A quem Cunha e a oposição pensam enganar?

Querer se colocar no papel de vítima não vai convencer ninguém neste momento. Basta olhar para a história. Outros já foram retirados do cargo por muito menos

O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, durante entrevista coletiva, fala sobre regra para aposentadoria (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, durante entrevista coletiva, fala sobre regra para aposentadoria (Marcelo Camargo/Agência Brasil) (Foto: Chico Vigilante)


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As manifestações do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e seus comparsas (do PSDB, DEM, Solidariedade e outros) sobre a denúncia apresentada contra ele, na quinta-feira, pela Procuradoria-Geral da República ao STF, são hipócritas, vergonhosas e inaceitáveis.

Cunha é acusado, segundo o Ministério Público Federal, de receber propina de U$5 milhões (R$17 milhões) para viabilizar a construção de dois navios sondas da Petrobras. Na denúncia, é pedida a sua condenação a 184 anos de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro e a devolução de um total U$ 80 milhões como restituição do produto e proveito dos crimes e por reparação dos danos causados à Petrobras e à administração pública.

No lugar de fazer o que faria um homem de bem ocupando um posto desta estatura - renunciar, e deixar que a Justiça se encarregue tranquilamente do processo - ele afirma em nota que foi "escolhido para ser investigado", "escolhido para ser denunciado", e ainda, "figurando como o primeiro da lista".

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A quem ele pensa que engana com essa conversa fiada? Desde março deste ano o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal autorizou a investigação contra 47 políticos, e dois supostos operadores e todos os jornais estamparam a lista com seus nomes e de seus partidos.

O ministro autorizou a investigação contra 22 deputados federais e 12 senadores. Além de outros 12 ex-deputados, e uma ex-governadora. Estariam envolvidos parlamentares do PP, em sua grande maioria, do PMDB, do PT, do PSDB e do PTB. Collor, agora também denunciado, já estava na lista de março.

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Querer se colocar no papel de vítima não vai convencer ninguém neste momento. Basta olhar para a história. Outros já foram retirados do cargo por muito menos.

Em 2005, o então presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, se afastou do cargo devido a denúncias de ter recebido propina mensal de R$ 10 mil da empresa que gerenciava o restaurante da Casa.

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Em 1994, Ibsen Pinheiro, presidente da Câmara, teve seu mandato cassado pela CPI que investigou as irregularidades no Orçamento da União, um esquema de desvio de verbas que o afastou por oito anos da vida pública, mas que nunca ficou totalmente comprovado.

Nada se compara ao porte das atuais denúncias contra Cunha, conhecido anteriormente por sua conduta nada ilibada, quando, por exemplo, coordenou a campanha de Collor, ganhando a seguir a presidência da Telerj.

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Quem sempre esteve com Cunha e continua fiel a ele, mesmo depois de sua denúncia, pelo menos quando a questão da aliança envolve conseguir o impeachment de Dilma?

Um dia depois da divulgação oficial da denúncia contra Cunha, sua agenda não parecia nada desidratada, expressão em voga atualmente por alguns políticos.

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Cunha foi recebido pelo vice-presidente da república, Michel Temer, nesta sexta, em São Paulo. Alguém tem dúvidas sobre a pauta do encontro?

O senador Aécio Neves continua a mostrar de que lado está. Sua conhecida verborragia quando se trata de incriminar o PT está totalmente desativada em relação as denúncias contra Cunha. Nenhuma palavra a respeito em nenhum jornal da grande imprensa, depois que a lama veio a tona. O líder do PSDB, Carlos Sampaio, por sua vez, disse que vai aguardar a apuração sem fazer qualquer julgamento.

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Um outro aliado de Cunha me deixou triste e envergonhado pelos trabalhadores que envolveu. O deputado Paulinho da Força Sindical, do partido Solidariedade, promoveu nesta sexta-feira, 21/08, evento onde o presidente da Câmara, foi recebido por sua turma aos gritos de " Cunha, guerreiro do povo brasileiro".

Demonstrando mais uma vez sua personalidade totalitária, Cunha devolveu à plateia a bravata: "Não há a menor possibilidade de eu não continuar no comando da Câmara. Renúncia e covardia não fazem parte do meu vocabulário".

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Não é a primeira vez que Paulinho envergonha sindicalistas sérios. Conhecido por desvios do Fundo de Amparo ao Trabalhador; foi ainda condenado, em 2011, a pagar multa civil de cerca de R$1 milhão por improbidade administrativa na aplicação de R$ 3 milhões em recursos públicos.

Além de ter uma maioria de votos na Câmara, Cunha deve estar confiante em seus íntimos contatos nos altos escalões da Justiça. Gilmar Mendes, que se reuniu com Cunha e Paulinho para discutir as possibilidades de um impeachment de Dilma, num café da manhã na residência oficial da presidência da Câmara, em julho, deveria agora pedir desculpas a Nação, por ser um ministro do STF e tramar contra a presidente do país. E agora Gilmar ? vai continuar defendendo Cunha?

Além de seu caráter autoritário e princípios fundamentalistas Cunha é agora denunciado por graves crimes contra o país. Ele tem direito a um julgamento, como todo e qualquer cidadão brasileiro, mas que aguarde fora da presidência do Câmara dos Deputados.

O PT tem que assumir esta bandeira. Todos aqueles parlamentares, independentemente de partidos, que tem uma história sem nódoas e se preocupam em entrar para a história como homens honestos, defensores da ética na política e do Estado de Direito devem se unir em torno de um movimento pelo afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara.

Esta luta deve ser encampada pelos movimentos sociais, pelo movimento sindical, pelas juventudes, por homens e mulheres, por todo e qualquer cidadão da classe média branca que saiu as ruas deste país em protesto contra a corrupção. Devemos fazer isso juntamente com a luta pela defesa dos princípios democráticos, onde todos são iguais perante a Justiça.

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