A profecia de Hamilton Mourão se cumpriu

O resultado de todo o protagonismo militar no governo Bolsonaro é o descrédito das forças armadas

Militares do Exército e terroristas bolsonaristas
Militares do Exército e terroristas bolsonaristas (Foto: ABR | REUTERS/Adriano Machado)


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 Hoje é um dia de memória e reflexão. O debruçar sobre a História, sobre a verdade dos fatos, é fundamental para que possamos viver e nos posicionar no presente e construir o futuro. 

 O golpe militar, que agora completa 59 anos, é uma das maiores chagas na História do Brasil. Com a proximidade da data, a elegia ao golpe militar e a distorção de tudo o que aconteceu naquele período nefasto, invadem as redes sociais.

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 A fantasia delirante, dissociada da História, de que aquele foi um período de prosperidade, paz e segurança. 

 Os 20 anos em que os generais se alternavam na presidência da república foi marcado pelo aprofundamento da exclusão social, corrupção, censura, impunidade, perseguição, tortura como instrumento de política de Estado, morte de intelectuais, educadores, artistas e trabalhadores. 

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 O último general presidente deixou o palácio do Planalto pela porta dos fundos, recusando-se a transmitir a faixa ao seu sucessor civil. Da mesma maneira fez no ano passado o capitão Bolsonaro. 

 Na área economica, Figueiredo deixou um país destruído pela inflação com índices mais do que pornográficos, de 223% ao ano. Resultado das políticas econômicas desastrosas de economistas como o avô do atual presidente do Banco Central. Foi devastador o cenário deixado pela expertise dos militares. 

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 O desprezo pela História nos lançou em uma crescente antidemocrática que culminou na eleição de Bolsonaro. 

 Em 2019, num evento organizado na Universidade de Harvard e do MIT de Boston, o ex-Vice Presidente da República, Hamilton Mourão, declarou: "Se o nosso governo falhar, errar demais, não entregar o que tá prometendo, essa conta vai para as Forças Armadas".

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 Nos quatro anos de governo Bolsonaro, os 8 mil militares empoleirados nos cargos em Brasília, abusaram dos erros. Foi um “remember” dos anos de chumbo. Munidos de poder e de verbas ilimitadas, os militares tiveram seguidas oportunidades de demonstrar a sua "altíssima qualidade técnica". Mas, ao inverso, o que brotaram à exaustão foram escândalos que se sucederam diuturnamente desde o início do governo Bolsonaro. A cartela é vasta e inclui desde tráfico de cocaína em aviões da FAB até o ataque a outros Poderes. Estes últimos que alcançaram proporções superlativas dia 8 de janeiro, quando militantes acampados na porta dos quarteis saíram em marcha para destruir os prédios dos três poderes. 

 Durante a maior crise sanitária da história, quando o Mistério da Saúde era comandado por um general estrelado, que se jactava da expertise em logística, centenas de brasileiros morreram asfixiados no norte do país. Faltou oxigênio. O colapso e as mortes bárbaras de brasileiros escancararam a falta de planejamento, de comando, de interesse pela vida. O ministro militar acabou caindo, mas os escândalos seguiram. 

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 A CPI da Covid expôs a participação de militares no esquema de compra de vacinas, perseguindo lucros e louros não republicanos. 

 Depois soubemos das licitações nababescas para a compra de filé, picanha, cerveja, bacalhau e uísque. Isto enquanto o brasileiro se alimentava com sopa de osso.

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 Em um avanço no estado de dissociação com a realidade, a compra de 35 mil unidades de medicamento para disfunção erétil. Para coroar a distopia, foi revelado que o glorioso Exército Brasileiro tinha gastado cerca de R$ 3,5 milhões na compra de 60 próteses penianas infláveis, medindo entre 10 e 25cm cada. Inacreditável!

 Nem a mente mais inventiva conseguiria antecipar o grau de distopia que alcançaríamos no governo do capitão, o mesmo militar que quase foi expulso do Exército por atos de indisciplina e deslealdade para com seus superiores de farda. 

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 O resultado de todo o protagonismo militar no governo Bolsonaro é o descrédito das forças armadas. Pesquisa realizada em 2021 pelo Poder Data constatou que para 52% dos brasileiros, a participação de militares no governo e na política era prejudicial ao país.  A profecia de Hamilton Mourão se cumpriu, a conta caiu no colo das Forças Armadas. Talvez isso explique o “meia volta volver" dos fardados que este ano resolveram não comemorar o aniversário do golpe militar de 1964. Melhor assim, que nossas Forças Armadas se convençam de uma vez por todas da necessidade de se manterem "dentro das quatro linhas" de sua missão constitucional: assegurar a integridade do território nacional; defender os interesses e os recursos naturais, industriais e tecnológicos. 

 É sempre bom lembrar da frase de Ulisses Guimarães quando da promulgação da Constituição Cidadã: "Traidor da Constituição é traidor da pátria. (...) Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo. Amaldiçoamos a tirania onde quer que ela desgrace homens e nações."

 Ditadura nunca mais!

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