A propósito do centenário de Paulo Freire

A desconstrução da cotidianidade alienada e a assunção de um ponto de visto crítico da situação de dominação social e ideológica onde estavam inseridos era o principal objetivo da pedagogia do oprimido e seus operadores



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Recebi a honrosa incumbência do professor Marcos André de Barros (UFRPE) para escrever sobre a Teoria Crítica e a obra do educador pernambucano Paulo Freire.

O meu primeiro contanto com a obra desse ilustre pensador da Educação se deu ainda na época em que era estudante de Filosofia, na Universidade Católica de Pernambuco, através do livro “A pedagogia do Oprimido”. Neste período, Freire encontrava-se exilado do Brasil e trabalhando para o Conselho Mundial das Igrejas em Genebra. O exemplar que eu conheci, publicado pela então editora Paz e Terra – tinha um prefácio escrito pelo filósofo brasileiro Ernani Fiore, pai de Luis Fiori e Otília Fiore. Esse autor situava Freire no contexto dos humanismos contemporâneos (a fenomenologia, o existencialismo, o personalismo cristão). Ou seja, apresentava Paulo Freire como um representante da esquerda católica, liderada pelos filósofos franceses Emmanuel Mounier e Gabriel Marcel. Não tinha formação marxista, mas dialogava com os marxistas, sobretudo depois do Concilio Vaticano II e o pontificado de Paulo VI (época denominada por um pensador comunista: “Do anátema ao dialogo”) . 

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Mal sabia eu que a primeira dissertação de Mestrado que orientaria na Universidade seria exatamente sobre a epistemologia na obra freiriana. A síntese filosófica operada por Freire continha os conceitos e categorias da filosofia da existência e do personalismo católico. Palavras-chaves como: alienação, consciência ingênua, consciência crítica, libertação, situação freqüentavam a terminologia de seu livro.

A passagem da fase da alienação para a da consciência crítica, através do emprego das chamadas palavras-geradoras e que tornava contextualizada a educação dos educandos  era traduzida na linguagem do humanismo cristão, onde não estava ausente a influência de Hegel, da dialética, da alienação e a superação da alienação.

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Este processo sedava através de uma leitura crítica do mundo da vida dos alunos e alunas. Ou seja, a desconstrução da cotidianidade alienada e a assunção de um ponto de visto crítico da situação de dominação social e ideológica onde estavam inseridos era o principal objetivo da pedagogia do oprimido e seus operadores. 

Paulo Freire nunca pertenceu ao Partido Comunista do Brasil ou mesmo aos movimentos da esquerda laica e socialista. A fraseologia da obra está associada a conceitos como emancipação, consciência critica, libertação. Mas a sua hermenêutica . Embora muitas autores anotem a proximidade do comunismo marxista com o messianismo judaico-cristão. Entre os autores, estão Karl Lowith Frank Waldo. 

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