A política externa bolsonariana
Nem os militares, durante a ditadura de 1964, foram tão obtusos a ponto de restringirem a política comercial à uma ideologia anticomunista e xenófoba: negociaram com os soviéticos e chineses
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Foi John Foster Dulles que definiu melhor o espírito da política externa norte-americana, ao dizer que um país não tem amigos, tem interesses. Interesses econômicos e estratégicos. Desde a formulação do chamado "pan-americanismo", ou a doutrina que afirma ser a América para os americanos, que os governos estadunidenses entendem que a América Latina é o quintal deles. Até a Primeira Guerra Mundial, o imperialismo inglês mandava no mundo. Depois da primeira grande guerra, os americanos tomaram a hegemonia política e econômica dos ingleses. Neste intuito, a política externa ianque varia do mero expansionismo anexionista ao unilateralismo, fazendo acordos bilaterais, com governos fracos, para afastá-los dos processos de integração regional e submetê-los à sua influência, ou pelo "soft power" ou o "hard power".
As relações externas do Brasil com os EUA mudaram muito no curso dos últimos 100 anos. Desde a cópia servil da Constituição norte-americana feita por Rui Barbosa, a mando do governo provisório em 1981, até a origem do primeiro processo de integração regional sul-americana, sob a hegemonia brasileira, houve muitos vai-e-vens nestas relações, que variam da total submissão aos interesses americanos até a afirmação internacional dos interesses nacionais do Brasil. Não é segredo para ninguém que o governo de Inácio (LULA) da Silva foi a gestão que mais avançou na direção de uma política externa independente, multicultural, pacifista e sul-sul.
Os logros e as conquistas dessa política foram muitos, entre eles: o protagonismo mundial do país na frente diplomática e o Mercosul. O Brasil conseguiu uma liderança continental que incomodou alguns de seus vizinhos. Mais importante foi a diversificação do comércio internacional brasileiro, para a venda das "commodities" agrícolas e minerais: a China, o Irã, a União Europeia e os países árabes. Nosso país avançou muito no pragmatismo comercial, firmando parcerias e acordos estratégicos para os interesses do povo brasileiro.
É absolutamente injustificável que o atual governo da República jogue por terra, em nome de um anticomunismo grosseiro e do alinhamento incondicional com o país americano do norte, todo esse acervo de realizações e avanços da política externa do Brasil. Mais ainda à luz dos interesses econômicos e comerciais que ele diz representar: o agronegócio, a bancada ruralista, a indústria brasileira, a exportação das "commodities" agrícolas ou minerais, tão importante para o equilíbrio da balança comercial brasileira.
Nem os militares, durante a ditadura de 1964, foram tão obtusos a ponto de restringirem a política comercial à uma ideologia anticomunista e xenófoba: negociaram com os soviéticos e chineses. Não que tenhamos que concordar com as palavras de Foster Dulles. Mas não se pode conduzir a política externa de um país como o nosso, com o olho na Bíblia ou na Lei de Segurança Nacional. Há objetivos estratégicos, econômicos, geopolíticos que devem guiar essa política.
E aí cabe um formidável espaço para o pragmatismo nas relações internacionais. O nosso país não é o Haiti, Porto Rico ou Panamá. É uma nação continental que tem um enorme peso na política internacional. Mas precisa ter consciência desse papel, para não se tornar mais um satélite comercial ou militar dos americanos.
Outro ponto sério dessa política isolacionista e americanofila é a aproximação política e diplomática com o Estado de israel. Está aí outra grande ameaça aos interesses do povo brasileiro. Sempre tivemos uma grande simpatia pelos povos árabes. Hipotecamos mais de uma vez o nosso apoio à causa justa e humanitária do povo palestino (que vive sob a ocupação militar israelita, por terra, mar e ar). Privilegiar o Estado judeu, nas relações diplomáticas com o Oriente Médio, em razão do apoio dos evangélicos e para agradar Donald Trump, é um equívoco de graves consequências para nós.
O país judeu muito pouco tem a oferecer ao Brasil, a não ser a tecnologia de espionagem ilegal nas terras alheias. A técnica agrícola de irrigação em terras áridas, nós já temos. A experiência dos "Kibutzim" já foi totalmente desvirtuada. Temos uma das medicinas mais modernas do mundo. Mas em compensação, os movimentos de libertação da Palestina (tanto quanto o Estado Islâmico) podem mirar o Brasil como próximo alvo, em razão do nosso alinhamento com os americanos e judeus. E perderemos o mercado das nações árabes para nossas exportações comerciais.
O Brasil tem tudo a perder e nada a ganhar com essa política comercial estreita, sectária, filoamericana e judia. E os maiores prejudicados serão os brasileiros, no final das contas. Somos um povo pacifista, miscigenado, aberto aos intercâmbios e parcerias do mundo inteiro. Não vamos nos curvar a uma seita de adoradores do satanás, nem daqui nem de fora.
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