Lavem o quanto quiserem, mas todo esse sangue nunca sairá das mãos das pessoas que alimentaram tamanho ódio e feriram de morte a democracia brasileira. O iceberg de ódio que avança é do tamanho do Brasil.  

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