A política de Joaquim Barbosa
Jânio Quadros fez carreira assim. Foi, assim, construindo cada momento de sua ascensão ao poder até tentar le grand finale. Deu no que deu.
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Não é incomum que cidadãos que se lançam pela primeira vez a uma aventura política eleitoral criem factoides para se distinguirem no mar de políticos já consolidados, seus possíveis adversários. Esta é uma hipótese que parece se repetir com o ministro Joaquim Barbosa. Mas é preciso fazer no timing correto, ou a manobra fica muito evidente. Como o jogador que avisa tanto que vai passar a bola para seu companheiro que o adversário já se posta para interceptar o passe.
O presidente do STF concedeu entrevista a Roberto D´Ávila. Uma entrevista que resvalou numa espécie de perfil. Joaquim Barbosa falou do estilo de música que aprecia, de literatura (é fato que se limitou a repetir o que o entrevistador citava), de seu passado e anunciou ao povo brasileiro que ainda não seria a hora de se jogar nos braços da política. O que fez bem, já que Fortuna é uma deusa que gosta de ser cortejada.
Na sequência, anunciou sua aposentadoria no final deste mês. Protagonizou, logo depois, uma das cenas mais inusitadas da instância suprema do judiciário, quando mandou seguranças retirarem um advogado da tribuna. Um de seus colegas de STF disse que nunca havia visto algo do gênero em 24 anos como ministro.
Como que cumprindo um desígnio, o presidente do Supremo informa, nesta semana, que abandonou a relatoria da Ação Penal 470, sustentando que não suportava mais a ação "política" dos advogados dos sentenciados nesta ação. Barbosa havia, antes, protocolado representação criminal contra o advogado que mandou retirar da tribuna por ter feito ameaças à sua pessoa.
A sequência que descrevi acima parece um desenho político de retirada do STF. Algo como: "saio do Judiciário para entrar para a história política". Um primeiro ministro inglês disse, uma vez, que em política o que conta não é como se entra num cargo, mas como se sai. Joaquim Barbosa desconhece a ginga política como é sobejamente conhecido. Neste quesito, está mais para zagueiro que para camisa 10. Imagino, portanto, que se a hipótese é correta – está seguindo um script político de sua saída do Judiciário – está lendo o manual correto, mas tateando na maneira de colocá-lo em prática.
Se a hipótese se confirma, o personagem deste artigo colocará em apreciação algum dos recursos apresentados pelos advogados dos sentenciados. Uma derrota previsível que reforçará seus motivos para se indignar. Contra os jogos políticos, tentará se apresentar como redentor. Jânio Quadros fez carreira assim. Era professor de português quando foi lançado a candidato por seus alunos. Diz a lenda que fez corpo mole e sua campanha teria sido planejada e financiada por seus pupilos. Foi, assim, construindo cada momento de sua ascensão ao poder até tentar le grand finale. Deu no que deu.
De zagueiro a camisa 10 é uma bela conversão.
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