A prepotência e o despreparo na Lava Jato, que levaram procuradora a chamar Dilma de "burra"

Novas mensagens mostram articulação para constranger a ex-presidente no primeiro depoimento que ela prestaria a Moro, como testemunha de Aldemir Bendine

(Foto: ABr)


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A prepotência dos integrantes da Lava Jato era tão grande que, um dia antes do depoimento de Dilma Rousseff a Sergio Moro, em outubro de 2017, os procuradores da república discutiram se deveriam pedir a "contradita" da ex-presidente e um deles a chamou de "burra". Eles queriam constranger Dilma, já que, na condição de depoente contraditada, ela poderia ficar em silêncio e estaria desobrigada de assumir o compromisso de dizer a verdade. Uma das procuradoras do grupo Filhos de Januário 2, Laura Tessler, disse que era melhor deixar a ex-presidente depor como testemunha mesmo.

"E do jeito que ela é burra, é capaz até de se atrapalhar com o discurso ensaiado e acabar entrando em contradição", afirmou a procuradora, conforme o chat acessado pelo hacker Walter Delgatti Neto e arquivado no computador dele, apreendido pela Polícia Federal na operação Spoofing.

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O comentário de Laura Tessler foi em resposta ao procurador Athayde Ribeiro Costa. "Pessoal, amanhã temos depoimento da Dilma na ação do Bendine. Conversando c Deltan surgiu a ideia de fazer uma contradita com o objetivo de evidenciar que o depoimento dela não possui credibilidade e para q a versão dela não ecoe com força. O q acham?", perguntou o procurador.

Além de ofender Dilma, a procuradora Laura Tessler comentou: "Não sei...a contradita será indeferida certamente. Pode parecer que temos medo do que ela pode dizer e que, por isso, estaríamos tentando afastar o depoimento. Salvo engano, nunca contraditamos outras testemunhas de defesa. Adotar procedimento diverso com a Dilma pode ser lido de forma negativa."

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Deltan Dallagnol explica por que não atenderia aos argumentos de Laura Tessler: "Acho que a contradita desestabiliza. E deixaria claro que a contradita não tem objetivo de impedir depoimento mais sim de questionar sua credibilidade."

A conversa entre os procuradores foi no dia 26 de outubro e mostra o baixo nível deles e o ambiente pesado em que trabalhavam, na prática liderados por Sergio Moro. Sete meses antes, o então juiz havia vetado Laura Tessler para representar o Ministério Público Federal nas audiências da 13a. Vara Federal em Curitiba.

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"Prezado, a colega Laura Tessler de vcs é excelente profissional, mas para inquirição em audiência, ela não vai muito bem. Desculpe dizer isso, mas com discrição, tente dar uns conselhos a ela, para o próprio bem dela. Um treinamento faria bem. Favor manter reservada essa mensagem", disse Moro a Deltan Dallagnol.

O coordenador da força-tarefa garante o sigilo e compartilha a mensagem com o veterano Carlos Fernando dos Santos Lima. Os dois combinam uma reunião com os procuradores e sugerem substituir Laura Tessler por Júlio Noronha e Roberson Pozzobon. E são justamente estes dois que participam do depoimento de Lula, em 10 de maio daquele ano, juntamente com Carlos Fernando.

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Dilma, que atualmente preside o Novo Banco de Desenvolvimento, o do Brics. prestou depoimento no dia 27 de outubro de 2017, como testemunha de defesa de Aldemir Bendine, que estava preso.

Ela explicou por que indicou Bendine para substituir Graça Foster na presidência da Petrobras. Foi em razão da saída repentina de Graça, do bom desempenho dele como presidente do Banco do Brasil e uma forma de não deixar um vazio na gestão da Petrobras. Dilma diz que a Lava Jato estava prejudicando as empresas.

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"Tinha uma questão que era muito grave, e não sei se ainda é. Uma delas era que as empresas que estavam sofrendo investigação da Lava Jato estavam tendo problemas na área de retomar os seus financiamentos. Isso criava para o governo um grande problema, porque essas empresas estavam comprometendo seus empregos e seus financiamentos”, afirmou.

Dois anos depois do chat em que Dilma Rousseff foi atacada, o Intercept começou a divulgar as mensagens acessadas por Delgatti, na série conhecida como Vaza Jato, e a sociedade brasileira pode, finalmente, tomar conhecimento dos abusos da força-tarefa de Curitiba.

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Era uma ação de agentes públicos arrogantes, violentos, mal preparados e muito ambiciosos, mas submissos a um juiz. O resultado é um erro judicial que está entre os maiores da história e provocou ruína econômica, com práticas que podem ser consideradas torturas, como submeter presos a condições desumanas com o objetivo de que delatassem.


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